sábado, 7 de setembro de 2013

UM DIAMANTE DE 100 ANOS E MUITOS QUILATES


Leônidas da Silva: o eterno "Diamante Negro" e sua marca registrada, a bicicleta




As lendas e heróis sobrevivem anos após anos no imaginário das pessoas, sobretudo quando são seres reais. E no futebol não pode ser diferente, pois os mitos do esporte, os que de alguma forma contribuíram para o seu engrandecimento ao longo do tempo, jamais poderão ser esquecidos. Ainda mais em datas tão especiais como é o caso que vamos ver nesta postagem.

Há 100 anos, mais precisamente no dia 06 de setembro de 1913, nascia no Rio de Janeiro aquele que viria ser o primeiro grande atacante em escala mundial da história advindo do Brasil: Leônidas da Silva. Quando criança, no bairro de São Cristóvão, Leônidas dava seus primeiros chutes na bola com os amigos nas ruas e logo se notava sua imensa habilidade com a bola nos pés e a grande capacidade de marcar gols. Tanto que observadores do tradicional São Cristóvão de Futebol e Regatas levaram o garoto para atuar pelas categorias inferiores. No time suburbano conquistou o título carioca de juniores em 1929. A partir de suas grandes atuações o atacante já começaria a se tornar uma realidade no futebol.

Depois de rápidas passagens pelos extintos Sírio e Sul-América, Leônidas da Silva chegou ao Bonsucesso em 1931 e continuou a mostrar sua maestria em marcar gols. Não à toa já era chamado para a Seleção Carioca, na qual levantou o título de campeão brasileiro de seleções estaduais no mesmo ano. Foi durante a estada no clube alvirrubro que sua marca registrada na carreira foi colocada em prática pela primeira vez - a bicicleta.

Em 24 de abril de 1932 jogavam Bonsucesso e Carioca Esporte Clube quando ao receber uma bola cruzada da linha de fundo, Leônidas percebeu que ela estava atrasada em relação ao seu corpo. De pronto voltou-se de costas para a meta do arqueiro adversário e protagonizou um salto com chute que por pouco não balançou as redes. Atônita, a torcida presente ao modesto estádio do Leão da Leopoldina aplaudiu a desconhecida técnica com a conhecida interjeição de espanto "Oh".

Alguns pesquisadores não atribuem a Leônidas da Silva a criação da bicicleta, e sim o seu aperfeiçoamento. Uma parte credita a invenção da jogada ao espanhol naturalizado chileno Ramon Unzaga, tendo executado a jogada pela primeira em 1914 quando defendia o Club Estrella del Mar do Chile e que, posteriormente, ficou conhecida como "chilena". Já outra parcela atribui a outro brasileiro, o ex-atacante Petronilho de Brito, ex-Sírio Libanês/SP e San Lorenzo/ARG. Leônidas sempre se autoproclamou o autor da invenção da jogada e assim ficou conhecido durante toda sua vida.

Tamanho já era o sucesso do jogador de grande elasticidade e facilidade no domínio da bola que o poderoso Peñarol do Uruguai veio buscá-lo para atuar em seus quadros no ano de 1933, onde ajudou o clube a ficar com o vice-campeonato nacional. Em 1934 Leônidas regressou ao Brasil para vestir a camisa do Vasco da Gama e lá foi campeão carioca.

Foi na sua passagem pelo time cruzmaltino que Leônidas da Silva teve sua primeira convocação pra seleção brasileira. Foi chamado para defender a então camisa branca nacional na Copa do Mundo da Itália, quando marcou o único gol do Brasil no torneio, no qual sua equipe fez péssima campanha sendo derrotada logo na primeira partida pela Espanha por 3 a 1 e que culminou com a desclassificação.

Depois do Vasco o prolífico atacante teve uma breve passagem pelo extinto Sport Club Brasil no primeiro semestre de 1935 até chegar a outro grande do Rio de Janeiro: o Botafogo. No alvinegro de General Severiano Leônidas continuou ganhando títulos e ajudou a conquistar mais um carioca com seus muitos gols.

Veio então sua ida para o Flamengo em 1936, o primeiro clube profissional que realmente teria uma sequência na carreira e que se tornaria um de seus grandes ídolos. Foram 153 gols em 149 jogos com o rubronegro carioca durante 5 anos - uma impressionante média de mais de um gol por jogo. Faturou o campeonato estadual de 1939 com a camisa flamenguista.

À essa altura da carreira Leônidas já era reconhecidamente o melhor atacante do futebol brasileiro, dono de um talento que poucos jogadores poderiam ter. Tanto que foi figura carimbada para a Copa do Mundo de 1938 na França. Em campos franceses mostrou ao mundo toda sua genialidade sendo o artilheiro da competição com 7 gols e sendo peça importante para o terceiro lugar brasileiro. Por conseguinte foi eleito o melhor da competição. Um dos gols, inclusive, foi feito de pés descalço após sua chuteira descolar o solado e o jogador retirá-la. Como chovia bastante no estádio de Estrasburgo na partida diante da Polônia os pés do jogador estava completamente enlameado e o árbitro não percebeu o ocorrido. No raro vídeo abaixo o próprio artilheiro explica o inusitado fato.




