Em tempos de recesso em muitos campeonatos nacionais pelo continente europeu, devido ao rigoroso inverno, fico imaginando como deve ser jogar futebol em climas extremamente adversos para a prática do esporte. Atuar sob temperaturas de 10 ou 5 graus postivos pode até ser doloroso, mas é imaginável. Porém o que vocês acham de correr atrás de uma bola com os termômetros marcando 10 ou até 30 graus negativos? Parece impensável, não é?!
Entretanto é a mais pura realidade para um clube do extremo oeste russo. Debaixo de verdadeiras tempestades de neve e lama os jogadores do Luch-Energiya Vladivostok praticam a modalidade mais popular do planeta.
O FC Luch-Energiya Vladivostok foi fundado em 1958 simplesmente como FC Vladivostok, visto que o nome "Energiya" foi incorporado após uma parceria firmada com a Dalenergo, empresa fornecedora de energia elétrica, desde 2003. Localiza-se na cidade de mesmo nome, que é capital da Primorsky Krai (Província Marítima), que fica no extremo leste russo, mais precisamente na península de Muravyov-Amursky, e que possui aproximadamente 595 mil habitantes. Além disso na cidade está o maior porto do Pacífico e é exercida forte influência coreana e chinesa dada a sua proximidade com os citados países.
Em princípio o time auri-anil disputava torneios do extremo leste da antiga União Soviética na Classe B. Disputou a competição até 1965 quando a venceu e, por conseguinte, conseguiu a promoção para a Classe A. Porém não passava desse nível, pois as ligas regionais do leste do maior país do mundo não eram reconhecidas até então pela Federação Soviética de Futebol. Tal fato só veio acontecer em 1972 e o campeonato passou a valer pelo grupo leste da Segunda Liga Soviética, equivalente à 3ª divisão nacional.
Em 1992, um ano após a dissolução da União Soviética, os clubes foram reagrupados nas diversas divisões do futebol local e o Luch Vladivostok foi designado para disputar a Primeira Liga, o 2º nível. Logo na primeira temporada o Raio, como é conhecido, venceu a disputa e pela primeira vez em sua história disputaria a Premier League russa ao longo de seus 35 anos de existência. Contudo a alegria durou pouco: na sua temporada de estréia na elite do futebol russo foi rebaixado de volta ao 2º escalão. Após 3 anos claudicantes na Primeira Liga, em 1997 foi rebaixado novamente à terceira divisão, o que levava a crer que seria o fim do sonho do desenvolvimento de seu futebol.
O soerguimento do Luch Vladivostok veio após a já citada parceria com uma empresa do ramo elétrico em 2003, quando ainda perambulava pelo grupo do leste da Segunda Liga. Nesta mesma temporada, com o aporte financeiro da Dalenergo, conseguiu conquistar o título da competição e retornou à segunda divisão do futebol russo.
Na temporada 2005, finalmente, o retorno à principal divisão nacional. Em 2008, após 3 anos disputando o certame, sua empresa principal patrocinadora anunciou estar passando por dificulades financeiras, o que atingiu diretamente o rendimento do clube, que precisou rapidamente negociar seus principais nomes, culminando com o rebaixamento na última colocação.
Entretanto a força maior da equipe não estava concentrada especificamente em algum de seus principais jogadores, como o atacante Yuri Rodenkov, o meia ucraniano Denys Dedechko (atual artilheiro da temporada), ou o zagueiro croata Matija Kristić, mas sim em seu estádio, o Dynamo, com capacidade para 10.500 pessoas. Não por se tratar de um caldeirão, mas pelo fato de estar a impressionantes 6.430 km de distância da capital Moscou, ou 7h horas de vôo, ou 15 horas de trem pela ferrovia Trans-Siberiana, traduzindo-se em escala de tempo. Para se ter uma boa noção, a distância entre os extremos norte e sul do Brasil (Caburaí-Chuí) é de 4.394 km. Ou seja, a distância de Moscou a Vladivostok é superior em mais de 2000 km aos pontos extremos brasileiros. Pior: se o Luch-Energiya disputasse a Liga dos Campeões e um clube de Lisboa (a capital européia mais a oeste) fosse enfrentá-lo teria de percorrer nada mais, nada menos que espantosos 10.100 km! Tamanha é a dificuldade em se deslocar para a Província Maritima que o goleiro Igor Akinfeev, do CSKA Moscou, certa vez declarou que seria melhor o clube local disputar a Liga Japonesa devido à proximidade do Japão (1050 km). Na ocasião sua equipe foi derrotada por 4 a 0 e teve que enfrentar 14h de vôo (7h de ida e volta).
