terça-feira, 21 de abril de 2009

MUITO GLAMOUR, POUCO FUTEBOL

David Beckham: apagado em campo, mas brilho fora dele





Hoje eu vou dar uma pequena pausa nos comentários sobre minhas andanças pela América do Sul para falar de um assunto (leia-se personagem) que chama atenção muito mais pelo furor midiático e pelos holofotes do que pela sua passagem dentro do futebol. É uma publicação que tem cunho opinativo como já fiz em algumas ocasiões. Apesar do caráter informativo deste blog, sinto-me no direito de expressar meus pensamentos a respeito o que acontece no esporte. Todos têm a total liberdade de divergir de minha opinião e até achar que estou falando bobagem. Mas para quem aprecia o bom futebol é muito ruim ver que fator extra-campo tem bem mais notoriedade que dentro das 4 linhas, que é o que realmente interessa ao público boleiro.

Estou falando de David Robert Joseph Beckham, ou simplesmente David Beckham, meia inglês do Los Angeles Galaxy, dos Estados Unidos, mas que está cedido por empréstimo ao italiano Milan até maio. Nasceu na cidade de Leytonstone em 02 de maio de 1975 e começou sua carreira "pré-mídia" nas categorias infantis do amador Brimsdown Rovers. A princípio tudo levava a crer que se tratava de mais um grande talento emergido do país criador do futebol, pois foi aclamado como melhor jogador sub-15 da temporada 1989/1990. Tanto que chamou a atenção de observadores de Sir Alex Ferguson e logo foi convidado a fazer parte dos juvenis do poderoso Manchester United.

E o início realmente foi muito bom. Em 1992, ainda fazendo parte do time de baixo do United, Beckham foi essencial na conquista da Youth FA Cup (espécie de Copa da Inglaterra de Juniores), quando fez um gol na final contra o Crystal Palace. Na mesma temporada fez sua estréia como jogador profissional em uma partida diante do Brighton & Hove Albion pela League Cup. Em 1994 fez sua primeira aparição na Liga dos Campeões vestindo a camisa dos Red Devils na goleada por 4 a 0 em cima dos turcos do Galatasaray, válida pela última rodada da fase de grupos do torneio, e marcando um dos gols. Porém o time contava com grandes jogadores como o escocês Brian McClair, os irlandeses Dennis Irwin e Roy Keane, o ucraniano Andrei Kanchelskis, o galês Mark Hughes, o inglês Paul Ince e o francês Eric Cantona, o que tornava a regularidade de David Beckham na equipe principal muito difícil. Prevendo isso Alex Ferguson tratou de emprestá-lo ao Preston North End em 1995 a fim de que ganhasse mais experiência. Sua passagem pelo primeiro campeão inglês da história foi positiva: jogou 5 partidas e fez 2 gols.

Sua rápida ida aos Lilywhites surtiu o efeito desejado pelo treinador do Manchester e ele logo se firmou no time titular com a camisa 10, que era usada pelo recém negociado atacante Mark Hughes, então ídolo da torcida local. Na temporada 1996/97 marcou, talvez, seu gol mais bonito da carreira: no confronto diante do Wimbledon, pelo Campeonato Inglês, Beckham recebeu a bola no meio de campo, percebeu o goleiro adversário adiantado e com um bonito chute encobriu Neil Sullivan e levou os torcedores presentes ao Selhurst Park ao delírio. Estava mais que comprovado o talento do jogador. Estava mesmo?

A partir de então o Manchester United, com todo o louvor, passou a quase monopolizar as várias disputas de títulos nacionais e internacionais. Porém muito mais pela ação coletiva e grande capacidade do grupo que possuía que pela qualidade individual de seus jogadores, notadamente o seu meia-direita. Passou a ser especialista em bolas paradas (escanteios e faltas). Entretanto nunca foi um jogador irrepreensível ou vital para a conquista de um título, quase sempre era o jogador que fazia "apenas" uma boa atuação. Realmente não pode-se negar que detinha uma notável regularidade de partidas razoáveis, tanto que foi eleito o 2º melhor jogador do mundo (eleição quase sempre bastante questionável) na temporada 1998/99 ficando atrás do brasileiro Rivaldo. Porém sua colocação deu-se muito mais pela lendária final da Liga dos Campeões da mesma temporada contra o Bayern de Munique, quando o clube inglês fez dois gols e virou para cima dos alemães nos acréscimos originados em dois escanteios batidos pelo atleta.

