segunda-feira, 12 de novembro de 2007

O MAJOR GALOPANTE



Puskas: o Major Galopante do esquadrão do futebol




Na nossa terceira enquete foi perguntado que jogador ficou conhecido como “Major Galopante”. A disputa foi acirrada entre dois ex-jogadores. Participaram 33 leitores, que deram 14 votos (43%) para o húngaro Férenc Puskas, 13 (39%) para o uruguaio Obdúlio Varela, 05 (15%) para o brasileiro Leônidas da Silva e 01 voto (3%) para o alemão Franz Beckenbauer. Agradeço desde já a todos que participaram e já convidando-os para responderem à nova enquete.

Mais uma vez afirmo que os visitantes estão por dentro da história do futebol – o ex-atacante magiar Férenc Puskas era o dono da alcunha de “Major Galopante”, cujo motivo veremos mais adiante nesta postagem. Nessa semana, mais precisamente no dia 17, se completará 1 ano de sua morte.

Como curiosidade, o zagueiro uruguaio Obdúlio Varela recebeu o apelido de “El Gran Capitán” (O Grande Capitão) devido à sua grande capacidade de liderança e superação dentro de campo, notadamente na final da Copa de 1950 diante do Brasil. Já o atacante brasileiro Leônidas da Silva ficou famoso na década de 30 pelo nome de “Diamante Negro”, tanto que uma empresa do ramo de chocolates o usa na venda de um determinado tipo do doce até os dias de hoje. Por fim, o líbero alemão Franz Beckenbauer recebeu o título de “Kaiser”, nas décadas de 70 e 80, que nada mais é que “Imperador” na língua germânica.

Purczeld Férenc Biró, ou simplesmente Férenc Puskas, nasceu em Budapeste, Hungria, no dia 02 de abril de 1927. Criou-se na cidade vizinha de Kispest, onde como todo menino gostava de jogar futebol com seus amigos na rua. Seu pai, Férenc Purczeld, também era jogador de futebol e atuava como zagueiro no Kispest AC na década de 30.

Puskas começou sua carreira muito jovem, aos 12 anos, justamente no Kispest, onde seu pai era o treinador. Ali começava a ser trilhado seu brilhante destino ao lado de outro grande jogador da história do futebol húngaro: József Bozsik. Fez sua primeira partida no time principal do Kispest em 21 de novembro de 1943, aos 16 anos, diante do Nagyvared. Mesmo garoto começava a chamar a atenção por sua magistral habilidade e força com a perna esquerda, apesar de seu corpo “atarracado” e seu constante excesso de peso.

Entretanto, naquele mesmo ano, o Ministério da Defesa da Hungria tomou o controle do Kispest, que, a partir de então, ficou sendo o time oficial do exército húngaro sob o nome de Kispest-Honvéd. Com o recrutamento dos melhores jogadores húngaros da época por parte do exército, começou a surgir uma das grandes potências futebolísticas de todos os tempos, o fabuloso time do Kispest-Honvéd, formador de gênios como o próprio Férenc Puskas, Jozsef Bozsik, Zoltán Czibor e Sándor Kocsis. E pelo fato estarem atuando no time militar, todos os jogadores receberam patentes de oficiais. Puskas, como líder do grupo, foi ordenado major, daí seu apelido de Major Galopante.

Foram 13 anos no clube húngaro, com 5 títulos nacionais e 4 artilharias, sendo que na sua primeira temporada como goleador máximo do Campeonato Húngaro (1947/48) marcou “meros” 50 gols, recorde que lhe estabeleceu o título de maior artilheiro europeu daquele ano. Ao todo, foram inacreditáveis 358 gols em 349 jogos pelo Kispest-Honvéd. Em 1956 aconteceu uma grande guinada na vida do Canhãozinho Pum (outro apelido de Puskas devido ao seu potente chute): sua equipe participava da Copa dos Campeões Europeus (atual Liga dos Campeões) e teria pela frente o Athletic Bilbao, da Espanha. Na primeira partida, em território espanhol, os bascos venceram por 3 a 2. Porém, antes do jogo de volta, estourou a Revolução Húngara em Budapeste. A maioria dos jogadores do Honvéd recusou-se a voltar ao país, entre eles Puskas, e a partida de volta aconteceu em Bruxelas, no estádio Heisel. O resultado foi de empate: 3 a 3, configurando-se na desclassificação do clube húngaro.

