Fim de semana de futebol que quase termina em tragédia pelo Brasil
Nem sempre o futebol é só alegria para torcedores e profissionais que trabalham no meio, seja dentro dos próprios clubes, prestam serviços (como policiais, vendedores, etc.) ou na imprensa. No fim de semana que passou dois fatos lamentáveis aconteceram no que deveria ser apenas mais uma rodada do esporte mais popular do país.
De um lado o poderoso Palmeiras, amargando a Série B em 2013, enfrentando o menos tradicional ABC em Natal no estádio Frasqueirão (1ª foto). O que se viu foi um "ensardinhamento", se é que podemos falar assim, de torcedores no portão de entrada C do estádio. As imagens não mentem e só comprovam que houve falta de bom senso e de organização do evento, colocando em risco o real motivo de existência do futebol: o torcedor. Jovens e adultos correndo perigo de esmagamento contra o alambrado do estádio, relembrando a tragédia de Hillsborough na Inglaterra, em 1989, em que quase 100 pessoas morreram ora asfixiadas, ora esmagadas por superlotação. Enquanto isso dirigentes do time natalense, Polícia Militar e demais envolvidos diretamente com a organização do evento ficam jogando a culpa uns nos outros.
Do outro, pela Série A, o maior clássico do estado do Paraná: Atlético e Coritiba - o "Atletiba". O que também era pra ser uma disputa apenas na bola passou para as arquibancadas - e de maneira nada saudável. Uma briga entre torcidas no estádio da Vila Capanema (2ª foto) provocou vários feridos, inclusive com queda de alambrado e policiais atirando em direção às pessoas com balas de borracha. Por pouco outra tragédia não acontecia nos gramados brasileiros e alguma providência deve ser tomada para se encontrar os culpados pelos graves ocorridos.
Dessa forma como se pode popularizar o esporte no país? Crianças ficam traumatizadas e adultos não vão mais por temerem outras confusões parecidas com riscos até de morte. E olha que ambas as cidades são sedes da próxima Copa do Mundo. É assim que os gestores do nosso futebol querem fazer a "maior Copa da história"? Muito complicado.
Aproveitando o mote relembro uma postagem deste blog de fevereiro de 2012 que tratou das maiores tragédias da história do futebol mundial. E vejam que algumas são bem parecidas com os tristes acontecimentos do sábado e do domingo aqui no Brasil - que por sorte não entraram nas péssimas estatísticas que serão mostradas a seguir.
NEM SEMPRE O FUTEBOL TRAZ ALEGRIAS
Postagem de 04/02/2012
Infelizmente nem sempre o futebol traz alegria e emoção ao torcedor. Assim como qualquer outra atividade na vida tem seus momentos de tristeza e amargura, como o que vimos na última semana em Port Said, no Egito, onde 74 pessoas morreram e outras centenas saíram feridas após uma partida pela liga local entre Al-Masry e Al-Ahly.
A história mostra, ao lado de triunfos e da euforia de equipes e torcidas vitoriosas, que os problemas dentro e fora dos estádios são bem antigos. Sejam por má gestão da organização do evento, estruturas precárias, pela fúria desenfreada de vândalos travestidos de torcedores ou, simplesmente, por ineficiência da segurança no local. E o fato lamentável ocorrido em solo egípcio foi mais um a entrar nas estatísticas do lado triste que o futebol tem – e que pelo visto vai demorar muito a ficar sem solução, não sei se por negligência das autoridades ou por falta de civilidade de quem frequenta esses locais.
O primeiro desastre oficialmente registrado em estádios ocorreu em 1902 na Escócia, no Ibrox Stadium. Algum tempo depois tivemos os desastres em Burnden Park, na Inglaterra, na década de 40, no Heysel Stadium em Bruxelas, na Bélgica, e em Hillsborough em Sheffield, na Inglaterra nos anos 80, na Guatemala em 1996, pelo continente africano e até aqui no Brasil – mais precisamente na Bahia – na década passada, entre outros.
