Cleber, do Bahia: mais uma vítima do futebol moderno
É com imenso pesar que o futebol perdeu mais um de seus seguidores nessa semana. O meia Cléber, do Bahia/BA, teve anunciada sua morte cerebral nesta quinta-feira, dia 20, em Salvador. O jogador (2ª e 3ª fotos) havia sofrido um AVC (Acidente Vascular Cerebral) após a partida conta o ABC de Natal, na capital potiguar, na data de 22 de outubro valendo pela Série C do Brasileirão. Cléber chegou a ter uma boa reação e foi removido para a capital baiana dias depois, entretanto, mais dois AVC's se seguiram e o atleta infelizmente foi a óbito. Cléberson Luciano Frolich tinha 31 anos (nascido em 13 de julho de 1976, em Novo Hamburgo/RS); passou por Bahia/BA, Portuguesa/SP, Coritiba/PR, Juventude/RS, XV de Piracicaba/SP, Grêmio/RS, Vitória/BA e Toledo/ESP; e deixa mulher e duas filhas menores.
Não é de hoje que a prática do futebol vem causando mortes em toda parte do planeta. Em mais de 90% dos casos são problemas cardíacos os causadores dos falecimentos. Ao longo do tempo o futebol foi se tornando um esporte mais físico que técnico, o que tem sido um fator preponderante para tantas cenas tristes como a de Cléber. Vamos a dados mais específicos sobre isso.
No passado um jogador chegava a correr, em média, 4 quilômetros durante os 90 minutos, atualmente, esse número chega a quase 12. É notório que antes tudo se resolvia na habilidade de um Pelé, de um Garrincha, de um Puskas, de um George Best, entre tantos outros. Hoje o atleta praticamente resolve tudo na força e na resistência. Quem dá o maior encontrão ou o maior pique tem mais chances de vencer. De acordo com estudo da Sociedade Americana de Medicina do Esporte, morrem em média cerca de 30 competidores por ano nas mais diversas modalidades em todo o mundo. Porém, é bom salientar que o esporte não mata. O que mata é a doença, não o exercício. A prática deste, no máximo, serve como gatilho para um problema cardíaco, mesmo que pequeno, não tratado de forma correta. Uma pessoa pode viver tranqüilamente com uma arritmia cardíaca se tiver uma atividade compatível com a capacidade de seu coração. Por isso, é imprescindível que todo jogador, não só do futebol, faça um check-up anual com o médico.
O caso mais emblemático no Brasil, que aconteceu recentemente, foi a morte do zagueiro Serginho, do São Caetano. O jogador atuava normalmente durante a partida contra o São Paulo pelo Campeonato de Brasileiro de 2004 (1ª foto), quando sofreu um mal súbito e não resistiu à parada cardíaca que o acometeu. Neste ano de 2007 o caso mais notório foi do lateral espanhol António Puerta, do Sevilla, que desmaiou em campo e saiu andando em direção aos vestiários. Contudo, sofreu impressionantes 9 paradas cardiorrespiratórias durante 3 dias seguidos e não resistiu. Em ambas as ocorrências há uma triste coincidência: tanto o clube espanhol, quanto o brasileiro, tinham conhecimento dos problemas de saúde dos jogadores. No caso do time do ABC paulista a direção aceitou que Serginho assinasse um termo de responsabilidade para seguir jogando, uma atitude lamentável quando é óbvio que a vida humana está acima de qualquer situação. Já pelo lado espanhol, Puerta já havia desmaiado em alguns treinamentos durante a temporada, mas o departamento médico sequer tratou de investigar com profundidade as causas de tantos desmaios.
É público e notório que quando se é diagnosticado um caso de problemas cardíacos com antecedência a integridade física do jogador é mantida. Em muitos casos o atleta até segue sua vida esportiva com treinamentos específicos às suas capacidades. No Brasil por exemplo, nos últimos anos, alguns jogadores conseguiram superar os problemas que tiveram em campo. O ex-jogador Bebeto Campos, então no Paysandu, teve diagnosticado miocardiopatia (engrossamento de um músculo do coração) depois de uma bateria de exames nos jogadores e foi imediatamente afastado do grupo por precaução. O atacante Washington, hoje no Fluminense/RJ, havia sido contratado pelo Atlético/PR junto à Ponte Preta/SP em 2003 e teve constatado um problema cardíaco durante os exames médicos. Necessitou passar por uma cirurgia e foi ameaçado de ter de abandonar o futebol. Com o tratamento correto, eficaz e preventivo, aliado a uma carga de exercícios concebível para sua condição física, o artilheiro voltou a jogar e se tornou o maior goleador da história do Campeonato Brasileiro quando, em 2004, marcou 34 gols e ajudou o clube paranaense a conquistar o título. Caso semelhante ao de Fabrício Carvalho, hoje atacante do Goiás, que descobriu sofrer de arritmia cardíaca quando atuava pelo São Caetano/SP e passou um ano longe dos gramados em tratamento.
