segunda-feira, 25 de maio de 2009

REGRESSÃO NA ESSÊNCIA DO FUTEBOL

Do pioneiro Chapman aos defensivos Felipão e Trapattoni: ataque em retrocesso





Nesta publicação quero mais uma vez expôr minha opinião a respeito do que ocorre no futebol da atualidade e o quanto fico chateado e indignado ao mesmo tempo. Trata-se de um retrocesso sem tamanho para um esporte que visa um grande objetivo que é marcar os gols e vencer a partida. Porém, infelizmente, nos dias de hoje o que se vê é 95% dos treinadores mais preocupados em não sofrê-los que propriamente fazê-los, como se somente a defesa ganhasse um jogo. Antes vamos voltar um pouco no tempo e relembrar tempos de armações táticas mirabolantes que faziam a alegria da torcida presente ao estádio, pois visavam quase que exclusivamente vencer o confronto.

Quando da criação "oficial" do futebol na Grã-Bretanha, em meados dos século XIX, as estratégias de jogo não eram tão levadas a sério, pois a única finalidade dos jogos era marcar o maior número possível de gols, tais quais as peladas entre crianças onde todos vão atrás da bola. Contudo, muitos dos treinadores das equipes daquela época eram velhos soldados dos exércitos de seus países e passaram a tratar cada partida como uma batalha a ser vencida. E como se estivessem num confronto bélico passaram a traçar estratégias para abater seu "inimigo". Dessa forma surgiram os primeiros esboços de esquemas táticos da história do futebol.

O primeiro grande esquema tático revolucionário partiu do inglês Herbert Chapman, então técnico do Huddersfield, no final da década de 10. Em uma tática de 3 zagueiros plantados lá atrás e praticamente 7 atacantes à frente (2 meias que protegiam a defesa, mas que saiam para o ataque também; dois falsos atacantes que partiam de trás com a bola dominada e os 3 centroavantes, sendo dois que caiam pelos lados do campo), o técnico praticamente monopolizou as conquistas na Inglaterra, notadamente com o Arsenal na década de 20. Sua formação ficou conhecida mundialmente como WM, pois a disposição dos jogadores na partida lembravam as duas consoantes juntas.

Mas é bom salientar que muitos deles revolucionaram a história do futebol, como o esquema de "flecha" do Wunderteam austríaco de Matthias Sindelar da década de 30, numa espécie de 3-2-5 no formato do objeto. Podemos citar o rolo compressor da Hungria mágica com seus 6 atacantes, na década de 50, com Puskas, Czibor, Kocsis, Budai e Cia. Ltda. Havia também um que não envolvia números ou letras, que foi o Carrossel Holandês da década de 70 comandado pelo lendário Rinus Michell, onde nenhum jogador possuía posição fixa e atuava em todos os setores do campo. Até mesmo com o Brasil e seu 4-3-3 de 1958, em que o ponta-esquerda Zagallo inovava e recuava para ajudar na marcação. Entre alguns outros.

Entretanto o que nos deparamos nos últimos tempos é com uma verdadeira regressão na essência do futebol. Fica aqui a minha pergunta: qual o verdadeiro objetivo do futebol? Não é vencer o oponente? E para se vencer um adversário de que se precisa? De gols, é óbvio! Não que eu queira retirar a grande importância da defesa, mas eu sigo a linha de raciocínio de um pensamento bastante batido dentro do esporte: toda grande defesa começa com um grande ataque. A preocupação com o esquema adversário é justo e legítimo, mas não podemos deixar de agredir o "inimigo" com o pensamento de aproveitar segundos de desatenção para realizar um ataque. Eu não levo isso como mérito do clube vencedor, caso aconteça, mas demérito do perdedor que falhou em determinado momento. Notem 10 motivos para a escalada decendente do posicionamento tático dos técnicos ao longo do tempo:

1 - Início da prática do futebol no século XIV: até 8 jogadores no ataque dos times;

2 - Anos 20 e 30: implantação do primeiro esquema tático com 7 atletas na frente no Arsenal;

3 - Anos 30: a "flecha" da seleção austríaca com 6 ou 7 jogadores de características ofensivas;

4 - Anos 50: a magia dos magiares e seus 6 atacantes sem posicionamento fixo;

5 - Anos 50 e 60: o mundo se rende ao Brasil bicampeão mundial e seus 3 jogadores de frente com o auxílio do ponta-esquerda Zagallo na marcação;

6 - Anos 60: o Santos de Pelé campeão do mundo com 4 jogadores de ataque, sendo 2 centroavantes e 2 pontas;

7 - Anos 70: o Carrossel Holandês de Michell e Cruijff cujos jogadores não possuiam posição fixa no campo;

8 - Anos 80: a Dinamáquina de 1986 e seu surpreendente esquema de 3 zagueiros, 2 alas e 2 atacantes (3-5-2);

9 - Anos 90: os insossos Brasil e Itália da Copa de 94 e seus esquemas predominantemente defensivos com o descarte de um meia-atacante para darem lugar a mais um jogador de marcação, apesar dos 2 centrovantes à frente;

10 - Dias atuais: regressão total com a ânsia por marcação e dureza nas jogadas em detrimento do objetivo do gol, sendo que alguns treinadores lançam apenas 1 solitário jogador no ataque.