Ou seja, o esporte já testemunhou em mais de um século diversos problemas desta natureza em ambientes que deveriam se restringir à prática desportiva. Sempre é assunto recorrente a (in)segurança do público nos estádios de futebol. Por isso mesmo o blog vai relembrar algumas das principais tragédias ocorridas na história do futebol por ordem cronológica.
Ibrox Stadium (Glasgow/ESC) – 05 de abril de 1902
Vista da arquibancada que desabou
No decorrer de uma partida entre a seleção escocesa e a inglesa um lance de arquibancadas recém inauguradas do estádio desabou, ferindo 517 pessoas e matando outras 25. O motivo foi o colapso da estrutura de madeira, que alicerçada por vigas de aço, após um intenso temporal que caíra sobre a cidade na noite anterior ao jogo, que foi suspenso no início do segundo tempo e reiniciado no dia 03 de maio no estádio Villa Park em Birmingham na Inglaterra. Tal evento motivou as federações de futebol de todo o Reino Unido a abolir o uso das vigas metálicas nas arquibancadas e substituí-las por estruturas de concreto.
Burnden Park (Bolton/ING) – 09 de março de 1946
Mortos e feridos após tumultuo em Bolton
Durante as quartas-de-final da FA Cup entre Bolton Wanderers e Stoke City milhares de pessoas entraram no estádio sem pagar ingresso, causando superlotação. Cerca de 85 mil espectadores se amontoaram num espaço projetado para receber 70 mil e o resultado foi o desabamento de uma das arquibancadas, que resultou na morte de 33 pessoas e em aproximadamente 500 feridos. Até então era a maior tragédia ocorrida em gramados ingleses em todos os tempos. Por incrível que pareça a partida foi interrompida após o acontecimento e recomeçou depois de algum tempo – terminou empatada em 0 a 0.
Estádio Nacional (Lima/PER) – 24 de maio de 1964
Lima 1964: maior tragédia dentro de um estádio da história do futebol
As seleções do Peru e da Argentina duelavam por uma vaga nos Jogos Olímpicos de Tóquio e os donos da casa jogavam por um simples empate para se classificarem. Entretanto, os argentinos abriram o placar, mas perto do fim da partida os peruanos empataram para delírio da torcida presente. Só que o árbitro da partida invalidou o gol, minando completamente as chances peruanas de irem ao Japão. Os torcedores se revoltaram e começaram a atirar tijolos e pedras para o gramado e a polícia local revidou com gás lacrimogêneo. Dois portões do estádio estavam trancados onde um segurança ficava no local. O tumultuo foi aumentando e com as duas saídas fechadas as pessoas começaram a ser esmagadas e asfixiadas com o amontoamento de gente em pânico. Foi a maior tragédia da história do futebol dentro de um estádio: 318 mortos e cerca de 500 feridos.
Ibrox Stadium (Glasgow/ESC) – 02 de janeiro de 1971
Vítimas da segunda tragédia em Ibrox sendo socorridas
Rangers e Celtics faziam o Old Firm, tradicional clássico escocês cuja rivalidade entre as torcidas é uma das maiores do planeta (assunto já retratado aqui no blog) – se não a maior – e requer todos os cuidados, quando os Bhoyz fizeram 1 a 0 aos 44 minutos da etapa final. Com a iminente derrota vários torcedores dos Gers começaram a se deslocar para a saída do estádio, entretanto, nos acréscimos, o atacante Colin Stein empatou a partida, provocando o retorno em massa de muitas pessoas que já tinham se deslocado para comemorar o gol da igualdade. O resultado foi um tumultuo generalizado na escadaria número 13 do Ibrox, que culminou com o esmagamento e morte de 66 pessoas – entre elas várias crianças – por asfixia e deixando outras 150 feridas.
Valley Parade (Bradford/ING) – 11 de maio de 1985
Pânico após incêndio em Bradford
Após conquistar o retorno à segunda divisão inglesa naquela temporada, o Bradford City jogava contra o Lincoln City pelas rodadas finais da “Terceirona”. O que era para ser um jogo festivo para os torcedores virou tragédia após supostamente uma ponta de cigarro atirada por um torcedor embaixo das arquibancadas principais, feitas de madeira, ter dado início a um incêndio de grandes proporções. O jogo foi suspenso e o saldo final foi de 56 mortes e 256 pessoas feridas.
