segunda-feira, 24 de junho de 2013

PRÊMIO BELFORD DUARTE, O "FAIR PLAY" BRASILEIRO


Belford Duarte: o exemplo de Fair Play brasileiro que virou prêmio




Vimos no útlimo fim de semana a esperada eliminação da simpática seleção do Taiti da Copa das Confederações após mais uma goleada sofrida, desta vez para os uruguaios por 8 a 0 - totalizando 24 gols tomados em 3 partidas. Entretanto, um prêmio de "consolação" estava em disputa para os taitianos: o Fair Play da FIFA, cujo vencedor é a equipe mais disciplinada de uma competição organizada por ela. No caso os polinésios não haviam tomado um cartão sequer durante o torneio, contudo, na partida diante do Uruguai, o zagueiro Ludivion acabou tomando dois amarelos e, consequentemente, o vermelho, deixando em aberto a disputa pelo mérito.

Aqui no Brasil um prêmio nos moldes do Fair Play da FIFA existe desde os anos 40, mais precisamente 1945: o Belford Duarte. Tal honraria no princípio era destinada ao jogador de futebol, seja profissional ou amador, que em suas carreiras (com pelo menos duzentas partidas oficiais em 10 anos) não tivesse sido expulso. A premiação, concedida pela então CND (hoje CBF) consistia em uma medalha de prata (para os atletas profissionais) ou ouro (para os amadores), um diploma e uma carteira que dava acesso aos estádios brasileiros gratuitamente em dias de jogos. Em 1981 a concessão foi suspensa e só voltou a acontecer em 1995.

Mas aí você pode estar me perguntando: e quem foi Belford Duarte? E o blog responde: João Evangelista Belford Duarte foi um ex-jogador de futebol, treinador e dirigente nascido em São Luís/MA em 27 de novembro de 1883. Em 1898, já em São Paulo, estudava na universidade Mackenzie, onde junto com alguns colegas ajudou a fundar a Associação Atlética Mackenzie College, primeiro time do país a ser criado exclusivamente por brasileiros. Jogou várias partidas pelo clube como meiocampista, tendo inclusive participado da primeira partida oficial por um torneio da história do Brasil em 1902, quando o Mackenzie enfrentou o Germânia e venceu por 2 a 1 pelo Campeonato Paulista. 

Aos 24 anos de idade, em 1907, Belford Duarte mudou-se com a família para o Rio de Janeiro onde passou a atuar no America (escreve-se sem acento mesmo, pois em seu estatuto, à época de sua fundação em 1904, consta que sua grafia origina-se do inglês). Logo apaixonou-se pelo clube carioca e não só encerrou sua carreira lá em 1915, onde ganhou o estadual de 1913, mas como também tornou-se treinador, tesoureiro e diretor. Tamanha era sua influência no clube fluminense que mudou suas cores originais preta e branca para as atuais vermelho e branco em 1908 ainda como jogador em homenagem ao time que ajudou a fundar em São Paulo.

Era conhecido por sua extrema polidez e simpatia para com as pessoas, além da lealdade dentro de campo, sendo jamais sequer advertido por alguma entrada mais dura nos colegas de campo. Daí seu nome estampado na premiação aos atletas disciplinados do esporte. Pregava o respeito e a honestidade dentro das quatro linhas, chegando ao ponto de se auto denunciar em lances irregulares cometido por ele próprio quando a arbitragem não os marcava. Também era bastante exigente e disciplinador, ao ponto de não aceitar que seus companheiros (enquanto jogador) ou subordinados (enquanto treinador e dirigente) exagerassem na vida extra-campo. Não permitia jogadores que bebessem ou fumassem fizessem parte dos quadros America. Não à toa era o capitão de sua equipe durante o período em que jogava.

Até o fim da vida Belford Duarte percorreu o Brasil para divulgar o nome do seu clube do coração e foi inspiração para os diversos "Américas" existentes pelo país até os dias atuais. Faleceu em 1918, em seu sítio nas redondezas do município de Resende, curiosamente no dia do seu 35º aniversário, assassinado devido à conflitos de terra.

O prêmio Belford Duarte originalmente era concedido aos atletas que tivessem os pré-requisitos já citados, mas que poderiam estar na ativa. Tal condição foi alterada em 1995 premiando apenas os "aposentados" para evitar que um jogador que tivesse recebido a premiação fosse expulso depois, como aconteceu com o lateral-esquerdo Everaldo, campeão do mundo com o Brasil em 1970, que poucos meses após ser condecorado agrediu um árbitro e foi suspenso dos gramados por um ano.

Alguns jogadores consagrados receberam o prêmio Belford Duarte, tais como os ex-atacantes Vavá e Evaristo de Macedo, os ex-goleiros Félix, Castilho e Gilmar, o ex-meia Didi e os ex-pontas Pepe e Telê Santana. A partir de 2008 a Rede Globo passou a organizar a premiação destinada aos jogadores mais disciplinados do Campeonato Brasileiro. 

Abaixo, dados e estatísticas de Belford Duarte, o sinônimo de Fair Play do futebol brasileiro.


* Nome: João Evangelista Belford Duarte

* Nascimento: 27/11/1883 em São Luís/MA

* Falecimento: 27/11/1918 em Resende/RJ

* Posição: meio-campo

* Clubes como jogador (2): Mackenzie/SP (1898 a 1906) e America/RJ (1907 a 1915)

* Título como jogador (1): Campeonato Carioca (1913)

* Clube como treinador (1): America/RJ (data imprecisa, talvez 1915)

* Títulos como treinador: nenhum



Foto: Autor desconhecido

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