No mundo futebolístico atual, principalmente no nosso Brasil (quem diria?), os treinadores estão com uma verdadeira neurose defensiva que causa nojo em quem pretende assistir um bom e disputado jogo. Assistam a uma partida e percebam que muitos deles estão "ousando" abrir mão de atacar em benefício da defesa exagerada. Treinadores como Cuca, Celso Roth, Ney Franco, Felipão, Giovanni Trapattoni, Quique Flores e outros por aí abusam da paciência do torcedor com seus 3 zagueiros, 3 volantes (às vezes até 4) e um mísero atacante à frente que tem que desdobrar para conseguir uma jogada. Este mesmo atacante fica sobrecarregado e tem seu desempenho totalmente prejudicado por esse tipo de esquema. Sem falar na "invenção" de lançar um jogador de meio para desempenhar função de atacante, idéia que em 90% dos casos terá tudo para não funcionar.

Grandes exemplos de futebol ofensivo e competitivo ao mesmo tempo vêm da decisão da atual Liga dos Campeões da Europa entre Manchester United e Barcelona na próxima quarta-feira dia 27. De um lado se tem toda a genialidade do lendário técnico escocês Sir Alex Ferguson e uma tática voltada para o ataque (lógico sem prejudicar o sistema defensivo), em que atua com 3 atacantes (Rooney, Tévez/Berbatov e Cristiano Ronaldo - este último vindo mais de trás) e meias que possuem tanto qualidades defensivas como ofensivas (Scholes, Giggs, Park, Carrick, Ânderson, etc), o que dá um equilíbrio entre os setores da equipe sem haver detrimento de ataque ou defesa. Do outro, um time comandado curiosamente por um ex-volante, "Pep" Guardiola, mas que prima pelo ataque com 3 jogadores de qualidade na dianteira (Eto'o/Krkic, Henry/Gudjohnsen e Messi) e meio-campo e defesa muito fortes e bastante entrosados (Touré, Xavi, Iniesta, Bousquets, Keita, Puyol, Daniel Alves, Abidal, Rafa Marquez, etc). Ou seja, as características dos dois clubes merecidos finalistas são bastante idênticas - boa marcação, mas sem deixar a ofensividade de lado!

Com essa mentalidade totalmente anti-jogo que estamos presenciando em muitos times não vejo muitas perspectivas de conquistas para um treinador. Se tiverem tempo e paciência pesquisem ao longo do tempo e exemplifiquem alguma equipe que tenha obtido sucesso com excessividade defensiva. Aposto e ganho como se contam nos dedos das mãos os times que alcançaram êxito com esse tipo de jogo. E outra: muito mais do que pelo méritos próprios podem ter conseguido sucesso fruto dos erros adversários. A Seleção Brasileira de Luís Felipe Scollari foi campeã mundial jogando dessa forma em 2002, até aí tudo bem com certo mérito. Mas alguém se lembra das lambanças de árbitro, e jogadores que muito ajudaram os brasileiros na caminhada para o título? Futebol é equilíbrio dentro de campo, sintonia entre os 3 setores (defesa, criação e ataque). Havendo discrepância entre eles certamente o trabalho do grupo estará fadado ao insucesso. Uma tática com excesso de defesa vai prejudicar o ataque, e vice-versa. E um meio abarrotado de gente vai atrapalhar seriamente os outros dois. Estão aí Manchester United e Barcelona que não me deixam mentir e prometem fazer uma grande partida nesta semana para o bem do futebol que preza pela alegria maior das torcidas: o gol!




Foto 1: Sports Heroes
Foto 2: ClicRBS
Foto 3: CNN

Um comentário:

rodrigo di lorenzi da silva disse...

Felipao Scolari e Rei para os Gremistas, Palmeirenses, Cruzeirista, e em todo Portugual.
Foi campeao em todos co excesao de Portugual, mas chegou perto.
Fazendo o que tu mesmo escreveste equilibrio entre defesa-ataque.