Futebol e rádio: duas paixões nacionais lado a lado
Hoje, 25 de setembro, é um dia especial para todos os comunicadores do país. Comemoramos o "Dia do Rádio", homenagem mais que justa à data de nascimento de Edgar Roquette-Pinto, considerado o "Pai da radiodifusão brasileira". E foi graças ao pioneirismo de Roquette-Pinto que esse veículo revolucionou a comunicação no país e mexeu com os sonhos e com o imaginário da população.
Em 2009 este blog publicou uma postagem a respeito do futebol brasileiro nas ondas do rádio, contando um pouco de sua história e mostrando sua evolução ao longo dos anos com áudios históricos de profissionais que fortaleceram/fortalecem a paixão nacional pelo futebol, que muito contribuiu para que o esporte se popularizasse por todo o Brasil. Desta forma, em homenagem ao Dia do Rádio, vamos reproduzir o post logo a seguir.
O FUTEBOL BRASILEIRO NO RÁDIO
Postagem de 11/12/2009
A história do futebol, tema principal deste blog, não se passa apenas dentro do gramado. Muito da paixão arrebatadora mundo a fora se deve às irradiações radiofônicas levadas ao 4 cantos do planeta por profissionais extremamente competentes e que deixaram - ou estão deixando - importantes legados para o esporte. O que seria da modalidade esportiva se no século 19, pouco tempo depois da "oficialização" do futebol na Inglaterra, não fossem esses aparelhos que divulgavam os eventos esportivos e informavam e transmitiam-nos aos mais longínquos apreciadores?
Aqui no Brasil o rádio deu seu primeiro passo em 7 de setembro de 1922, no centenário da independência, durante uma grande feira internacional que recebeu visitas de empresários americanos trazendo a tecnologia de radiodifusão para o conhecimento dos brasileiros. Para testar o novo equipamento, até então desconhecido entre os nativos, os cientistas norte-americanos instalaram uma antena receptora no alto do Corcovado, no Rio de Janeiro (então Capital Federal), e transmitiram um discurso do presidente à época Epitácio Pessoa. O responsável direto pela primeira transmissão radiofônica no país foi o médico legista, professor, antropólogo, etnólogo e ensaísta brasileiro Edgar Roquette-Pinto (1884-1954). Sua primeira reação ao ouvir, emocionado, a transmissão das palavras presidenciais naquele dia foi dizer: "Eis uma máquina importante para educar nosso povo".
A primeira transmissão por rádio de um jogo de futebol em solo brasileiro se deu na data de 19 de julho de 1931 pela Rádio Educadora Paulista através da voz do locutor Nicolau Tuma, que narrou o confronto entre as seleções de São Paulo e do Paraná no Campo da Floresta, na capital paulistana. Infelizmente não há registro gravado deste importantíssimo feito, mas ficou marcado na história da radiodifusão esportiva brasileira através das letras. Naquela época as transmissões futebolísticas se resumiam a boletins informativos para os ouvintes. Relatam os historiadores que Tuma foi o "pai da narração esportiva no Brasil", pois foi o pioneiro na idéia de irradiar um jogo na íntegra. Foi ao vestiário antes do início da partida para anotar as características físicas de cada jogador (naquele tempo ainda não se usavam os números às costas nas camisas dos clubes) e assim poder identificá-los no decorrer da narração. O radialista, que ficou conhecido como o "locutor metralhadora" por seu estilo rápido de transmitir as partidas, aproveitou a ocasião para explicar as regras do esporte que ainda estava engatinhando rumo ao sucesso no país. O jogo terminou em 6 a 4 para os donos da casa.
Com o passar do tempo a qualidade do som das transmissões e da narração dos locutores foram melhorando significativamente. Equipamentos mais modernos faziam com que as irradiações dos principais jogos de futebol no Brasil a fora fossem conquistando cada vez mais adeptos. Do chiado constante da década de 30 à transmissão praticamente sem ruídos da atualidade, o rádio passou por grandes modificações ao longo do tempo, especificamente nessa postagem no aspecto locução como veremos adiante. Desde Tuma, Gagliano Neto e Ary Barroso no início do século passado até José Carlos Araújo, Luís Penido, Oscar Ulisses, entre tantos outros nos dias atuais.