Mas nem só a prevenção, em alguns casos, consegue salvar uma vida. Apesar de nada constar de errado em seus exames, o ex-meia Diogo do Cruzeiro/MG sofreu um infarto também neste ano enquanto treinava na Toca da Raposa. Um desfibrilador estava à beira do campo e salvou a vida do atleta, que teve que encerrar sua carreira precocemente. Ou seja, a estrutura médica também conta muito nesses casos.
Na história recente do futebol há registro de 56 mortes no futebol, cuja causa principal foi a intensa atividade esportiva. Talvez com todos os cuidados necessários e as condições necessárias para se realizar um pronto atendimento muitas vidas poderiam ter sido mantidas.
Abaixo, os casos mais conhecidos entre 1973 e 2007.
1973: Pedro Berruezo (Sevilla/ESP) - teve um infarto enquanto jogava.
1977: Renato Curi (Perugia/ITA) - mal súbito enquanto jogava. O estádio do clube hoje leva seu nome como homenagem.
1980: Omar Sahnoun (Bordeaux/FRA) - não participou da Copa de 1978 por problemas cardíacos. Preferiu seguir jogando e teve um infarto durante treinamento.
1982: Carlos Alberto Barbosa (Sport/PE) - parada cardíaca durante jogo do Campeonato Pernambucano.
1985: Beto (Moto Clube/MA) - parada cardíaca enquanto jogava.
1989: Samuel Okwaraji (Ulm/ALE) - infarto enquanto defendia a seleção da Nigéria nas Eliminatórias da Copa de 1990.
1992: Vicente Vásquez (Chacarita Garuhapé/ARG) - sofreu um infarto após defender pênalti com o peito.
1993: Michael Klein (Bayer Uerdingen/ALE) - Três anos após defender a Romênia na Copa do Mundo, sofreu mal súbito durante um treinamento de seu clube.
1995: Augusto (Boom/BEL) - jogador brasileiro que teve a aorta rompida após choque com adversário.
1997: Shamo Quaye (Ümea/SUE) - ganês medalha de bronza nas Olimpíadas de 1992, sofreu um infarto em treinamento .
1998: Robbie James (Llanelli/GAL) - tinha 40 anos de idade, era jogador-técnico e foi acometido de um mal súbito em treinamento de sua equipe.
1999: Stefan Vrabioru (Astra Ploiesti/ROM) - Autópsia revelou que o jogador utilizava esteróides anabolizantes, que contribuiu para o infarto que sofrera.
2000: Eri Irianto (Persebaya/INA) - o indonésio tinha respiração ofegante enquanto atuava em uma partida pelo seu clube. Faleceu horas depois no hospital após uma parada cardiorrespiratória.
2001: Vladimir Dimitrijevic (Estrela Vermelha/SER) - sofreu uma parada cardíaca em casa. O zagueiro Vidic, do Manchester United/ING, dedica seus gols ao ex-colega de equipe.
2003: Marc-Vivién Foé (Manchester City/ING) - mal súbito em campo enquanto defendia Camarões durante a Copa das Confederações.
2004: Serginho (São Caetano/SP), Miklos Fehér (Benfica/POR) e Cristiano Júnior (Dempo/IND) - paradas cardíacas enquanto defendiam seus clubes pelos respectivos campeonatos nacionais (o último após um choque com o goleiro adversário).
2005: Alexsandro (Ferroviária/SP) - infarto após exames médicos de rotina.
2006: Hélder (América/RN), Rogério Oliveira (Skendija Tetovo/MAC) e Alex Sandro (Matonense/SP) - os dois primeiros foram encontrados mortos em suas residências, já o último sofreu um infarto enquanto jogava uma pelada com amigos. Sua tia faleceu quando recebeu a notícia.
2007: Cléber (Bahia/BA) e António Puerta (Sevilla/ESP) - o primeiro sofreu AVC após jogo de sua equipe, enquanto o segundo passou mal também em campo e faleceu 3 dias depois por problemas cardíacos no hospital.
Fotos 1 e 2: Globoesporte.com
Foto 3: Jornal A Tarde
Foto 3: Jornal A Tarde
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