Mas não é só a distância que atrapalha os adversários do Raio. As temperaturas quase polares são também uma grande barreira a ser enfrentada. Em Primorsky Krai a média térmica anual é de míseros 4,3ºC, chegando a colossais -13ºC nos mês de janeiro - em certos dias os termômetros indicam incríveis 30 graus negativos! Literalmente os times que vão enfrentar o Vladivostok entram na maior fria do planeta! Um detalhe: existem outros clubes que jogam sob temperaturas mais extremas que essa, porém são amadores. O também russo FC Fakel-ShVSM Yakutsk por exemplo, da cidade de Yakutsk, capital da República de Sakha, chega a atuar sob temperaturas abaixo de abissais quase 40 graus abaixo de zero!
Na atual temporada a equipe terminou na modestíssima 14ª colocação da Primeira Liga com 50 pontos ganhos - 25 a menos que o campeão Anzhi. Em termos de títulos, o Luch-Energiya também está numa gelada - apenas conquistas nas divisões inferiores do futebol russo.
Abaixo, dados e estatísticas do time que joga numa eterna fria.
FC LUCH-ENERGIYA VLADIVOSTOK (Футбольный клуб "Луч-Энергия" Владивосток em russo)
* Fundação: 1958
* Localização: Vladivostok/RUS
* Presidente: Anatoli Beznyak
* Estádio: Dynamo Stadium (10.500 pessoas)
* Apelido: Raio
* Treinador: Alexander Pobegalov
* Uniformes: camisas amarelas, shorts azuis e meiões amarelos (titular); camisas, shorts e meiões azuis (reserva)
* Títulos (3): Torneio do Extremo Leste Russo "Classe B" (1965), Primeira Liga Russa (1992) e Segunda Liga Russa (2003)
* Maior artilheiro: Victor Lukyano (100 gols)
* Jogador que mais vezes vestiu a camisa do clube: Victor Lukyano (mais de 400 partidas - números não exatos em 19 temporadas)
Escudo: arquivo pessoal
Foto 1: Site oficial do FC Luch-Energiya Vladivostok
Foto 2: Tribnet
Entretanto é a mais pura realidade para um clube do extremo oeste russo. Debaixo de verdadeiras tempestades de neve e lama os jogadores do Luch-Energiya Vladivostok praticam a modalidade mais popular do planeta.
O FC Luch-Energiya Vladivostok foi fundado em 1958 simplesmente como FC Vladivostok, visto que o nome "Energiya" foi incorporado após uma parceria firmada com a Dalenergo, empresa fornecedora de energia elétrica, desde 2003. Localiza-se na cidade de mesmo nome, que é capital da Primorsky Krai (Província Marítima), que fica no extremo leste russo, mais precisamente na península de Muravyov-Amursky, e que possui aproximadamente 595 mil habitantes. Além disso na cidade está o maior porto do Pacífico e é exercida forte influência coreana e chinesa dada a sua proximidade com os citados países.
Em princípio o time auri-anil disputava torneios do extremo leste da antiga União Soviética na Classe B. Disputou a competição até 1965 quando a venceu e, por conseguinte, conseguiu a promoção para a Classe A. Porém não passava desse nível, pois as ligas regionais do leste do maior país do mundo não eram reconhecidas até então pela Federação Soviética de Futebol. Tal fato só veio acontecer em 1972 e o campeonato passou a valer pelo grupo leste da Segunda Liga Soviética, equivalente à 3ª divisão nacional.
Em 1992, um ano após a dissolução da União Soviética, os clubes foram reagrupados nas diversas divisões do futebol local e o Luch Vladivostok foi designado para disputar a Primeira Liga, o 2º nível. Logo na primeira temporada o Raio, como é conhecido, venceu a disputa e pela primeira vez em sua história disputaria a Premier League russa ao longo de seus 35 anos de existência. Contudo a alegria durou pouco: na sua temporada de estréia na elite do futebol russo foi rebaixado de volta ao 2º escalão. Após 3 anos claudicantes na Primeira Liga, em 1997 foi rebaixado novamente à terceira divisão, o que levava a crer que seria o fim do sonho do desenvolvimento de seu futebol.
