quarta-feira, 28 de novembro de 2007

A FOLHA SECA



Didi e sua "Folha Seca": indefensável




Na nossa terceira enquete perguntamos quem foi o inventor do famoso chute “Folha seca”. As opções eram o ex-cruzeirense Nelinho, o ex-botafoguense Didi, o ex-flamenguista Zizinho e o ex-corintiano Rivelino. Ao todo foram 25 votos, sendo 2 (8%) para Nelinho, 12 para Didi (49%), 1 para Zizinho (4%) e 10 para Rivelino (39%).

Mais uma vez parabenizo os leitores, pois continuam bem informados. O meia Didi inventou o “Folha seca” na década de 50. Entre os outros apenas o atacante Rivelino tinha um chute com nome peculiar: a “Patada atômica”. De antemão agradeço mais uma vez a todos que participaram e já os convido para responderem à nova pergunta proposta.

Hoje em dia o futebol se notabiliza muitas vezes por alguns jogadores que têm extrem facilidade em bater faltas com perfeição. Num passado distante tivemos o húngaro Puskas, o próprio Didi e o ponta-esquerda santista Pepe. Em um tempo mais recente tivemos Zico, Hagi, Rivelino, Nelinho, Neto e Marcelinho Carioca. Na atualidade o mundo admira os chutes precisos de David Beckahm, Rogério Ceni, Dejan Petkovic, entre outros. Mas pouco nesse assunto foram tão ilustres quanto Didi.

Waldir Pereira nasceu na cidade de Campos dos Goytacazes, no estado do Rio de Janeiro, em 08 de outubro de 1929. Como era de se esperar, cresceu jogando bola com os amigos na escola e na rua onde morava. Entretanto, com 14 anos, quase o mundo perdia de ver um de seus grandes gênios da bola em todos os tempos. Sofreu uma grave contusão no joelho durante uma pelada, na qual resultou em uma infecção que quase lhe custou a amputação de sua perna.

Totalmente recuperado, aos 16 anos de idade começou sua carreira nas categorias de base do São Cristóvão. Dois anos mais tarde estava atuando profissionalmente pelo Americano de Campos, depois seguiu para o Lençoense e para o Madureira. Mas o primeiro passo de seu grande futebol aconteceria no Fluminense, seu time de coração, para onde rumou em 1946 e por lá ficou 10 anos, sendo considerado até hoje como um dos maiores jogadores que vestiram a camisa do tricolor carioca. Foi também onde conquistou seu primeiro título como profissional em 1951: o Campeonato Carioca. Pelo clube das Laranjeiras foram 298 jogos e 91 gols, uma boa média para quem jogava no meio-campo àquela época.

Em 1957 assinou contrato com o rival Botafogo e, ao lado de outros grandes nomes como Nilton Santos, Garrincha, Zagallo, Gérson, Amarildo e Quarentinha, formou um dos mais fortes planteis da história do futebol brasileiro. Pela equipe alvinegra foram 313 partidas e 113 gols marcados durante 7 anos, mais uma estupenda média. Com suas exuberantes apresentações e com o campeonato mundial com a Seleção Brasileira, em 1958, surgiu o convite do poderoso Real Madrid de Puskas, Di Stéfano e companhia. Na Espanha foram menos de 2 anos e nenhum título (1959 e 1960), mas o suficiente para deixar uma ótima marca de 58 jogos e 31 gols. Voltou ao Botafogo em 1960 para dar seguimento à sua brilhante carreira e conquistar mais títulos. Em 1962, após a Copa, parou de jogar, mas retornou em 1963 aos gramados para treinar e jogar pelo Veracruz, do México, até 1966. Depois, seguiu para o São Paulo onde se aposentou definitivamente no mesmo ano com a idade de 38.

Pela Seleção Brasileira foram 74 jogos e 21 gols, tendo estreado em 06 de abril de 1952 na vitória sobre o México por 2 a 0. Disputou o Pan-americano de 1954 e 3 Copas do Mundo - 1954, 58 e 62 – sagrando-se bicampeão nas duas últimas edições.

Pela sua elegância e toque de bola refinado ganhou o apelido de “Príncipe Etíope”. Também ficou bastante conhecido por ter sido o autor do primeiro gol do estádio do Maracanã, em 1950, na derrota do combinado carioca diante do paulista por 2 a 1. Mas seu grande feito foi ter imortalizado o famoso chute “Folha Seca” (1ª foto), que atualmente recebe também o nome de “trivela”, que nada mais é do que um fortíssimo chute com a parte externa do pé. Quando a bola vai se aproximando do gol começa a descair como uma folha seca em época de outono enganando completamente o goleiro. Essa invenção se deu no ano de 1956 numa partida entre o seu então clube Fluminense e o América/RJ pelo Campeonato Carioca.

