Jaguaré (destacado na foto 1 e de preto na foto 2): o primeiro goleiro artilheiro brasileiro
Dando sequência à publicação passada, nosso primeiro goleiro artilheiro no país se chamava Jaguaré. O lance, já relatado no post anterior, entrou para a história não só pelo fato de ter sido o primeiro, mas pela ousadia do arqueiro de "peitar" os companheiros de linha e se deslocar de sua meta até a área adversária para cobrar o pênalti, algo até então jamais cogitado em uma partida de futebol - ainda mais em uma decisão como ocorreu.
Jaguaré Bezerra de Vasconcelos tinha uma enorme capacidade tanto dentro do campo como fora dele - no primeiro caso com sua imensa habilidade e, no segundo, pela maneira irreverente e despretensiosa como encarava a profissão e a vida. Nascido em 14 de maio de 1905 no Rio de Janeiro/RJ, Jaguaré iniciou sua carreira tarde para os padrões atuais - aos 21 anos no amador Atlético Santista/SP. Antes de aventurar-se no mundo da bola trabalhava como estivador no Moinho Inglês. Seu estilo arrojado de defender o gol e suas "traquinagens" nas partidas eram certeza de encantamento e diversão para o público presente. Tanto que suas atuações chamaram atenção do Vasco da Gama em 1928 e para lá rumou, onde permaneceu até 1931 e ajudou o clube a faturar o título carioca de 1929. Com a grande campanha do time cruzmaltino foi convocado para defender a Seleção Brasileira em 3 oportunidades entre 1928 e 29.
Nesse mesmo ano, como premiação pela conquista, a direção vascaína promoveu uma excursão do clube até Portugal. Após algumas partidas amistosas Jaguaré ficou encantado com a forma totalmente profissional com que os europeus tratavam o futebol. Em 1932, a seu próprio pedido, transferiu-se para o poderoso Barcelona da Espanha juntamente com seu companheiro Fausto - o "Maravilha Negra". No "Barça", entretanto, suas peripécias não eram muito bem aceitas pelos profissionais que administravam o time. Seu nome já era falado nos 4 cantos do Brasil, pois ele, Fausto e Filó (este na Lazio/ITA) eram os únicos jogadores brasileiros de futebol que atuavam profissionalmente na Europa àquela época. Ficou na equipe catalã por um ano e voltou para o futebol brasileiro para jogar pelo Corinthians. Um ano mais tarde, em 1935, retornou à Europa, mais precisamente para o Sporting de Lisboa, e logo depois para o Olympique de Marseille da França, onde entrou para a história conforme já relatado na publicação passada.
Durante suas férias no Brasil sempre comparecia aos treinos do Vasco e até participava deles. A torcida, já idolatrando o jogador, lotava as dependências de São Januário para vê-lo em ação. Como bom brincalhão que era chegava usando terno branco e chapéu chile levemente pendido para o lado. Quando voltava dos vestiários trazia boné e luvas tal qual os goleiros europeus. Esse fato fez com que Jaguaré fosse o primeiro goleiro brasileiro a usar luvas em uma partida de futebol (em Portugal ele foi o primeiro arqueiro da história a usar o acessório em campo).
Quando ainda atuava em terras brasileiras, Jaguaré tinha facilidade de colecionar fãs na mesma proporção que criar desafetos. Com seu gênio moleque atordoava os adversários com suas "gracinhas" em campo e explodia de alegria os torcedores no estádio. O goleiro quase sempre fazia algum tipo de promessa para desmoralizar o clube no qual ele iria enfrentar no próximo confronto. E essas palavras sempre irritavam profundamente os atletas das outras agremiações - e as promessas quase sempre eram cumpridas. Em uma partida entre Vasco e Bangu prometeu à torcida que iria driblar o atacante Ladislau, que já entrou em campo bastante irritado com o fato. Em determinada disputa de bola com o oponente, Jaguaré deu um lençol num primeiro momento. Quando o centroavante tentou retornar para tomar a bola, levou outro "chapéu" com direito a bola girando no dedo indicador do arqueiro após o lance genial.