Após a eliminação do torneio houve uma grande dispersão de jogadores pela Europa, com exceção de Bozsik, que resolveu voltar para sua terra natal. Puskas, juntamente com Czibor e Kocsis seguiram com o que sobrou do time do Honvéd em excursão por Itália, Portugal, Espanha e Brasil. No ano de 1957, em terras brasileiras, a torcida local teve a honra de acompanhar em campo as atuações de Puskas e companhia em 4 ocasiões: 2 vezes contra o Flamengo, e uma contra o Botafogo e um combinado carioca do Flamengo e do Botafogo, todos no Maracanã. Mas quem esperava um show dos húngaros presenciou um baile rubro-negro no primeiro confronto: 6 a 4. Na partida, o “Major Galopante” deixou dois gols. Depois foi a vez dos botafoguenses, que dessa vez viram a ira magiar e saíram derrotados por 4 a 2, com 1 gol de Ocsi (“irmão mais novo” em húngaro, outro apelido de Puskas). Depois foi a hora da revanche contra os flamenguistas: Honvéd 3 a 2 – Puskas saiu em branco desta partida. Por fim, o combinado carioca lavou a alma brasileira e aplicou-lhe uma sonora goleada de 6 a 2, com o capitão húngaro marcando os únicos gols da equipe européia.

De volta à Europa, Férenc Puskas chegou a ser sondado pelos italianos Milan e Juventus. Contudo, a FIFA aplicou-lhe uma punição de 2 anos sem atuar profissionalmente devido à sua recusa em retornar para a Hungria juntamente com a equipe do Kispest-Honvéd. Depois de cumprida a pena, Puskas teve muita dificuldade em arranjar um clube para jogar devido ao seu longo período inativo, fazendo com que não estivesse na plenitude de sua forma física. Certamente se arrependeram depois.

Puskas acertou com o Espanyol, de Barcelona, alguns jogos não-oficiais a fim de manter a forma enquanto não assinava com nenhum clube. Com boas atuações, mesmo estando totalmente fora de seu peso ideal, o poderoso Real Madrid o contratou em 1958 apostando em seu talento. Não se arrependeram.

A partir daí veio a grande fase de Férenc Puskas, que veio consagrá-lo definitivamente como uma das maiores lendas da história do futebol mundial. Fez história no Real ao lado de outros grandes jogadores como Alfredo Di Stéfano, Raymond Kopa, Francisco Gento, José Santamaria e Héctor Rial. Para quem duvidava de sua capacidade, logo em sua primeira temporada em Madrid marcou 4 hat-tricks (3 gols em uma partida). No time madrilenho, Puskas jogou 180 vezes e chegou à impressionante marca de 156 gols – sempre marcando 20 ou mais gols em todas as 8 temporadas na Espanha. Foram 5 títulos espanhóis (um pentacampeonato), 3 Copas Européias, um título mundial interclubes e uma Copa del Generalísimo. O ex-atacante ainda consagrou-se Pichichi (artilheiro do Campeonato Espanhol) em 4 oportunidades. Sua grande atuação pelos Merengues foi na decisão da Copa dos Campeões Europeus de 1960, diante do alemão Eintracht Frankfurt, quando marcou 4 dos 7 gols da goleada de 7 a 3. Encerrou sua brilhante carreira de jogador em 1966, aos 39 anos.

Pela Seleção Húngara, Puskas atuou em 85 ocasiões, com 84 gols marcados (média impressionante de quase 1 gol por partida). Estreou com os magiares em 20 de agosto de 1945, diante da Áustria, com vitória de 5 a 2. Ao lado de nomes como Grosics, Kubala, Czibor, Hidegkuti, Bozsik, Lantos e Budai, Puskas capitaneou um verdadeiro esquadrão que assombrou o mundo da bola nas décadas de 40 e 50, e que chegou a ficar 32 partidas invictas. Os húngaros vieram para a Copa do Mundo de 1954 como grandes favoritos ao título, após a conquista da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Helsinki, na Finlândia, 2 anos antes, e pelas impiedosas goleadas impostas aos ingleses, no ano de 1953, em 2 amistosos (7 a 1 em Budapeste e 6 a 3 em pleno Wembley). Poucos esperavam que aquele grande selecionado fosse perder para os alemães na final, na Suíça, por 3 a 2, naquela que é considerada por muitos como uma das maiores injustiças do futebol em todos tempos, dando fim a uma geração dourada da seleção da Hungria. Na Copa de 1962, no Chile, uma curta passagem pela seleção espanhola de 4 jogos e nenhum gol pôs um ponto final na carreira internacional de Puskas.

