Nottingham Forest e Leeds United: dos louros ao ostracismo
Facilmente vem à mente que um time vencedor de 2 campeonatos continentais e uma vez vice-campeão mundial é uma grande potência do futebol no planeta, não é verdade? Ledo engano. Infelizmente o mundo da bola está infestado por cartolas que mal teriam condições de gerenciar a cozinha de suas casas, ou que são tão intencionados em prestar serviços ao clube quanto Fernandinho Beira-mar e Marcola à sociedade.
No Brasil temos alguns exemplos que chegam bem perto dessa verdade: Fluminense e Bahia, ex-campeões nacionais, já passaram pela terceira divisão; Corinthians, Palmeiras, Botafogo, Grêmio e Atlético/MG também já sentiram o sabor do fracasso quando foram rebaixados, entre outros. Ninguém duvida que tudo foi fruto de incompetência ou falcatruas nas gestões das equipes.
Mas na postagem de hoje vamos falar de dois casos emblemáticos na Europa, que envolveram times que outrora eram riquíssimos e poderosos, e que hoje estão fadados à penúria de uma divisão inferior de seu país.
Corria a temporada 1978/79 na Copa dos Campeões da Europa (atual Liga dos Campeões). A final envolvia duas forças emergentes do futebol europeu à época: Nottingham Forest, da Inglaterra, e Malmöe, da Suécia, mediam forças no Olympiastadion, em Munique, para decidirem quem levaria a taça de campeão do continente. Os ingleses levaram a melhor com uma vitória simples de 1 a 0, gol do atacante Trevor Francis, e escreveram seu nome na história do torneio. O mesmo ocorreu na temporada 1979/80, quando o Nottingham chegou à final da competição européia contra o alemão Hamburgo no estádio Santiago Bernabéu, em Madrid. Mais uma sofrida vitória de 1 a 0 para o Forest, com gol do meia escocês John Robertson, e o bicampeonato continental garantido. No mesmo ano, perdeu a disputa do Mundial Interclubes (hoje Copa Intercontinental de clubes) para o Nacional de Montevidéu (no ano anterior desistiu de disputar o título contra o Olímpia, do Paraguai).
O outro caso recorre às temporadas 1968/69, 1972/73, 1973/74, 1974/75, 1991/92 e 2000/01 coincidentemente com outro time inglês: o Leeds United. Na primeira faturou seu primeiro título inglês de sua história. Na segunda, começou a marcar seu nome nos anais das competições continentais com o vice-campeonato da extinta Recopa, quando foi derrotado pelo Milan por 1 a 0 no Kaftanzoglio Stadium, em Tessalônica, na Grécia. Um ano depois, a equipe de West Yorkshire levou seu segundo troféu inglês. Outro ano se passou e o time chegou mais longe, porém mais uma vez perdendo na decisão: pela Copa dos Campeões da Europa, derrota de 2 a 0 para o Bayern de Munique. Mesmo com o insucesso o acontecimento foi suficiente para mostrar o poderio do Leeds United. Dezesseis anos mais tarde, o terceiro e último título inglês frente ao fortíssimo Manchester United de Sir Alex Ferguson. Finalmente, em 2001, a última grande aparição no cenário europeu: pararam nas semifinais da Liga dos Campeões da Europa diante do espanhol Valência, que viria a ser o vice-campeão naquela temporada.
Anos dourados de clubes que tinham em seus escritórios gestores competentes e suficientemente honestos para alçar os respectivos times a vôos mais altos. Entretanto, a história hoje é bem diferente do que se supunha em tempos passados. E outra triste coincidência: ambos os clubes atualmente penam na terceira divisão inglesa.
No Nottingham Forest o drama iniciou-se na temporada 1992/93, quando o clube foi rebaixado para a “First Division”, a Segundona inglesa. Na temporada 1994/95 tudo levava a crer que a queda teria sido apenas um percalço da vida, pois o clube havia se qualificado para a edição seguinte da Copa da UEFA. Mais outro engano: rebaixamento em 1997 novamente, seguido de promoção no ano seguinte e mais outro descenso, na temporada 1998/99, incluindo um trágico 8 a 1 sofrido do Manchester United. À essa altura todo o status de grande força do futebol europeu estava em frangalhos, no que muito se deveu à quebra da ITV Digital – parceira que levou o Nottingham junto à bancarrôta. Mas o golpe de misericórdia viria alguns anos mais tarde: depois de várias trocas de técnicos e contratações mal sucedidas, aliadas às já comentadas más administrações, na temporada 2004/05 os Reds seriam rebaixados para a League One após 54 anos, o que lhe rendeu a alcunha negativa de primeiro campeão europeu da história a disputar uma terceira divisão de seu país.