Como curiosidade cumpriu uma promessa inusitada no ano de 1957, quando conquistou o título estadual pelo Botafogo: atravessou toda a cidade do Rio de Janeiro a pé como forma de agradecimento. Além de um craque em campo, Didi também era um líder nas equipes em que atuava. Ficará marcado para sempre o seu gesto na final da Copa de 1958. Após os suecos abrirem o placar, ele foi buscar a bola no fundo do gol brasileiro e saiu caminhando lentamente para o meio de campo, conversando, dando moral aos companheiros. Para muitos jogadores, o gesto foi fundamental para que o Brasil virasse a partida e conquistasse o seu primeiro título mundial.

Após o fim de sua trajetória dentro dos campos começava outra fora das 4 linhas como treinador. Como técnico teve passagens por vários clubes, como Fluminense, Botafogo, Cruzeiro, Bangu, River Plate/ARG, Fenerbahçe/TUR, Alianza Lima/PER, entre outros. Conquistou diversos títulos, dentre eles 5 vezes campeão turco e 3 como campeão peruano. Treinou ainda a seleção peruana, tendo classificado o país à Copa do Mundo de 1970 e perdendo justamente para o Brasil nas quartas-de-final por 4 a 2.

O Príncipe Etíope abandonou definitivamente o futebol em 1987 após uma operação na coluna. Em 12 de maio de 2001, Didi, então com 72 anos, faleceu decorrente de problemas cardíacos. Um ano antes havia entrado no Hall da Fama da FIFA, que tem entre outros gênios da bola como Beckenbauer, Cruyjff, Pelé e Platini. Deixou como legado uma das mais vitoriosas carreiras, seja como o jogador que participou de duas das maiores seleções de todos os tempos, seja como o treinador de importantes conquistas internacionais.

Abaixo dados e estatísticas do “Folha Seca”:


Nome: Waldir Pereira.

Nascimento: 08 de outubro de 1929, em Campos/RJ.

Posição: Meio-campo.

Apelidos: Didi, Folha Seca e Príncipe Etíope

Clubes como jogador (8): São Cristóvão (categorias de base – 1943), Americano/RJ (1945), Lençoense/RJ (1945), Madureira/RJ (1945), Fluminense/RJ (1946 – 1956), Botafogo/RJ (1957 – 1959 e 1961 - 1962), Real Madrid/ESP (1959 – 1960), Vera Cruz/MEX (1963 – 1966) e São Paulo/SP (1966).

Títulos como jogador (7): Campeão carioca (1951, 1957, 1961 e 1962), Torneio Rio-São Paulo (1962 – Botafogo/RJ), Campeão mundial (1958 e 1962 – Seleção Brasileira).

Clubes/seleções como treinador (11): Sporting Cristal/PER (1962, 1967 - 1969), Vera Cruz/MEX (1963, 1964 – 1966), Seleção Peruana (1969 – 1970), River Plate/ARG (1971 - 1972), Fenerbahçe/TUR (1972 – 1975), Fluminense/RJ (1975), Cruzeiro/MG (1977), Ah-Ahli/ASA (1978 - 1980), Botafogo (1981), Alianza Lima/PER (1986) e Bangu (1987).

Títulos como treinador (10): Campeão Peruano ( 3 – 1962, 1968 e 1969), Campeão Turco ( 3 – 1972 – 1975), Copa do Rei da Arábia Saudita (3 – 1978 – 1980) e Copa do Golfo (1980).

Seleção Brasileira: 74 jogos e 21 gols.



Foto 1: Arquivo Botafogo F.R.
Foto 2: FAPESP

2 comentários:

Anônimo disse...

Ola, Carlos.
Gosto imenso de ver o teu blog. É instrutivo e bom de ler, sem firulas.
Se, e somente se, puderes leia este trecho: "Espero que este espaço possa desvendar todas as suas dúvidas e curiosidades a respeito da história do futebol." Não acha que 'todas' é demasiado pretencioso? Há uma máxima que ensina é não sermos extremistas, mas a escolha é sempre nossa. Suerte.

Carlos Henrique disse...

Prezado Anônimo,

Obrigado pela visita e pelos elogios. Realmente sua sugestão faz sentido, pois ninguém no mundo detém o conhecimento de tudo. Valeu o toque e volte sempre!

Carlos Henrique