Como exemplo trouxe para vocês 5 locuções esportivas em diferentes tempos para análise. Para ouví-las basta clicar no link correspondente. No primeiro, o leitor poderá acompanhar uma narração feita por Armando Pamplona, no distante ano de 1934, pela Rádio Educadora de São Paulo, durante uma partida amistosa entre a Seleção Paulista e o Bologna da Itália.
Percebam que a qualidade da transmissão é precária, mas que ainda assim conseguimos ouvir e entender as palavras de Armando Pamplona. A narração é bem no estilo "mestre de cerimônias", como uma espécie de apresentador, tratando até os espectadores como "senhores" e "senhoras" e fazendo uso de palavras rebuscadas e praticamente sem uso nas locuções esportivas da atualidade.
Na seguinte temos as locuções de Jorge Curi e Antônio Cordeiro pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro em 1950, na fatídica final da Copa do Mundo entre Brasil e Uruguai no estádio do Maracanã. Na ocasião a Rádio Nacional inovara no método de transmissão de um jogo de futebol, em que envolvia dois narradores ao mesmo tempo para irradiar cada um o seu lado do campo. No link abaixo ouviremos o áudio com o começo da narrativa de Cordeiro, que estava no lado do ataque brasileiro, e terminando com o gol do uruguaio Gigghia (o do título) trazido por Curi.
Nesta parte notamos que a narração ficou mais dinâmica, mais rápida, e a qualidade do som é bem maior. Ainda assim o aspecto de cerimônia, de trazer a partida de futebol irradiada como informação, digamos, pura, não como entretenimento também, persiste no final da narrativa.
No seguinte ouviremos a voz de Pedro Luiz Pauliello na final da Copa do Mundo de 1962 entre Brasil e Tchecoslováquia pela Rádio Bandeirantes de São Paulo. Não custa lembrar que a Seleção Brasileira tornou-se bicampeã mundial na ocasião.
Nesta locução fica cada vez mais nítida a eloquência do narrador, que passava a torcer pelo time em campo quase como um torcedor que estava nas arquibancadas e pela tentativa de levar o máximo de emoção possível aos ouvintes do que se passava em campo.
A seguir vamos ouvir o áudio de um dos verdadeiros "monstros sagrados" do rádio esportivo brasileiro em todos os tempos. Waldir Amaral, então na Rádio Globo, trazendo a decisão do Cameponato Brasileiro de 1974 entre Vasco da Gama e Cruzeiro, vencida pelo clube carioca.
Amaral narra o confronto com extrema rapidez, dado o contínuo aumento da velocidade do jogo com o passar dos anos, mas com bastante clareza. Tenta fazer com que o ouvinte que estava fora do estádio ouvindo pelo rádio se sinta dentro dele trazendo a partida nos mínimos detalhes.
Por fim, no século 21, a narração do também brilhante José Carlos Araújo, da Rádio Globo do Rio de Janeiro em 2001, na partida entre Flamengo X Vasco da Gama válido pelo Campeonato Carioca daquele ano, trazendo para os espectadores toda a emoção do gol histórico de falta do meia sérvio Dejan Petkovic que deu o título ao rubronegro. Atenham-se à narração, já que o vídeo apenas traz slides a respeito do confronto citado.
É notório que atualmente um espectador pode tranquilamente ligar sua TV, baixar o volume, e ouvir pelo rádio a transmissão da partida. O dinamismo na narração é tão latente que o ouvinte se sente completamente em campo. São muitos detalhes descritos pelos narrador, interação dos comentaristas que praticamente dividem a irradiação com o locutor oficial, dos repórteres e do próprio público, sem contar a nítida qualidade sonora nos tempos atuais.
Enfim, o rádio ainda é um meio de comunicação que encanta e traz informação em tempo real. A inserção e o consequente sucesso do futebol no nosso país muito se deve ao seu poder de comunicação, sem distinção de pobre ou rico, negro ou branco, já que um pequeno radinho de pilha pode ser comprado pelo mais simples até o mais abastado trabalhador - eu mesmo sou um apaixonado por esses aparelhinhos que irradiam som e não passo um dia sequer sem sintonizar as emissoras. Todos envolvidos pela mesma magia transmitida através de ondas em AM ou FM.
Foto (José Carlos Araújo): Bastidores do Rádio
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