Heysel Stadium (Bruxelas/BEL) – 29 de maio de 1985
Tragédia de Heysel: a mais conhecida
Certamente a tragédia dentro de estádio mais conhecida da história, pois envolveu uma final de Copa dos Campeões da Europa (atual Liga dos Campeões) entre Juventus/ITA e Liverpool/ING. Nos dias que antecediam a decisão as autoridades belgas, já sabedoras das possíveis conseqüências do encontro das duas torcidas, anunciaram uma série de medidas a fim de se evitar o confronto: revista em todos os espectadores na entrada para o jogo, proibição de venda de bebidas alcoólicas nas cercanias do estádio e um destacamento de 1500 policiais para garantir a segurança. Contudo, alguns bares próximos ignoraram as recomendações e serviram normalmente os torcedores. Fora do Heysel os distúrbios já começaram entre os Hooligans (os baderneiros) de ambas as equipes ao ponto de uma joalheria na vizinhança ter sido saqueada. Havia um planejamento para uma grande divisão das torcidas nas arquibancadas, entretanto, o que se viu foi a tribuna norte apinhada de torcedores dos dois clubes, separados apenas por uma simples grade de alguns policiais. Os britânicos começaram a provocação e o tumultuo ganhou proporções sem controle. Os confrontos começaram ali mesmo entre ingleses e italianos, tanto que a grade que separavam os rivais cedeu à pressão. Vários torcedores da Juventus foram agredidos pelos ingleses, inclusive com barras de ferro. Tamanho o pânico na torcida que o muro também cedeu e levou junto mais algumas dezenas de pessoas. O resultado do ocorrido foi a culpa do incidente imputada aos ingleses, um balanço final de 38 mortos e um número não confirmado de feridos. A polícia não deteve ninguém, mas os clubes ingleses sofreram uma dura punição: banimento das competições européias por um período de 5 anos. O jogo, relegado ao segundo plano, terminou 1 a 0 para a Vecchia Signora.
Hillsborough (Sheffield/ING) – 15 de abril de 1989
Hillsborough: mais um caso de superlotação no estádio
Mais uma vez uma FA Cup via uma tragédia dentro de um campo de futebol. Desta vez valendo pelas semifinais, Liverpool e Nottingham Forest iam se confrontar no campo do Sheffield Wednesday FC, que tinha capacidade para quase 40 mil espectadores. A polícia local dividiu as torcidas nas arquibancadas e abriu um portão para a saída, que resultou num tumultuo generalizado com torcedores do Liverpool entrando por ele, causando uma superlotação do setor Lepping Lane Ends reservado aos fãs dos Reds. A pessoas iam sendo esmagadas no alambrado que separava o público do gramado até que a estrutura cedeu à pressão. A partida foi cancelada. O saldo foi de 96 mortos e 766 feridos, configurando-se na maior tragédia em estádios britânicos da história.
Estádio Armand Césari (Bastia/FRA) – 05 de maio de 1992
Arquibancada feita de última hora destruída em Bastia
Bastia e Olympique de Marselha iam se enfrentar pela Copa da França e a diretoria dos donos da casa resolveram de última hora aumentar a capacidade do estádio em 50%, tendo em vista a importância do confronto. As autoridades locais aprovaram a nova estrutura sem nenhuma restrição. Momentos antes do jogo o novo setor já estava sendo tomado e não suportando o peso do público desabou matando 18 pessoas e ferindo aproximadamente outras 2300.
Estádio Mateo Flores (Cidade da Guatemala/GUA) – 16 de outubro de 1996
Avalanche humana na Guatemala
Guatemala e Costa Rica iam se enfrentar pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1998 e o estádio estava com público bem acima de seus 30 mil lugares. O motivo foi o derramamento de ingressos falsos nas mãos de cambistas que desencadeou numa avalanche humana para dentro de campo. Vários torcedores foram esmagados e pisoteados e o balanço final da tragédia foi de 150 pessoas feridas e 83 mortas.