O soerguimento do Luch Vladivostok veio após a já citada parceria com uma empresa do ramo elétrico em 2003, quando ainda perambulava pelo grupo do leste da Segunda Liga. Nesta mesma temporada, com o aporte financeiro da Dalenergo, conseguiu conquistar o título da competição e retornou à segunda divisão do futebol russo.
Na temporada 2005, finalmente, o retorno à principal divisão nacional. Em 2008, após 3 anos disputando o certame, sua empresa principal patrocinadora anunciou estar passando por dificulades financeiras, o que atingiu diretamente o rendimento do clube, que precisou rapidamente negociar seus principais nomes, culminando com o rebaixamento na última colocação.
Entretanto a força maior da equipe não estava concentrada especificamente em algum de seus principais jogadores, como o atacante Yuri Rodenkov, o meia ucraniano Denys Dedechko (atual artilheiro da temporada), ou o zagueiro croata Matija Kristić, mas sim em seu estádio, o Dynamo, com capacidade para 10.500 pessoas. Não por se tratar de um caldeirão, mas pelo fato de estar a impressionantes 6.430 km de distância da capital Moscou, ou 7h horas de vôo, ou 15 horas de trem pela ferrovia Trans-Siberiana, traduzindo-se em escala de tempo. Para se ter uma boa noção, a distância entre os extremos norte e sul do Brasil (Caburaí-Chuí) é de 4.394 km. Ou seja, a distância de Moscou a Vladivostok é superior em mais de 2000 km aos pontos extremos brasileiros. Pior: se o Luch-Energiya disputasse a Liga dos Campeões e um clube de Lisboa (a capital européia mais a oeste) fosse enfrentá-lo teria de percorrer nada mais, nada menos que espantosos 10.100 km! Tamanha é a dificuldade em se deslocar para a Província Maritima que o goleiro Igor Akinfeev, do CSKA Moscou, certa vez declarou que seria melhor o clube local disputar a Liga Japonesa devido à proximidade do Japão (1050 km). Na ocasião sua equipe foi derrotada por 4 a 0 e teve que enfrentar 14h de vôo (7h de ida e volta).
Mas não é só a distância que atrapalha os adversários do Raio. As temperaturas quase polares são também uma grande barreira a ser enfrentada. Em Primorsky Krai a média térmica anual é de míseros 4,3ºC, chegando a colossais -13ºC nos mês de janeiro - em certos dias os termômetros indicam incríveis 30 graus negativos! Literalmente os times que vão enfrentar o Vladivostok entram na maior fria do planeta! Um detalhe: existem outros clubes que jogam sob temperaturas mais extremas que essa, porém são amadores. O também russo FC Fakel-ShVSM Yakutsk por exemplo, da cidade de Yakutsk, capital da República de Sakha, chega a atuar sob temperaturas abaixo de abissais quase 40 graus abaixo de zero!
Na atual temporada a equipe terminou na modestíssima 14ª colocação da Primeira Liga com 50 pontos ganhos - 25 a menos que o campeão Anzhi. Em termos de títulos, o Luch-Energiya também está numa gelada - apenas conquistas nas divisões inferiores do futebol russo.
Abaixo, dados e estatísticas do time que joga numa eterna fria.
FC LUCH-ENERGIYA VLADIVOSTOK (Футбольный клуб "Луч-Энергия" Владивосток em russo)
* Fundação: 1958
* Localização: Vladivostok/RUS
* Presidente: Anatoli Beznyak
* Estádio: Dynamo Stadium (10.500 pessoas)
* Apelido: Raio
* Treinador: Alexander Pobegalov
* Uniformes: camisas amarelas, shorts azuis e meiões amarelos (titular); camisas, shorts e meiões azuis (reserva)
* Títulos (3): Torneio do Extremo Leste Russo "Classe B" (1965), Primeira Liga Russa (1992) e Segunda Liga Russa (2003)
* Maior artilheiro: Victor Lukyano (100 gols)
* Jogador que mais vezes vestiu a camisa do clube: Victor Lukyano (mais de 400 partidas - números não exatos em 19 temporadas)
Escudo: arquivo pessoal
Foto 1: Site oficial do FC Luch-Energiya Vladivostok
Foto 2: Tribnet
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