sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A NOVA FORÇA SUL-AMERICANA



LDU Quito: a nova força do futebol sul-americano





Desde o início das competições entre os clubes sul-americanos que o poder quase que invariavelmente ficava entre as mãos de brasileiros, argentinos e uruguaios, com algumas inserções de paraguaios, chilenos, colombianos, peruanos e até os "estrangeiros" mexicanos. A Copa Libertadores, a mais tradicional e mais importante, e que existe desde 1960, tem grande supremacia do trio Argentina-Brasil-Uruguai. Já a Sul-americana é praticamente monopolizada pelos argentinos. Por fim, entre os torneios ativos, está a Recopa, que também tem domínio de portenhos e tupiniquins.

Pois bem, eis que o seleto grupo de campeões continentais tem um novo integrante: a equatoriana Liga Deportiva Universitária. E não se trata de um acidente ou acaso como, na minha opinião, foram as conquistas de Cienciano do Peru (Copa Sul-americana de 2003) e Once Caldas (Libertadores de 2004). A LDU não só foi campeã da maior competição do continente em pleno Maracanã abarrotado de tricolores há pouco mais de 2 anos, como também já levou pra casa uma Sul-americana (novamente em cima do Fluminense no Rio de Janeiro em 2009) e duas Recopas. Assim como os torcedores do Internacional, a La U, como é conhecido o clube de Quito, pode-se considerar "campeã de tudo". Por isso vamos conhecer um pouco mais da nova força da América do Sul. 

A Liga Deportiva Universitária, como o próprio nome já sugere, foi fundada no ano de 1930 por um grupo de estudantes da Univerisidade Central del Ecuador, localizada na capital Quito. Naquele tempo pouco se falava em profissionalismo no esporte, principalmente por essas bandas do hemisfério sul, e por isso mesmo o clube recém fundado era de caráter semi-profissional. Em seus quadros iniciais estavam as práticas de basquete, vôlei, natação, beisebol, boxe, pingue-pongue e xadrez, além é claro do futebol.

A primeira competição na qual o time de futebol participou foi no ano de 1932 num torneio regional da província de Pichincha, localizada ao norte do país, composto por mais 5 equipes. Sua história de sucesso dentro do esporte nacional começou muito bem com a conquista deste título ao vencer todos os jogos disputados.

A era profissional de La U teve início no ano de 1954, quando passou a cobrar taxas de adesão aos propensos sócios a fim de ajudar na manutenção e no desenvolvimento da agremiação. Entretanto ainda disputando o torneio provincial. Sua maior rivalidade é com a Sociedad Deportiva Aucas, naquele que é chamado de "Super clássico de Quito". Entretando também fazem parte da lista de rivais o Nacional e o Deportivo Quito.

O Campeonato Equatoriano só teve início 3 anos após a profissionalização da LDU que apenas tem participações discretas até o fim da década de 60. Porém em 1969 veio o primeiro dos11 títulos nacionais dos Albos com a conquista da Série A. Contudo, de forma incrível, a equipe chegou a ser rebaixada para a terceira divisão em apenas 3 anos, mas rapidamente retornou ao grupo de elite do futebol equatoriano. Em 1973 e 1974 foi campeã das Série C e B, respectivamente. Tamanha a ascensão meteórica que já em 1974 (isso mesmo, disputou a segunda e primeira divisões no mesmo ano, isso não é só privilégio do Brasil) levou para casa seu segundo troféu de campeão do Equador.

O feito se repetiu em 1975, mas a partir daí passou um longo jejum de 15 anos até novamente conquistar uma taça em 1990 novamente com a Série A. Ainda no bicampeonato da década de 70 começava a desabrochar o seu tino de potência continental com duas ótimas participações na Taça Libertadores, em que conseguiu chegar às semifinais nas duas ocasiões. Na década de 80 figurou o atacante José Vicente Moreno, o maior artilheiro da história dos Universitários com 84 gols. 

Nos anos 90 seguiram-se mais 3 campeonatos nacionais e participações não tão brilhantes no maior torneio continental, até uma nova crise técnica se instalar no estádio Casa Blanca, inaugurado em 1997 e com capacidade para 55420 pessoas, e o time ser novamente rebaixado à Segundona em 2000. Novamente um retorno rápido à divisão de elite e em 2002 já estava disputando a Série A sob o comando de um de seus treinadores mais vitoriosos da história da La U - o uruguaio Jorge Fossati.

Em 2003 assegurou mais um triunfo do certame nacional, o seu sétimo. Aliás a primeira década do século XXI foi de muitas glórias para o clube equatoriano. Ainda sob a direção técnica de Fossati e com a presença do ídolo local Alex Aguinaga, um dos mais habilidosos jogadores da história do país, a equipe teve uma honrosa participação na Copa Libertadores do mesmo ano, quando só foi eliminada nos pênaltis para o Santos nas oitavas-de-finais, após aplicar 4 a 2 em Quito no primeiro confronto e perder por 2 a 0 no jogo da volta. Na fase de grupos conseguiu resultados expressivos ao derrotar os tradicionais Cobreloa (Chile) e São Paulo por 2 e 3 a 0 respectivamente. Vale salientar que no embate contra os santistas o treinador não era mais Jorge Fossati, que havia aceitado dirigir a seleção uruguaia e assim deixou a LDU, mas seu conterrâneo Daniel Carreño.