Ellis Park (Johanesburgo/AFS) – 11 de abril de 2001
Ellis Park: quase o dobro da capacidade máxima
Em outra grande rivalidade do futebol, Kaiser Chiefs e Orlando Pirates iam se enfrentar no Ellis Park e um grande público era esperado para o confronto. O estádio tinha capacidade para 60 mil pessoas, mas incrivelmente recebeu segundo relatos da época de 90 a 120 mil espectadores. A situação já era desconfortável para a torcida presente com o pouco espaço e só piorou quando os Pirates marcaram um gol. Vários torcedores dos Chiefs revoltados quiseram invadir o gramado e o que já era uma bomba relógio prestes a explodir foi à tona! O policiamento tentou reprimir os revoltosos lançando gás lacrimogêneo sobre os invasores, mas a o tumultuo só aumentou. Muitas pessoas foram pisoteadas na confusão – 43 morreram e cerca de 150 ficaram feridas.
Accra Sports Stadium (Accra/GAN) – 09 de maio de 2001
Incidente em Gana foi o maior da história do continente africano
Poucos dias depois da tragédia no Ellis Park foi a vez do futebol ganês viver momentos de terror dentro do estádio de futebol – e em mais um clássico local. Accra Hearts of Oaks e Asante Kotoko se enfrentavam para uma casa lotada e a partida terminou em 2 a 1 para os anfitriões. Indignada com o resultado, a torcida visitante começou um tumultuo nas arquibancadas e passou a arremessar assentos e garrafas de plásticos para o gramado. O policiamento local reagiu com gás lacrimogêneo e provocou pânico generalizado nas pessoas presentes, que tentaram fugir desordenadamente. Com os portões fechados vários torcedores se amontoaram, causando a morte de 127 pessoas por esmagamento e asfixia. Esta foi a maior tragédia dentro de um campo de futebol da história do futebol africano. O detalhe mais triste é que não havia mais equipe médica no estádio – eles haviam deixando o local minutos antes da confusão.
Fonte Nova (Salvador/BRA) – 25 de novembro de 2007
Salvador: estádio em péssimo estado de conservação
Em jogo válido pela fase final da Série C do Campeonato Brasileiro, Bahia e Vila Nova/GO se enfrentavam em campo e o jogo estava 0 a 0 para um público de cerca de 60 mil pessoas. Aos 43 minutos do 2º tempo uma parte das arquibancadas do estádio desabou matando 7 pessoas e ferindo 40. O laudo divulgado posteriormente constatou que o estado das estruturas da Fonte Nova era péssimo.
Port Said Stadium (Port Said/EGI) – 01 de fevereiro de 2012
Port Said: jogadores são alvos da ira dos revoltosos
Depois da vitória de 3 a 1 do anfitrião Al-Masry sobre o Al-Ahly vários torcedores do clube local invadiram o gramado e atacaram a torcida e os jogadores visitantes e a polícia com pedras, artefatos de fogo, facas, garrafas, pedaços de pau e até espadas. Os atletas fugiram para o vestiário. Milhares de revoltados transformaram o estádio em uma praça campal de guerra, que teve como saldo final 79 mortos e mais de 1000 feridos. As autoridades egípcias investigam o caso e abriram a possibilidade do motivo do confronto não ser apenas esportivos, mas também político, visto que o país recentemente passou por um sangrento processo de mudança no governo.
Foto 1: Augusto Gomes - G1/RN
Foto 2: Geraldo Bubniak - Fotoarena
Foto 3: Autor desconhecido
Foto 4: Merseyside Potters
Foto 5: TPS
Foto 6: Daily Record
Foto 7: Bradford Timeline
Foto 8: Daily Mail
Foto 9: Bleach Report
Fotos 10 e 11: TVXS
Foto 12: Odd Culture
Foto 13: Futura Press
Foto 14: Reuters
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