sábado, 1 de agosto de 2009

A DESPEDIDA DE UMA LENDA INGLESA

Sir Bobby Robson: o adeus à lenda inglesa





Eu havia prometido tratar da maior rivalidade clubística do planeta na postagem anterior neste fim de semana. Porém vou adiar por uns dias a publicação para falar de um assunto que entristeceu o mundo do futebol nesta sexta-feira - a morte de mais um ex-atleta e treinador, dessa vez de renome mundial como foi Sir Bobby Robson.

Robert William Robson fez história tanto dentro como fora dos gramados não só na Inglaterra, mas em diversos países europeus em que levou todo seu conhecimento técnico e talento como treinador vitorioso que foi. Nasceu na pequena vila de Sacriston, na região de Durham no norte inglês em 18 de fevereiro de 1933 e começou sua carreira de atacante em 1950 no Fulham. Entretanto deu seus primeiro passos com a bola nos pés com 15 anos no time infantil do Waterhouses Secondary Modern School, escola em que estudava na vila de Langley Park para onde mudou-se com seus pais ainda criança.

Fez sua primeira atuação como atleta profissional no clube londrino, recém promovido à divisão de elite, numa partida contra o Sheffield Wednesday na temporada 1950/51. Entretanto sua passagem no Fulham não foi das mais felizes, já que caiu para a segunda divisão no ano seguinte e só retornando em 1956. Neste mesmo ano deixou Londres para juntar-se ao West Bromwich Albion onde estreou também mal - derrota para o Manchester City por 4 a 0.

Contudo as coisas começaram a melhorar para Bobby Robson na temporada 1957/58 quando tornou-se o artilheiro máximo do WBA com 24 gols, o que lhe rendeu seguidas convocações para a seleção inglesa até 1962, onde jogou 20 vezes, marcou 4 gols e participou da Copa do Mundo de 1958 vencida pelo Brasil. Com o tempo o atacante foi se valorizando e reivindicou alguns ajustes em seu contrato, como um aumento substancial de seu salário. Jim Gaunt, então vice-presidente dos Baggies, não aceitou tais cobranças e o liberou para retornar para o Fulham em 1962 por 20 mil Libras Esterlinas. Em Craven Cottage foram mais 5 anos até aceitar um convite para jogar no futebol canadense pelo Vancouver Royals, onde encerrou sua carreira dentro das 4 linhas em 1968 aos 35 anos de idade.

Regressou ao Fulham ainda em 1968, mas para assumir como treinador. Também não teve um início muito promissor em sua nova função e acabou caindo novamente para a segunda divisão com o clube. No mesmo ano, com o clube num modesto 8º lugar na Segundona, deixou o cargo. Mas seu nome ainda iria brilhar no banco de reservas em breve...

Bobby Robson assinou com o Ipswich Town em 1969 e novamente não teve um princípio de trabalho dos mais promissores. Tanto que seu trabalho começou a ser bastante questionado após 4 anos sem brilho algum no comando dos Blues. Porém a reviravolta em sua trajetória começou a ser dada na temporada 1972/73 com conquista da Texaco Cup (torneio amistoso entre equipes inglesas e irlandesas) e o surpreendente 4º lugar na primeira divisão da Inglaterra. A partir de então montou equipes de respeito no Ipswich que enfrentavam os tradicionais clubes de igual para igual. Nas nove temporadas seguintes sempre deixava sua não tão expressiva equipe entre os 6 melhores do Campeonato Inglês - exceção feita à temporads 1977/78, mas que foi recompensada com o inédito (e único até hoje do time na competição) título da FA Cup diante do poderoso Arsenal.

Foram 13 anos à frente do Ipswich com grandes resultados, como dois vice-campeonatos ingleses, e os títulos já citados anteriormente, o que lhe valia sempre participações nas principais competições européias. E em um desses torneios, no ano de 1981, Bobby Robson chegou à consagração máxima ao conquistar o título da Copa da UEFA (hoje Liga Europa) diante do holandês AZ Alkmaar por 5 a 4 no placar agregado. Outro fato importante da passagem do treinador nos Azuis foi ter contratado apenas 14 jogadores, dando sempre prioridade às categorias de base. Tamanha idoltaria dos torcedores e gratidão dos dirigentes pelos seus grandes serviços prestados que uma estátua do técnico foi erguida na frente do estádio de Portman Road em 2002(foto 2).

Com os bons resultados alcançados a FA lhe fez um convite em 09 de julho de 1982 para assumir o posto de treinador da seleção inglesa, que havia sido eliminada dois dias antes da Copa do Mundo, em substituição a Ron Greenwood. Como em todo início de trabalho, Bobby Robson teve alguns tropeços e falhou na tentativa de classificar o English Team à Eurocopa de 1984 na França. Após o fracasso entregou seu cargo à Federação Inglesa, mas foi convencido a continuar no posto. Tal ação surtiu efeito e Robson levou os ingleses à Copa do Mundo de 1986, onde fez uma ótima participação com o 3º lugar conquistado. Em 1988 comandou o selecionado na pífia participação na Euro realizada na Alemanha Ocidental, mais uma vez chegou a entregar o cargo e de novo teve negado seu pedido. Classificou seu time para o Copa de 1990 na Itália e novamente sucumbiu nas semifinais, na ocasião diante dos alemães ocidentais nas penalidades máximas. Desta vez não teve como se segurar e deixou o posto de comandante inglês após o Mundial.