Suas brincadeiras excessivas em campo quase lhe custaram o emprego no time francês. Certa vez, em uma partida contra o Racing pela Copa da França, Le Jaguar, como era conhecido por lá, fez uma defesa de bicicleta. Em outra ocasião, dessa vez na Inglaterra, atirou a bola na cabeça de um adversário após fazer a defesa. O árbitro da partida paralisou o jogo e comunicou ao então capitão do Olympique que não iria permitir outra atitude como essa. Ainda assim puniu o time francês com um tiro livre indireto (nos dias atuais além da falta o arqueiro seria fatalmente expulso pela agressão). Mesmo com todas essas polêmicas ajudou o OM a conquistar o Campeonato Francês de 1937 e a Copa da França de 1938, na final em que fez o primeiro gol de goleiro da história do futebol.
Em 1940, com o andamento da II Guerra Mundial na Europa, retornou ao Brasil amedrontado com a atual situação dos países europeus. Tentou acerto com o carioca São Cristóvão, mas logo abandonou o futebol aos 35 anos. Perdeu tudo o que havia ganho com o futebol no Velho Continente e voltou a trabalhar como estivador. Desapareceu como um encanto e não deu mais notícias. Sua última aparição foi em uma matéria de jornal, com data de 27 de outubro de 1940, onde aparecia morto por espancamento após provocar uma briga com policiais em Santo Anastácio, no interior de São Paulo.
Nos dias atuais não é incomum ver um goleiro subir até a área adversária e se arriscar num cabeceio durante um escanteio, cobrar faltas e pênaltis. E esses feitos muito se devem a Jaguaré, que deixou um importante legado de irreverência e ousadia para o futebol - que os digam René Higuita, José Luís Chilavert e Rogério Ceni.
Abaixo, dados e estatísticas do irreverente goleiro artilheiro.
* Nome: Jaguaré Bezerra de Vasconcelos
* Nascimento: 14 de maio de 1905 no Rio de Janeiro/RJ
* Posição: goleiro
* Apelido: Le Jaguar
* Clubes (6): Atlético Santista (1926/27), Vasco da Gama (1928/31), Barcelona/ESP (1932/1933), Corinthians (1934/35), Sporting/POR (1935/36), Olympique de Marseille/FRA (1936/39) e São Cristóvão (1940)
* Títulos (3): Campeonato Carioca (1927), Campeonato Francês (1937) e Copa da França (1938)
* Seleção Brasileira: 3 partidas entre 1928 e 1929
Foto 1: Terceiro Tempo - iG
Foto 2: Autor desconhecido
Jaguaré Bezerra de Vasconcelos tinha uma enorme capacidade tanto dentro do campo como fora dele - no primeiro caso com sua imensa habilidade e, no segundo, pela maneira irreverente e despretensiosa como encarava a profissão e a vida. Nascido em 14 de maio de 1905 no Rio de Janeiro/RJ, Jaguaré iniciou sua carreira tarde para os padrões atuais - aos 21 anos no amador Atlético Santista/SP. Antes de aventurar-se no mundo da bola trabalhava como estivador no Moinho Inglês. Seu estilo arrojado de defender o gol e suas "traquinagens" nas partidas eram certeza de encantamento e diversão para o público presente. Tanto que suas atuações chamaram atenção do Vasco da Gama em 1928 e para lá rumou, onde permaneceu até 1931 e ajudou o clube a faturar o título carioca de 1929. Com a grande campanha do time cruzmaltino foi convocado para defender a Seleção Brasileira em 3 oportunidades entre 1928 e 29.
Nesse mesmo ano, como premiação pela conquista, a direção vascaína promoveu uma excursão do clube até Portugal. Após algumas partidas amistosas Jaguaré ficou encantado com a forma totalmente profissional com que os europeus tratavam o futebol. Em 1932, a seu próprio pedido, transferiu-se para o poderoso Barcelona da Espanha juntamente com seu companheiro Fausto - o "Maravilha Negra". No "Barça", entretanto, suas peripécias não eram muito bem aceitas pelos profissionais que administravam o time. Seu nome já era falado nos 4 cantos do Brasil, pois ele, Fausto e Filó (este na Lazio/ITA) eram os únicos jogadores brasileiros de futebol que atuavam profissionalmente na Europa àquela época. Ficou na equipe catalã por um ano e voltou para o futebol brasileiro para jogar pelo Corinthians. Um ano mais tarde, em 1935, retornou à Europa, mais precisamente para o Sporting de Lisboa, e logo depois para o Olympique de Marseille da França, onde entrou para a história conforme já relatado na publicação passada.