Já pelos lados do Leeds, a história de terror é bem recente. Depois de mais de 3 décadas de resultados importantes chegou ao fundo do poço em sua história. Após o então presidente Peter Ridsdale gastar fortunas em jogadores como Rio Ferdinand, Robbie Fowler, Mark Viduka, entre outros, o clube se viu atolado em dívidas e sem os esperados resultados. Na primeira temporada, como já citado, o time até que deu retorno ao chegar às semifinais da Liga dos Campeões. Contudo, nos anos seguintes, o que se viu foi uma seqüência de más classificações, prejuízos com vendas abaixo do valor de compra das estrelas contratadas nos anos anteriores e má gestão, que resultou na queda para a Segunda Divisão na temporada 2004/05. Mas quem esperava que o time poderia ter aprendido com os erros e voltasse em pouco tempo a brilhar perdeu seu tempo: as dívidas só aumentavam e os grupos formados eram de qualidade muito duvidosa. Resultado: um pedido de concordata e a queda para a Terceira Divisão inglesa. Detalhe: começou a competição nesta temporada com 15 pontos negativos pelos problemas de desordem financeira.
O futebol mostra cada vez mais que não tem mais aquele “romantismo” de tempos passados. O esporte é hoje um grande negócio, até mesmo em algumas oportunidades em detrimento ao espetáculo. O profissionalismo é a base de tudo em qualquer clube que se preze jogar, o que infelizmente não é o caso ainda na maioria dos países em desenvolvimento (notadamente o nosso Brasil).
A história da derrocada do Leeds, acompanhada de alguns vídeos de seus tempos áureos, pode ser também acompanhada no blog do meu amigo gaúcho e colorado roxo Alexandre Perin, o Almanaque Esportivo. Vale a pena dar uma conferida!
Abaixo, dados e estatísticas dos dois clubes ingleses que tiveram o amargo sabor de despencarem do céu ao inferno no cenário futebolístico:
NOTTINGHAM FOREST FC
* Fundação: 1865.
* Apelidos: Forest e The Reds.
* Presidente: Nigel Doughty.
* Estádio: City Ground (30.600 pessoas).
* Títulos (19): Football Alliance (1892), FA Cup (1898 e 1959), FA Charity (1919 e 1978), Third Division South (1950/51), Football League (1978/79), Football League Cup (1977/78, 1978/79, 1988/89 e 1989/90), Copa dos Campeões da Europa (1978/79 e 1979/80), Super Copa da Europa (1979), Torneio de Nuremberg (1982), Colombino Cup (1982 e 1983) e Full Members Cup (1989 e 1992).
* Principais jogadores da história: Robert McKinlay, Anthony Morris, Peter Shilton, Martin O'Neal, Trevor Francis, John Robertson, Stuart Pearce, Des Walker e Roy Keane.
* Maior artilheiro: Anthony Morris - 217 gols.
* Jogador que mais vestiu a camisa: Robert McKinlay - 692 jogos.
LEEDS UNITED AFC
* Fundação: 1919.
* Apelidos: The Whites, United e The Peacocks.
* Presidente: Ken Bates.
* Estádio: Elland Road (40.200 pessoas).
* Títulos (12): Second Division (1923/24, 1963/64 e 1989/90), First Division (1968/69, 1973/74 e 1991/92), Taça das Feiras (hoje Copa da UEFA, 1968 e 1971), League Cup (1968), FA Charity Shield (1969 e 1992) e FA Cup (1972).
* Principais jogadores da história: John Charles, Eddie Gray, Bob Collins, Jack Charlton, Wilf Coping, Peter Lorimer, Johnny Giles, Billy Bremer, Norman Hunter e Éric Cantona.
* Maior artilheiro: Peter Lorimer - 238 gols.
* Jogador que mais vestiu a camisa: Jack Charlton - 773 jogos.
Escudos: arquivo pessoal
Foto Nottingham: BBC
Foto Leeds: Site oficial
Um comentário:
PARABÉNS PELO EXCELENTE TEXTO, É UMA PENA QUE ISSO OCORRA COM GRANDES TIMES COMO O LEEDS.
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