Não ficou muito tempo sem emprego: foi contratado para assumir o PSV Eidhoven da Holanda e conseguiu um bicampeonato nacional (1990/91 e 1991/92) comandando uma geração de grandes jogadores como o brasileiro Romário, o belga Eric Gerets e os holandeses Wim Kieft e Hans van Breukelen. Em 1991 descobre que sofre de câncer, mas consegue controlar a doença que estava em estágio inicial. Deixou a Holanda em 1992 rumo à Portugal para assinar com o Sporting, onde tinha como auxiliar-técnico o então jovem José Mourinho, futuro treinador campeão com Porto, Chelsea e Inter de Milão. Em Lisboa levou os Leões de Alvalade ao 3º posto em sua primeira temporada no campeonato nacional. Na temporada seguinte teve alguns atritos com a diretoria do clube, principalmente no tocante à contratações sem seu consentimento, e acabou rescindindo seu contrato mesmo deixando o clube em 1º lugar no Campeonato Português depois de 15 anos. Permaneceu em terras lusitanas e desembarcou no Futebol Clube do Porto, onde teve mais sorte e conquistou duas ligas nacionais e uma Copa. Tamanho sucesso fez com que o poderoso Barcelona o contratasse em julho de 1996, porém com a condição da ida de seu auxiliar desde os tempos de Sporting José Mourinho e do então jovem e promissor atacante brasileiro Ronaldo, do holandês PSV. Mesmo em apenas um ano de Barça conquistou os títulos da Supercopa da Espanha, da Copa do Rei e da extinta Recopa européia. Tamanha sua identificação com os jogadores e o reconhecimento de seu trabalho valeu-lhe o título de "Treinador da temporada européia 1996/97" e o elogio público de Ronaldo Fenômeno como sendo um dos melhores treinadores em atividade no planeta. No ano seguinte foi alçado à condição de Diretor Geral do clube catalão, entretanto um convite para reassumir o PSV Eidhoven foi aceito na temporada 1998/99. Sua volta à Holanda foi bastante rápida - e sem nenhum título -, o que o fez retornar à Inglaterra para fazer parte do Departamento Técnico da FA. Pouco tempo depois assume o Newcastle United no lugar do ex-jogador Ruud Gullit, nesta que seria sua última escala como treinador de futebol.

Em Saint James Park logo conquista a confiança e o carinho dos dirigentes, dos jogadores e da torcida. Em 5 anos levou o clube a 2 Ligas dos Campeões e uma Copa da UEFA, contudo sem nenhum título nacional, tampouco internacional. No ano de 2002 recebe a condecoração real de Cavaleiro (Sir) e em 2003 entra para o Hall da Fama do futebol britânico. Em 2004 deixa o Newcastle após divergências com o presidente Freddy Shepherd e encerra sua carreira como técnico.

No ano seguinte lança sua biografia "Bobby Robson: Farewell but not Goodbye" (Até breve, mas sem adeus) que trata de fatos após sua saída da seleção inglesa em 1990. Ainda em 2005 recusa uma oferta para treinar o escoês Hearts. Em 2006 aceita a proposta de se tornar consultor técnico do selecionado irlandês, treinado pelo ex-zagueiro Steve Staunton. Após a falta de êxito na qualificação para a Eurocopa de 2008 na Áustria e na Suíça deixa a função. Também em 2006 recebeu mais uma homenagem de seu ex-clube Ipswich Town com a nomeação de presidente de honra do clube.

Conforme já citado, Robson sofria de vários tipos de câncer desde 1991. Em 2006 foi submetido a uma cirurgia para retirada de um tumor maligno no cérebro. No início de 2008 cria a Fundação Sir Bobby Robson para diagnóstico e tratamento de pessoas afetadas pela doença. Em agosto do mesmo ano é acometido de seu 6º tumor na vida, desta vez nos pulmões, que tirou sua vida na última sexta-feira. Desde então muitas têm sido as homenagens e palavras de reconhecimento vindas de personalidades do mundo futebolístico ao seu trabalho como jogador, treinador e dirigente. Além de conclamado com uma lenda do futebol inglês ao lado de grandes nomes como Bobby Charlton, Jack Charlton, Alain Ball, Gordon Banks, Geoff Hurst, Bobby Moore, Stanley Matthews, entre outros. Aos 76 anos de idade, Sir Bobby Robson deixa esposa e três filhos.

Abaixo, dados e estatísticas de uma das lendas inglesas do futebol.