Após encerrar sua passagem dentro dos gramados, o Esquerda de ouro (mais um de seus carinhosos apelidos) seguiu a carreira de treinador com algum sucesso. Entre vários clubes, treinou o AEK Atenas e o Panathinaykos, ambos da Grécia, o chileno Colo Colo, o paraguaio Cerro Porteño, entre outros clubes do mundo árabe, da Oceania, equipes de médio e baixo escalão na Europa, África e América do Norte e a Seleção Húngara. Seu grande triunfo como técnico foi o vice-campeonato europeu com o Panathinaykos, em 1971, um feito grandioso considerando-se a pouca tradição do time grego em campeonatos continentais.

Puskas saiu definitivamente do mundo do futebol aos 66 anos, em 1993. Em 2000 começou a sentir os primeiros sintomas do Mal de Alzheimer, problema que o levaria à morte no ano passado. É considerado por grande parte da imprensa mundial como o maior jogador europeu de todos os tempos, e é o grande ídolo da história da Hungria. Antes mesmo de seu falecimento, o governo húngaro rebatizou o Népstadion, maior estádio de futebol de Budapeste, como Stadium Puskas Férenc, como forma de homenagear o homem que elevou o nome da Hungria ao máximo degrau possível que um desportista pode conseguir. Seu funeral, que durou uma semana inteira, teve honras de chefe de estado e contou com um velório para milhares de pessoas no estádio que leva seu nome. Seu corpo foi sepultado na Basílica de Saint Stephen, na capital húngara, onde inúmeros admiradores o visitam ininterruptamente.

Abaixo, dados e estatísticas da brilhante carreira do Major Galopante.


* Nascimento: 02 de abril de 1927, em Budapeste, Hungria.

* Apelidos: Major Galopante, Canhãozinho Pum, Ocsi, Esquerda de ouro.

* Clubes como jogador (3): Kispest (Kispest-Honvéd)/HUN (1943/56 – 358 gols em 349 jogos), Espanyol/ESP (1957) e Real Madrid/ESP (1958/66 – 156 gols em 180 jogos).

* Gols na carreira: 514 em 529 jogos.

* Seleção Húngara como jogador: 85 jogos e 84 gols entre 1949 e 1956.

* Seleção Espanhola: 4 jogos e nenhum gol em 1962.

* Títulos como jogador (16): Campeão Húngaro (5 – 1949/50, 1950/51, 1951/52, 1953/54 e 1954/55), Campeão Espanhol (5 – 1960/65), Campeão Europeu ( 3 – 1958/59, 1959/60 e 1965/66), Copa del Generalísimo (1962), Campeão mundial interclubes (1960) e Campeão olímpico (1952).

* Artilharia (8): Campeonato Húngaro (1947/48, 1949/50, 1950/51 e 1952/53) e Campeonato Espanhol (1959/60, 1960/61, 1962/63 e 1963/64).

* Clubes como treinador (13): Hércules/ESP (1967/68), Vancouver Royals/CAN (1968), Alavés/ESP (1968/69), Panathinaykos/GRE (1970/74), Real Murcia/ESP (1975), Colo Colo/CHI (1975/76), Seleção da Arábia Saudita (1976/77), AEK Atenas/GRE (1978/79), Al Masry/EGI (1979/1982), Club Sol de América/PAR (1985/86), Cerro Porteño/PAR (1986/89), South Melbourne Hellas/AUS (1989/92) e Seleção da Hungria (1993).

* Títulos como treinador (3): Campeonato Grego (2 com o Panathinaykos – 1970/71 e 1971/72) e Campeonato Australiano (1 – 1990/91).



Foto 1: CONI.it
Foto 2: Deportista Digital

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