O sucesso começou a subir à cabeça de David Beckham. Aliar um rosto e um corpo bonitos a jogar em um dos maiores times do planeta é passaporte para o brilho dos holofotes no mundo extra-futebol. O primeiro passo é dado com o casamento com a ex-Spice Girl Victoria Adams (hoje Victoria Beckham), cantora que teve apenas sucesso efêmero no mundo musical e hoje vive à sombra do marido famoso. Com o súbito crescimento de popularidade do jogador, a relação com seu comandante Alex Ferguson, reconhecidamente um homem sério e disciplinado dentro do esporte, começou a se deteriorar. Em 2000, alegando problemas de saúde com seu filho Brooklyn Beckham, solicitou permissão para se ausentar dos treinamentos do clube sendo prontamente atendido. O que o treinador escocês não esperava era ver a senhora Beckham em um desfile de moda na mesma noite. Resultado: multa de 50 mil Libras Esterlinas ao jogador. O próprio Ferguson, em uma autobiografia escrita posteriormente, criticou as atitudes pouco responsáveis do meiocampista que mais se preocupava com o mundo "fashion" que com seu próprio trabalho e que ele não era mais importante que nenhum jogador do Manchester àquela época.

Em 2002 sofreu uma grave contusão no pé esquerdo em uma disputa de bola com o argentino Aldo Duscher, do espanhol Deportivo La Coruña, em partida válida pela Liga dos Campeões. O problema quase custou sua ida à Copa do Mundo de 2002, porém, como de praxe, resolveu a dramática classificação inglesa para o Mundial em uma cobrança de falta perfeita contra a Grécia, pela última rodada das Eliminatórias Européias, faltando poucos minutos para o término do jogo. Na temporada seguinte viu seu espaço na equipe de Old Trafford ser preenchido pelo norueguês Ole Gunnar Solskjær, o que fez acabar definitivamente com sua passagem pelo time inglês.

O já questionado Beckham deixou o Manchester em 2003 rumo ao não menos poderoso Real Madrid em uma negociação que rendeu aos cofres ingleses 35 milhões de Euros - na minha opinião um absurdo para um jogador de qualidade técnica tão inferior a estrelas do quilate de Luís Figo, Michael Owen e Zinedine Zidane. No início fez uma boa temporada marcando 5 gols em 16 jogos e sendo um dos líderes em assistências no torneio, porém não suficiente para a conquista de um mísero título sequer - apenas o 4º lugar no Campeonato Espanhol e eliminado nas quartas-de-final da Liga dos Campeões.

Desde então o meia inglês começava a centrar sua carreira em páginas de revistas famosas, lançar marcas mundiais com sua imagem, viajar pelo planeta apenas emprestando seu nome a alguns eventos, como foi o caso de sua visita aqui ao Rio Grande do Norte há 2 anos para o lançamento de um centro de excelência esportivo no litoral norte do estado, além de fundar academias de futebol em Los Angeles/EUA (seria presságio do que viria a acontecer ou mera coincidência?). Questiono-me: não teria uma imagem muito melhor trazer para o Brasil um jogador brasileiro de qualidade inquestionável e com muito mais profissionalismo como Kaká ou Zico? Na temporada 2005/06 uma pífia apresentação de todo o time fez com que o Barcelona levantasse o troféu nacional com 12 pontos de vantagem sobre os Merengues, o que levantou ainda mais dúvidas sobre a participação de Beckham entre os titulares.