* Nome: Robert William Robson

*
Nascimento: 18 de fevereiro de 1933 em Sacriston/ING

*
Posição: atacante

* Clubes como jogador (3): Fulham (1950-56 e 1962-67), West Bromwich Albion (1956-62) e Vancouver Royals/CAN (1967-68)

* Títulos como jogador: nenhum

* Seleção inglesa como jogador: 20 jogos e 4 gols entre 1957 e 1962

* Clubes/seleções como treinador (8): Fulham (1968), Ipswich town (1969-82), Seleção Inglesa (1982-90), PSV Eidhoven/HOL (1990-92 e 1998-99), Sporting Lisboa/POR (1992-94), Porto/POR (1994-96), Barcelona/ESP (1996-97) e Newcastle United (1999-2004)

* Títulos como treinador (14): Texaco Cup (1973), FA Cup (1978), Copa da UEFA (1980/81), Rous Cup (1986, 1988 e 1989), Campeonato Holandês (1990/91 e 1991/92), Copa de Portugal (1994), Campeonato Português (1994/95 e 1995/96), Supercopa da Espanha (1996), Copa do Rei (1997) e Recopa (1996/97)

* Conquistas pessoais: Treinador da temporada européia (1996/97) e Hall da Fama do futebol inglês (2003)





Foto 1: First Touch Online
Foto 2: Geograph/UK

3 comentários:

marco navarro disse...

eu acompanhei a notícia. é bonito de se ver o reconhecimento, não apenas de um trabalho, mas de uma vida & obra inteira voltada ao futebol. conforme falei, acompanhei no noticiário, mas foi aqui no teu blog que tive mais uma vez uma "aula" sobre o assunto, me inteirando sobre a obra de mais um grande vulto do futebol. nesse ponto, mais do que parabenizar pelo ótimo trabalho que vc faz aqui nesse espaço, é agradecer pela riqueza de informações em textos de ótima qualidade. valeu.
quanto à enquete, isso não é uma piada: acho que uma das maiores rivalidades futebolísticas do mundo é remo x paysandu. uma curiosidade (não sei se vc sabe) é que os dois estádios ficam praticamente um de fronte ao outro: dando frente para a av almirante barroso, do lado direito fica o do remo, na esquina daantônio baena (daí baenão, que de "ão" não tem nada), e do lado esquerdo o do papão, na esquina da curuzu (por isso "papão da curuzu"). uma rivalidade kármica, pq os dois são obrigados a viver o tempo todo juntos.
baração.
M.

marco navarro disse...

eu acompanhei a notícia. é bonito de se ver o reconhecimento, não apenas de um trabalho, mas de uma vida & obra inteira voltada ao futebol. conforme falei, acompanhei no noticiário, mas foi aqui no teu blog que tive mais uma vez uma "aula" sobre o assunto, me inteirando sobre a obra de mais um grande vulto do futebol. nesse ponto, mais do que parabenizar pelo ótimo trabalho que vc faz aqui nesse espaço, é agradecer pela riqueza de informações em textos de ótima qualidade. valeu.
quanto à enquete, isso não é uma piada: acho que uma das maiores rivalidades futebolísticas do mundo é remo x paysandu. uma curiosidade (não sei se vc sabe) é que os dois estádios ficam praticamente um de fronte ao outro: dando frente para a av almirante barroso, do lado direito fica o do remo, na esquina daantônio baena (daí baenão, que de "ão" não tem nada), e do lado esquerdo o do papão, na esquina da curuzu (por isso "papão da curuzu"). uma rivalidade kármica, pq os dois são obrigados a viver o tempo todo juntos.
baração.
M.

DT disse...

Caro Carlos

Venho apenas fazer uma ligeira correcção, aproveitando ainda para acrescentar mais alguma informação que considero pertinente.

Bobby Robson foi afastado do comando técnico do Sporting Clube de Portugal (SCP) no final do ano de 1993, mas não por divergências com a direcção relativamente a contratações. O que motivou a sua demissão foi a eliminação do SCP nos oitavos-de-final da Taça Uefa diante do Casino Salzburg (hoje chamado Red Bull Salzburg).

Curiosamente, esta equipa haveria de atingir a final nesse ano, perdendo-a para o Inter de Milão, num jogo em que o guarda-redes nerazzurri Walter Zenga fez uma exibição incrível.

Sousa Cintra, o então presidente do SCP, acalentava um velho sonho de ver Carlos Queiroz (que hoje lidera a selecção portuguesa) envergar a braçadeira de treinador leonino. Como tal, usou a eliminação frente ao Salzburg como subterfúgio para satisfazer este seu capricho (até porque a equipa estava em 1º lugar do campeonato, como o Carlos referiu).

A relação de Robson com os jogadores era de tal modo exímia, que estes organizaram um jantar de despedida para Sir Bobby aquando da sua demissão. Após o jantar, um promissor avançado sportinguista de 22 anos (Cherbakov) iria passar um sinal vermelho acabando por colidir com outra viatura a grande velocidade. Este acidente marcou indelevelmente a época 1993/1994 pois Cherba (como era carinhosamente tratado pelos adeptos de Alvalade) ficaria paraplégico.

Mas tanto Robson como Cherba ficarão para sempre nos corações leoninos.