Com o salto de qualidade do futebol do Equador, que teve como consequência a excelente campanha nas Eliminatórias para a Copa de 2006 e a sua classificação pela primeira vez para o Mundial, a Liga Deportiva Universitaria acompanhou o ritmo e começou a alçar vôos mais altos. Dispondo de jogadores habilidosos como Néicer Reasco, Edison Méndez, Christian Mora, Paúl Ambrosi, Giovanny Espinoza, Patricio Urrutia e Agustín Delgado começava a ser brotada a semente de um time campeão, que culminou com os títulos da primeira divisão de 2005 e 2007. Mas foi em 2008 que a história do clube mudou completamente.

Sempre que disputava a Libertadores todos apontavam a Liga como um azarão, que tinha chances remotas de conseguir o troféu diante de gigantes como os times argentinos e brasileiros. Porém com o passar das fases o público do continente foi vendo as atuações da equipe com outros olhos. Com o argentino Edgardo Bauza como técnico e contando com outra safra de talentos como Damián Manso, Claudio Bieler, Enrique Vera, Norberto Araujo, Jairo Campo, Joffre Guerrón e Luís Bolaños, mesclados a alguns remanescentes da turma de 2005, a LDU começou a se impor diante de adversários mais tradicionais como Estudiantes, San Lorenzo e América do México e demonstrar um futebol envolvente e ofensivo. Não à toa chegou à grande final contra o Fluminense apontado como zebra, mas utilizou-se além da força do plantel de um importante aliado nos jogos em casa: a altitude de quase 3 mil metros. Tal colaboração da natureza foi vital para o sucesso equatoriano na competição, tanto que na primeira partida da finalíssima contra o tricolor carioca venceu com um placar elástico de 4 a 2. Para os brasileiros uma vitória por 3 gols de diferença era bastante possível. Lêdo engano. No início da partida os Albos logo mostraram seu cartão de visitas e tornou a missão tricolor muito complicada ao fazerem 1 a 0 com Bolaños. Os brasileiros até conseguiram virar o marcador para 3 a 1, mas que foi insuficiente para evitar a prorrogação, que terminou empatada em 0 a 0, e as cobranças de pênalti. Foi aí que entrou em cena outro herói equatoriano: o veterano goleiro José Cevallos. O arqueiro defendeu os arremates de Darío Conca, Thiago Neves e Washington e consagrou-se como um dos responsáveis pela histórica conquista da Liga Deportiva Universitaria.

Com a conquista a La U credenciou-se para a disputa do Mundial de Clubes da FIFA no Japão naquele ano. O resultado final com o vice-campeonato foi muito satisfatório, visto que foi derrotada pelo poderoso Manchester United na final dando muito trabalho para Cristiano Ronaldo, Wayne Rooney e companhia. Este jogo marcou a despedida de Edgardo Bauza do comando técnico do clube.

Mas quem pensou que 2008 foi apenas um "sonho de verão" na vida da Liga enganou-se redondamente. Ávida por mais triunfos no continente enfrentou o Internacional em 2009, que fora campeão da Copa Sul-americana no ano anterior, pela Recopa. Com duas vitórias incontestáveis os equatorianos levaram para Quito mais um troféu continental.

Pensam que parou por aí? Nada disso! O ano de 2009 ainda reservava um êxito internacional para a LDU. Jorge Fossati estava de volta à direção técnica e novamente levou a equipe à conquista de um torneio além das fronteiras equatorianas. A vítima novamente seria o Fluminense que do mesmo modo como um ano antes sucumbira diante do adversário perdera a partida de ida no estádio Casa Blanca por 5 a 1 com a altitude jogando a favor dos donos da casa. Na volta a vitória brasileira por 3 a 0 outra vez não surtiu efeito e o time de Urrutia, Bieler e Manso levantava seu terceiro troféu continental e entrava definitivamente para o rol das grandes forças futebolísticas da história do futebol da América do Sul.

Mas a saga dos Universitários continuou em 2010 ao baterem os argentinos do Estudiantes de La Plata no placar agregado de 2 a 1 e faturarem o bicampeonato da Recopa Sulamericana no início de setembro. O quarto título internacional em menos de 3 anos e o segundo sob a batuta de Bauza.

Para impor respeito um time de futebol precisa ter em seu histórico conquistas importantes e grandes jogadores. E a LDU está mostrando isso. Argentinos e brasileiros que se cuidem!

Abaixo, dados e estatísticas do novo gigante do cenário futebolístico sul-americano.


LIGA DEPORTIVA UNIVERSITARIA DE QUITO


* Fundação: 11 de janeiro de 1930

* Local: Quito/EQU

* Apelidos: La U, Albos, Universitarios 

* Estádio: Estadio de Liga Deportiva Universitaria "Casa Blanca" (55420 pessoas)

* Presidente: Carlos Arroyo 

* Treinador: Edgardo Bauza 

* Uniformes: camisas, shorts e meiões brancos (titular); camisas, shorts e meiões pretos (reserva) 

* Títulos (16): Campeonato Equatoriano (1969, 1974, 1975, 1990, 1998, 1999, 2003, 2005 e 2007), Terceira divisão equatoriana (1973), Segunda divisão equatoriana (1974 e 2001), Copa Libertadores da América (2008), Recopa Sul-americana (2009 e 2010) e Copa Sul-americana (2009)




Escudo: arquivo pessoal
Foto: Reuters

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