Na edição 2006/2007 da La Liga, o italiano Fabio Capello, então treinador do Real Madrid, barrou o "atleta-astro pop" em favor do ponta espanhol José Reyes. Nas 9 partidas em que o britânico começou como titular, o clube perdeu 7 vezes e quase prejudica sua conquista nacional ao fim da temporada - o primeiro e único título do jogador durante sua passagem pelo Santiago Bernabéu. Era o fim de sua estadia na capital espanhola e contrato firmado com o Los Angeles Galaxy, clube da cidade de mesmo nome, na Califórnia (lembram das recém inauguradas academias?). Como capital mundial das celebridades, não poderia estar no lugar mais propício para sua principal tarefa: aparecer na mídia. Não se pode deixar de lado, contudo, o positivo efeito de merchandising que sua passagem pelo Real causou: aumento de cerca de US$ 600 milhões entre vendas de produtos e cessão de sua imagem. Daí fica a grande evidência de que sua contratação em 2003 não teve nenhum cunho técnico.

Causando furor chegou aos Estados Unidos em junho de 2007 mais como celebridade do mundo midiático que como astro da bola. Assinou com o LA um contrato de 5 anos com a suposta intenção de desenvolver a popularidade e o futebol norte-americano. Realmente a popularidade do esporte cresceu por aquelas bandas, afinal, quem não gostaria de ver em ação ao vivo e em cores um ícone do mundo pop? Futebol era coisa de segundo plano. Mais uma vez o efeito Beckham fez encher os cofres dos cartolas e cerca de 250 mil camisas da equipe californiana foram vendidas com o nome do jogador.

Pouco mais de um ano depois e com nenhum título conquistado, Beckham novamente se envolve em polêmica ao anunciar seu empréstimo ao italiano Milan até o mês de março de 2009, quando do início da nova temporada da Liga Norte-americana (MSL). Entretanto, contrariando as expectativas dos dirigentes californianos forçou a barra para permanecer em Milão até o fim de maio, quando termina a temporada européia. Entretanto, como sempre, não acrescentou quase nenhuma qualidade ao meio-campo do atualmente combalido time milanês. Justificou sua permanência na Europa por querer estar mais perto da seleção inglesa. Entretanto esqueceu de citar que mesmo atuando na América do Norte já havia sido lembrado por Capello (aquele mesmo que o preteriu na Espanha) e que sua conta bancária havia aumentando mais uma vez, conforme publicação da revista France Football de março deste ano que afirma que o "astro" percebe anualmente, entre salários e cessões de imagem, cerca de 32,4 milhões de Euros (Mais de R$ 105 milhões) anuais, o que o torna o mais bem pago jogador profissional do planeta - um desatino em tempo de crise mundial. Pior ainda é ver sua imagem valer mais que a de um jogador verdadeiramente consagrado, profissional e de qualidade infinitamente superior como Kaká receber menos que a metade do seu companheiro de plantel (aproximadamente 15,1 milhões de Euros/ano).

Infelizmente no futebol moderno temos que nos deparar com situações lamentáveis como essa. Um jogador que faz seu nome às custas de um rostinho bonito e um corpo atlético, mas que nunca contribuiu significativamente para o futebol, que foi o pontapé incial de sua carreira de reles desconhecido no Brimsdown Rovers a ícone "fashion" mundial. Triste ver o glamour dos holofotes, que nesse caso tem o objetivo de atender o público mais abastado, em detrimento de fazer a alegria de milhões de torcedores mundo a fora, sem distinção de cor, raça, credo e situação financeira, que é o verdadeiro e original objetivo do futebol!





Foto: Shiny Stile

3 comentários:

Ramon disse...

Concordo em gênero, número e grau.

João Pedro disse...

Infelizmente futebol hoje é dinheiro na frente da qualidade. esse Beckham não tem nenmhuma condição de jogar em nenhum time da série A do Brasil!

parabéns pelo seu post, é o primeiro que vejo a falar as verdades sobres esse enganador! Estou totalmente de acordo!

Andrea Ramalho disse...

Acho incrível como a imagem de um jogador pode valer tanto. Esse cara ganha milhões só porque é bonitinho e atrai patrocinadores. E tantos craques ganhando esmolas em times pequenos...

Mas quem foi que disse que o mundo do futebol seria diferente do mundo real? Há muita injustiça por aí...

Bjo, Carlos!