Leônidas da Silva não foi apenas pioneiro dentro de campo com a criação ou aperfeiçoamento da bicicleta, mas também fora dele. Além dos gols de bicicleta e sem chuteira, o atleta foi o primeiro no história do país a associar sua imagem à uma marca de produto.


Leônidas, o "Diamante Negro": pioneiro também no marketing pessoal



Em 1939, depois da brilhante campanha pela seleção no Mundial e do título carioca pelo Flamengo, a empresa Lacta, fabricante de chocolates, criou o "Diamante Negro" após o jornalista francês Raymon Thourmagem, da revista Paris Match, batizá-lo com esse nome. À época pagou-se 2 contos de réis (equivalente a pouco mais de R$ 110 mil nos dias atuais) pela uso da imagem do jogador flamenguista. Até hoje o chocolate é vendido no Brasil e é sucesso de vendas. Thourmagem também daria outro apelido a Leônidas da Silva: "Homem Borracha" dada sua elasticidade em campo.

Em 1942 Leônidas da Silva deixou o Flamengo e rumou para o São Paulo, onde ficaria marcado por seus vários títulos e por ser um dos grandes ídolos dos tricolores paulistas em toda a história. Foi à época a maior transação futebolística: 200 contos de réis. Tanto que ficou conhecido como o "Bonde de 200 contos", em alusão à sua idade (29 anos) e à sua forma física que julgava estar fora dos padrões esportivos. Mas o tempo tratou de corrigir essa impressão errônea - foram 9 anos e cinco títulos estaduais com o clube do Morumbi.

Abaixo você ouve o depoimento do inesquecível locutor esportivo Geraldo José de Almeida e a sua narração de um gol de Leônidas marcado de bicicleta pelo São Paulo. Foi no dia 14 de junho de 1942, pelo Campeonato Paulista, quando o craque aplicou a emblemática acrobacia para empatar a partida diante do Palestra Itália. Apesar do lance de placa os sãopaulinos foram derrotados por 2 a 1.





Em 1951 Leônidas encerrou sua brilhante carreira de jogador aos 38 anos deixando um legado importante de pioneirismo e de futebol-arte. Alguns cronistas da época chegaram a questionar a não presença do "Diamante Negro" na Copa do Mundo de 1950 tamanha a importância e a capacidade goleadora do atacante.

Na seleção brasileira foram 37 jogos e 37 gols, média de um por partida (o maior goleador de todos os tempos nesse aspecto), entre 1934 e 1946, conquistando a Copa Rocca de 1945.

Depois de aposentado dos gramados, Leônidas da Silva teve uma breve passagem como treinador do São Paulo em algumas ocasiões e como dirigente também no tricolor. Virou comentarista esportivo e era conhecido por seu estilo duro e direto nas palavras, o que não o impediu de ser agraciado em diversas oportunidades com o troféu Roquette-Pinto, o "Oscar brasileiro do rádio" por sua grande contribuição ao veículo no setor esportivo.

Em 1974 teve que deixar os comentários devido ao Mal de Alzheimer que o acometeu e o levou a viver em uma clínica em São Paulo por 30 anos. Recebeu diversas homenagens, inclusive uma estátua em tamanho real no museu do São Paulo revivendo a imortal bicicleta da foto do começo dessa postagem.

Leônidas da Silva faleceu em 2004 devido à complicações da doença, aos 90 anos, e está sepultado na capital paulista, cidade que o adotou como cidadão após sua inesquecível passagem pelos gramados locais.

Diamantes são raros na natureza e lapidados para que sejam modelados e polidos, extraindo toda sua beleza e qualidade. E assim foi Leônidas da Silva, uma rara jóia de muitos quilates lapidada para brilhar na história do nosso futebol.

Abaixo, dados e estatísticas do centenário "Diamante Negro".


* Nome: Leônidas da Silva

* Nascimento: 06 de setembro de 1913 no Rio de Janeiro/RJ

* Posição: atacante

* Clubes (10): São Cristóvão (1928 a 1929), Sírio-Libanês (1929), Sul-América (1929 a 1930), Bonsucesso (1931 a 1932), Peñarol/URU (1933), Vasco da Gama (1934 a 1935), Sport Club Brasil (1935), Botafogo (1935 a 1936), Flamengo (1936 a 1941) e São Paulo (1942 a 1951)

* Títulos por clubes (8): Campeonato Carioca (1934, 1935 e 1939) e Campeonato Paulista (1943, 1945, 1946, 1948 e 1949)

* Seleção carioca: 1931 a 1932 (número de jogos desconhecido)

* Título pela seleção carioca (1): Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais (1931)

* Seleção Brasileira: 37 jogos entre 1934 e 1946 e 37 gols

* Título com a seleção brasileira: Copa Rocca (1945)

* Clube como treinador (1): São Paulo (1950, 1951, 1952 e 1954 a 1955)

* Honras pessoais: Artilheiro da Copa do Mundo de 1938 (7 gols), Melhor jogador da Copa do Mundo de 1938



Fotos 1 e 2: Autores desconhecidos
Imagem: Arte esporte - Cláudio Roberto

Nenhum comentário: