sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A PIONEIRA - MAS ÚNICA - PARTICIPAÇÃO NA COPA

Índias Holandesas (foto 2): a primeira e única participação da Indonésia (foto 1) nas Copas




Com a proximidade da Copa do Mundo de 2010 este blog recebeu um e-mail através do endereço futebolhistoria@st-davids.net bastante interessante e muito pertinente com uma pergunta do leitor Armando Rodrigues, brasileiro residente em Berna, na Suíça, a respeito da participação da Indonésia em um Mundial.

Transcrevo a dúvida do Armando (sic): "Me intriguei com a Indonésia tendo participado da copa de 38 e quando fui pesquisar não encontrei nada ao seu respeito. Vc poderia me esclarecer isso?"

Esclarecendo o amigo internauta, a Indonésia "como Indonésia" realmente não participou de nenhuma Copa do Mundo, entretanto em 1938 suas terras eram colônias da Holanda e ostentavam o nome de Índias Orientais Neerlandesas (Dutch East Indies), ou simplesmente Índias Holandesas.

Seu território abrangia todo o espaço que hoje é o da Indonésia. Desde o século XV as terras eram disputadas entre holandeses e portugueses, que pretendiam ter controle do principal porto da região situado na Ilha de Java. Em 1605 barcos mercantes da Holanda aportaram nas ilhas Molucas e capturaram o forte português de Amboyna, que foi o marco para a colonização local pelos Países Baixos.

Até 1949 sempre figurou como Índias Holandesas, quando teve sua independência reconhecida pela comunidade internacional (a declaração de emancipação foi feita em 1947). Sua capital era Batávia, atual Jacarta, que alterou seu nome também em 1949.

Agora futebolisticamente falando a Indonésia herdou todo o passado esportivo das Índias Holandesas, inclusive sua solitária participação na Copa do Mundo de 1938, na França. Foi um feito que entrou para a história, pois tornou-se a primeira nação asiática a participar da competição. Não havia eliminatórias e a seleção foi meramente convidada pela FIFA.

Como era de se esperar o futebol não era algo muito desenvolvido naquela região, como hoje ainda não o é, e a empreitada indiana não foi bem sucedida - derrota por 6 a 0 perante os húngaros, que viriam a ser os futuros vice-campeões mundiais (os italianos faturaram o bi). Vale salientar que sua primeira partida internacional acontecera apenas 4 anos antes diante das Filipinas e com derrota por 3 a 2 na casa do adversário.

Foi a primeira e única participação do país em Copas do Mundo, mas que serviu para a história do futebol como porta de entrada para as seleções asiáticas no torneio. Tudo bem que os indonésios só foram a título de aprendizado para a Europa, entretanto deram uma imensa contribuição para o esporte no oriente com seu pioneirismo.

Espero ter contribuído com o fim de sua dúvida, meu caro Armando. Agradeço a sua participação e convido desde já os demais amigos que acompanham o blog a interagirem como ele - através do e-mail ou do link "chute" com seu comentário ao final de cada publicação.

Abaixo, dados e estatísticas da participação solitária, mas pioneira, dos indianos/indonésios:


Copa do Mundo de 1938 - França

HUNGRIA 6 X 0 ÍNDIAS ORIENTAIS HOLANDESAS

* Data: 05 de junho de 1938
* Local: Velodrome Municipale - Reims/FRA
* Público: 9000 pessoas
* Gols: Kohut (13' do 1º t.), Toldi (15' do 1º t.), Sárosi (25' do 1º t. e 43' do 2º t.) e Zsengellér (30' do 1º t. e 22' do 2ºt.)

* Formações:

HUNGRIA: Hada; Bíró e Koranyi; Balogh, Lázár e Turay; Toldi, Zsengellér, Sárosi, Kohut e Sas - Alfred Schaffer (técnico)

ÍNDIAS HOLANDESAS: Mo Tan; Hong Tan e Sutan; Samuels, Meeng e Nawir; Pattiwael, Taihuttu, Soedarmadji, Sommers e Hukon - Johannes Van Mastenbroek (técnico)

* Árbitro: Roger Conrie/FRA


Obs.: Na próxima publicação falarei um pouco sobre a seleção indonésia, sucessora das Índias Holandesas.



Foto 1: Zooomr
Foto 2: Chris Hunt

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

UM ARGENTINO DERROTADO; UM ITALIANO VITORIOSO

Monti (nas fotos indicado com setas): de derrotado argentino a vencedor italiano





Na onda das naturalizações desacerbadas de hoje em dia, que até já foi assunto tratado neste blog, muitos atletas já foram campeões mundiais de futebol vestindo a camisa de outras pátrias que não as suas de nascimento. Tivemos o caso de Filó em 1934 servindo a seleção italiana, o primeiro brasileiro campeão do mundo da história, do argentino Mauro Camoranesi também campeão do mundo pela Itália em 2006, entre outros. Porém nenhum deles conseguiu (nem conseguirá mais, visto que tal atitude é proibida pela FIFA nos dias atuais) a façanha que um jogador com dupla nacionalidade em 1930 e 1934 alcançou: a de disputar duas finais por países distintos.

Tal feito foi atingido por Luis Felipe Monti, argentino que nasceu em Buenos Aires no dia 15 de maio de 1901, que chegou à final do Mundial de 1930 com seu país natal e repetiu a dose 4 anos mais tarde na ocasião ostentando a camisa italiana. Monti era center half, ou seja, volante na atualidade, já que àquela época os meias não tinham tanta função de marcação - no máximo marcar a saída de bola de um atacante do time adversário. Tinha estilo de jogo muito duro, baseado na força física, mas que não deixava de ter técnica. Tanto é que foi chamado pra atuar por duas seleções em Copas do Mundo e fez parte de um grande time formado pela Juventus de Turim nos anos 30.

Luis Monti começou sua carreira futebolística no Club Atlético Huracán aos 20 anos. Logo em sua estréia como atleta de futebol ajudou o time dos arredores da capital argentina a faturar o título nacional. Sua categoria no meio-campo logo chamou a atenção dos gigantes do Boca Juniors e no outro ano já se apresentava como jogador da equipe do bairro de La Boca. Porém sua passagem pelos xeneizes foi meteórica e na mesma temporada vestia a camisa do San Lorenzo de Almagro. Com os Corvos deu prosseguimento à sua trajetória de conquistas e levantou mais 3 troféus de campeão argentino.

Diante de suas boas atuações foi convocado para a seleção argentina pela primeira vez em 1924. Jogou pela Albiceleste por 7 anos e com ela levou a Copa América de 1927, a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 1928, em Amsterdã, e participou da Copa do Mundo de 1930, realizada no Uruguai, onde marcou 2 gols mas acabou sucumbindo novamente diante dos donos da casa na final do torneio, já que nas Olimpíadas enfrentou também a Celeste Olímpica na grande decisão do ouro.

Após o vice-campeonato mundial e com 29 anos de idade pouco se acreditava que Monti pudesse dar um salto de qualidade à sua carreira dentro do então amador futebol argentino. Ainda no San Lorenzo começou a ficar fora de forma e a pouco ligar para o condicionamento físico, chegando até a parar de jogar futebol e começar a trabalhar em uma fábrica de biscoitos na capital dos argentinos. Porém, em 1931, recebeu um convite para atuar pela poderosa Juventus de Turim e o aceitou. Chegou à Itália sob olhares bastante desconfiados, pois já passava dos 30 anos de idade e estava visivelmente acima de suas condições físicas ideais. Relatos históricos afirmam que o meia ficou bastante chateado com a reação do público e da imprensa italianos, mas que usou o fato como incentivo para demonstrar que conseguiria vencer. Desde o dia 1º de agosto até o fim de setembro começou um trabalho árduo de aprimoramento físico sem sequer tocar em bola. Tamanho sacrifício rendeu-lhe 13kg a menos de peso. A temporada européia estava quase se iniciando e lá estava Luis Monti pronto para jogar pela Vecchia Signora.

Na Juve foram 8 temporadas, 225 jogos e 20 gols marcados, ajudando significativamente na conquista de 4 Scudettos consecutivos (1931-35). Segundo os especialistas e historiadores de esportes italianos, Monti foi um dos mais firmes - mas leais - meias que já jogou no futebol do país na história. Enfim, chegou ao seu objetivo que era mostrar que poderia ainda render bons frutos dentro das quatro linhas.

Em 1932, com a política fascista de Benito Mussolini de formar uma grande seleção italiana para a Copa do Mundo de dois anos depois no país, convidavam-se atletas estrangeiros que possuíam alguma descendência italiana a se naturalizar (os chamados Oriundi). Então Luisito, que era filho de pais italianos, recebeu um chamado para defender a Azzurra no Mundial. Como estava totalmente adaptado à vida na Europa e ao futebol profissional do Velho Continente, o jogador aceitou de imediato e começou a escrever seu nome na história das Copas.

Estreou pela Itália em 27 de novembro de 1932 numa vitória de 4 a 2 diante da Hungria. Em 1934 fazia parte dos convocados pelo técnico Vittorio Pozzo para a disputa do Mundial realizado em solo italiano. Não marcou nenhum gol na campanha do título da competição, mas sua presença no meio-campo italiano foi de suma importância para a conquista. Naquele dia 10 de junho, após a vitória sobre a Tchecoslováquia por 2 a 1 no estádio Nazionale de Roma, diante de mais de 45 mil pessoas, Monti entrava para os registros históricos do futebol como o único jogador a participar de duas finais de Copas por duas seleções diferentes.

Monti abandonou definitivamente o futebol em 1939, aos 38 anos, e seguiu outros rumos na vida após a aposentadoria. Faleceu em 9 de setembro de 1983, aos 82 anos, e nos deixou uma grande legado não só de força física, mas de vontade e preseverança dentro de campo. Onde a derrota não pode ser pretexto para a desistência de um objetivo a ser alcançado.

Abaixo, dados e estatísticas de Luisito Monti, o derrotado argentino, mas vitorioso italiano.


* Nome: Luis Felipe Monti

* Nascimento: 15 de maio de 1901 em Buenos Aires/ARG

* Posição:
meio-campo

* Apelido: Luisito

* Clubes (4): Huracán (1921), Boca Juniors (1922), San Lorenzo (1922 a 1931) e Juventus/ITA (1931 a 1939)

* Títulos (11): Campeonato Argentino (1921, 1923, 1924 e 1927), Copa América (1927), Campeonato Italiano (1931/32, 1932/33, 1933/34 e 1934/35), Copa do Mundo (1934) e Copa da Itália (1937/38)

* Seleção Argentina: 16 jogos e 5 gols entre 1924 e 1931

* Seleção Italiana: 18 jogos e 1 gol entre 1932 e 1936

* Conquistas pessoais: Medalha olímpica de prata (1928)






Foto 1: Comitê Olímpico Holandês
Foto 2: Planet World Cup
Foto 3: Blog Il pallone racconta

sábado, 20 de fevereiro de 2010

O ADEUS AO "SENHOR DO FUTEBOL"

Orlando: o "Senhor do Futebol"





Pessoal, estou de férias do meu trabalho, por isso as publicações serão um pouco escassas. Afinal, não sou de ferro e mereço um bom descanso. Mas não irei abdicar totalmente de escrever aqui sempre que possível.

Mais uma vez a morte prega uma peça com um grande nome do nosso futebol. Depois de publicar a perda do ex-goleiro inglês Gil Merrick, agora é a vez de noticiarmos o falecimento do ex-zagueiro brasileiro Orlando, que foi campeão mundial pela Seleção Brasileira em 1958 na Suécia, ocorrido no último dia 10 de fevereiro vítima de uma parada cardíaca aos 74 anos.

Orlando Peçanha de Carvalho nasceu em Niterói/RJ no dia 20 de setembro de 1935 e começou sua carreira dentro dos gramados no Vasco da Gama em 1955. Desde jovem já demonstrava toda sua habilidade e segurança na zaga, que o aclamou como um dos maiores defensores da história do futebol no Brasil. Era muito aplicado, possuía uma grande força física e uma notável capacidade de antecipar-se aos atacantes adversários.

Com o clube carioca conquistou o títulos estaduais em 1956 e 1958 e o Torneio Rio-São Paulo também em 1958. Tamanha a prova de sua habilidade que foi convocado com apenas 23 anos para a Copa do Mundo daquele mesmo ano, no qual fez grande dupla de zaga com o também vascaíno Bellini. Permaneceu em São Januário até 1960 quando assinou contrato com o argentino Boca Juniors. Nos Xeneízes foi considerado o "Senhor do Futebol" por sua identificação com o clube de Buenos Aires e sua imprescindível contribuição nas conquistas dos campeonatos argentinos de 1962, 1964 e 1965. Na Argentina teve a companhia dos também brasileiros Almir Pernambuquinho, Dino Sani e Paulinho Valentim.