Durante suas férias no Brasil sempre comparecia aos treinos do Vasco e até participava deles. A torcida, já idolatrando o jogador, lotava as dependências de São Januário para vê-lo em ação. Como bom brincalhão que era chegava usando terno branco e chapéu chile levemente pendido para o lado. Quando voltava dos vestiários trazia boné e luvas tal qual os goleiros europeus. Esse fato fez com que Jaguaré fosse o primeiro goleiro brasileiro a usar luvas em uma partida de futebol (em Portugal ele foi o primeiro arqueiro da história a usar o acessório em campo).
Quando ainda atuava em terras brasileiras, Jaguaré tinha facilidade de colecionar fãs na mesma proporção que criar desafetos. Com seu gênio moleque atordoava os adversários com suas "gracinhas" em campo e explodia de alegria os torcedores no estádio. O goleiro quase sempre fazia algum tipo de promessa para desmoralizar o clube no qual ele iria enfrentar no próximo confronto. E essas palavras sempre irritavam profundamente os atletas das outras agremiações - e as promessas quase sempre eram cumpridas. Em uma partida entre Vasco e Bangu prometeu à torcida que iria driblar o atacante Ladislau, que já entrou em campo bastante irritado com o fato. Em determinada disputa de bola com o oponente, Jaguaré deu um lençol num primeiro momento. Quando o centroavante tentou retornar para tomar a bola, levou outro "chapéu" com direito a bola girando no dedo indicador do arqueiro após o lance genial.
Suas brincadeiras excessivas em campo quase lhe custaram o emprego no time francês. Certa vez, em uma partida contra o Racing pela Copa da França, Le Jaguar, como era conhecido por lá, fez uma defesa de bicicleta. Em outra ocasião, dessa vez na Inglaterra, atirou a bola na cabeça de um adversário após fazer a defesa. O árbitro da partida paralisou o jogo e comunicou ao então capitão do Olympique que não iria permitir outra atitude como essa. Ainda assim puniu o time francês com um tiro livre indireto (nos dias atuais além da falta o arqueiro seria fatalmente expulso pela agressão). Mesmo com todas essas polêmicas ajudou o OM a conquistar o Campeonato Francês de 1937 e a Copa da França de 1938, na final em que fez o primeiro gol de goleiro da história do futebol.
Em 1940, com o andamento da II Guerra Mundial na Europa, retornou ao Brasil amedrontado com a atual situação dos países europeus. Tentou acerto com o carioca São Cristóvão, mas logo abandonou o futebol aos 35 anos. Perdeu tudo o que havia ganho com o futebol no Velho Continente e voltou a trabalhar como estivador. Desapareceu como um encanto e não deu mais notícias. Sua última aparição foi em uma matéria de jornal, com data de 27 de outubro de 1940, onde aparecia morto por espancamento após provocar uma briga com policiais em Santo Anastácio, no interior de São Paulo.
Nos dias atuais não é incomum ver um goleiro subir até a área adversária e se arriscar num cabeceio durante um escanteio, cobrar faltas e pênaltis. E esses feitos muito se devem a Jaguaré, que deixou um importante legado de irreverência e ousadia para o futebol - que os digam René Higuita, José Luís Chilavert e Rogério Ceni.
Abaixo, dados e estatísticas do irreverente goleiro artilheiro.
* Nome: Jaguaré Bezerra de Vasconcelos
* Nascimento: 14 de maio de 1905 no Rio de Janeiro/RJ
* Posição: goleiro
* Apelido: Le Jaguar
* Clubes (6): Atlético Santista (1926/27), Vasco da Gama (1928/31), Barcelona/ESP (1932/1933), Corinthians (1934/35), Sporting/POR (1935/36), Olympique de Marseille/FRA (1936/39) e São Cristóvão (1940)
* Títulos (3): Campeonato Carioca (1927), Campeonato Francês (1937) e Copa da França (1938)
* Seleção Brasileira: 3 partidas entre 1928 e 1929
Foto 1: Terceiro Tempo - iG
Foto 2: Autor desconhecido
Um comentário:
Jaguaré jogou em Portugal, na época 1939/40, no Académico Futebol Clube (mais conhecido por Académico do Porto).
Regressou ao Brasil em Agosto de 1940.
Cump.s
Eduardo Rego
(Porto, Portugal)
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