Em 1965 retorna ao Brasil para jogar na lendária equipe do Santos dos anos 60, que tinha nada mais, nada menos que Gilmar, Pelé, Coutinho, Pepe, Zito, Mengálvio, entre outros craques. Com o time da baixada santista desfila toda sua maestria na defesa e ajuda a equipe a levantar a taça de campeão paulista em 1965, 1967, 1968 e 1969, da Taça Brasil** em 1965, do Torneio Rio-São Paulo de 1966 e da Taça de Prata** de 1968. Como diz o ditado, "o bom filho à casa torna" e Orlando retornou ao Vasco da Gama em 1970 para encerrar sua vitória carreira com 17 títulos conquistados aos 35 anos de idade.

Pela Seleção Brasileira, como já informado, foi campeão mundial em 1958 e fez parte da equipe eliminada no mundial de 1966, na Inglaterra. Ficou longe do selecionado nacional entre 1960 e 1964 após ter ido atuar no futebol argentino, o que o impediu de ser bicampeão do mundo em 1962 no Chile. Com a camisa canarinho foram 34 partidas e uma única derrota - a sua última como jogador da Seleção em 1966 diante dos portugueses por 3 a 1, que custou a eliminação dos brasileiros da Copa - e três títulos conquistados (Copa do Mundo de 1958, Copa do Atlântico de 1959 e Copa Rocca em 1960).

Após pendurar as chuteiras tentou a vida de treinador e iniciou sua carreira como auxiliar técnico de Tim no próprio Vasco da Gama ainda em 1970, e comandou clubes como o Fluminense de Feira de Santana/BA, Vitória/BA, CSA/AL, América/SP, Taubaté/SP, Joinville/SC, entre outros. Em 1990 assumiu a presidência da Associação Brasileira de Treinadores de Futebol (ABTF), entidade na qual comandava até o dia de sua morte.

Abaixo, dados e estatísicas do nosso agora saudoso "Senhor do Futebol".


* Nome: Orlando Peçanha de Carvalho

* Nascimento: 20 de setembro de 1935 em Niterói/RJ

* Posição: zagueiro

* Clubes como jogador (3): Vasco da Gama (1955 a 1960 e 1970), Boca Juniors/ARG (1961 a 1965) e Santos (1965 a 1970)

* Títulos como jogador (17): Campeonato Carioca (1956 e 1958), Torneio Teresa Herrera (1957), Torneio Rio-São Paulo (1958 e 1966), Copa do Mundo (1958), Copa do Atlântico (1959), Copa Rocca (1960), Campeonato Argentino (1962, 1964 e 1965), Campeonato Paulista (1965, 1967, 1968 e 1969), Taça Brasil (1965) e Taça de Prata (1968)

* Clubes como treinador (12): Fluminense/BA (1977 e 1987), CSA (1977), América/SP (1978), Rio Preto/SP (1978), Joinville (1979), Vitória/BA (1979), Dom Bosco/MT (1980 e 1986), Kazma Club/KUW (1980/82), Taubaté (1983) e Galícia/BA (1988)

* Títulos como treinador (1): Campeonato Catarinense (1979)

* Seleção Brasileira: 34 jogos entre 1958 e 1966 e nenhum gol




** Torneios precursores do atual Campeonato Brasileiro



Imagem: Globo.com

domingo, 7 de fevereiro de 2010

MAIS UMA LENDA INGLESA SE VAI

Gil Merrick: o futebol de luto mais uma vez





Os fatos tristes infelizmente fazem parte da história do futebol. E é com mais essa tristeza que reportamos aqui o falecimento de Gilbert "Gil" Merrick, ex-goleiro e ex-treinador inglês, ocorrido nesta quarta-feira (dia 03/02), de causas naturais em Birmingham. Talvez poucos conheçam a história de Gil Merrick, entretanto trata-se de outro grande nome do futebol bretão em todos os tempos. Assim como o ex-técnico Bobby Robson, falecido em 31 de julho de 2009, Merrick também era considerada uma lenda local pelos seus grandes serviços prestados ao esporte no país.

Para quem não o conhece vamos contar um pouco sobre a carreira desse grande goleiro, que atuou pela seleção inglesa na Copa de 1954, na Suíça. Gilbert Harold Merrick nasceu na cidade de Sparkhill, nos arredores de Birmingham, em 26 de janeiro de 1922. Sempre atuou com a camisa do Birmingham, seu clube de infância e de coração, desde o início de sua carreira, em 1939, até seu encerramento em 1960 aos 38 anos de idade. Foram 21 temporadas dedicadas ao time da segunda maior cidade inglesa somente como atleta. Se somado o tempo atuando no comando técnico foram mais 4 anos entre 1960 e 1964 - época em que contribuiu com a maior conquista da história da equipe azul de West Midlands, a Copa da Liga de 1963.

Nos Blues foram mais de 700 partidas disputadas. Desde o início na base demonstrava grande frieza e agilidade embaixo das traves. Não demorou muito para entrar no time principal e cravar seu lugar como um dos mais importantes jogadores da história do time. Porém sua qualidade no gol só foi realmente reconhecida 12 anos depois de sua estréia como jogador profissional: a primeira convocação para o English Team sob forte concorrência de arqueiros como Bert Williams (Wolverhampton Wanderers) e Eddie Ditchburn (Tottenham Hotspur), Ted Burgin (Sheffield United), entre outros. Estreou em 14 de janeiro de 1951 em um amistoso diante da Irlanda e jogou o Copa do Mundo de 1954, conforme já citado. Após o Mundial deixou a seleção com 23 convocações para dedicar-se exclusivamente ao Birmingham City.

Já no clube não conquistou nenhum título de expressão nacional como jogador. Apenas troféus do segundo escalão em diante, como a Second Division (segunda divisão) e a Football League South - liga amadora criada para que os clubes ingleses se mantivessem em atividade durante a II Guerra Mundial.

Após pendurar as chuteiras assumiu imediatamente o comando técnico do clube a partir da temporada 1960/1961 em substituição a Pat Beasley - estreou com um empate diante do Bolton Wanderers por 2 a 2. Seu primeiro ano como treinador não rendeu bons frutos em nível local e o Birmingham ficou na pífia 19ª colocação na segunda divisão (Division One). Contrariamente em nível internacional a equipe houve-se muito bem no mesmo ano, chegando à final da Inter-Cities Fairs Cup (Taça das Feiras, precursora da Copa da UEFA e atual Liga Europa) contra a Roma, mas sucumbindo diante dos italianos por 4 a 2 no placar agregado. A segundona mostrou-se nos 4 anos de comando de Merrick não ser o seu forte, com outras decepcionantes participações sempre no pelotão de trás da tabela. Contudo demonstrou ter bastante habilidade - e sorte - com as copas. Além do vice-campeonato da Taça das Feiras, ainda faturou a Copa da Liga de 1963 quando derrotou o Aston Villa, grande rival da cidade. Em 1964, após outra participação fraca na Division One, Merrick terminou sua longa história de amor de 25 anos com os Azuis. Depois de 3 temporadas sem atuar no futebol voltou ao banco de reservas pelos amadores Bromsgrove Rovers F.C. e depois Atherstone Town F.C. sem muito sucesso.

Como forma de homenagear um dos ícones de sua trajetória, a diretoria do Birmingham City batizou um setor de arquibancadas do estádio Saint Andrews com seu nome. Antes o que era o "Setor da Ferrovia", a partir da atual temporada passou a chamar-se "Setor Gil Merrick".

O futebol é capaz de nos proporcionar grandes e marcantes momentos em nossas vidas, mas também produz capítulos tristes como esse. Assim como Férenc Puskas, Garrincha, Stanley Matthews, Lev Yashin, entre tantos e tantos outros, os grandes astros do esporte deixam seus legados e se vão, mas as grandiosas e saudosas lembranças dessas lendas permanecem por toda a vida nos mais diversos registros possiveis.

Abaixo, dados e estatísticas de mais um mito do futebol inglês que nos deixa.



* Nome: Gilbert Harold Merrick

* Nascimento: 26 de janeiro de 1922 em Sparkhill/ING

* Apelido: Gil

* Posição:
goleiro

* Clube como jogador (1):
Birmingham City (1939/60)

* Títulos como jogador (3): Football League South (1945/46) e Football League Second Division (1947/48 e 1955/56)

* Clubes como treinador (3): Birmingham City (1960/64), Bromsgrove Rovers (1967/70) e Atherstone Town (1970/72)

* Título como treinador (1): Copa da Liga Inglesa (1963)

* Seleção inglesa: 23 jogos entre 1951 e 1954




Foto: BBC


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O ARTILHEIRO SECULAR

El Cañoncito Varallo: artilheiro de um século





Nesta sexta-feira, dia 05, comemorou-se o 100º aniversário de um grande artilheiro argentino: Francisco Varallo. Para quem não o conhece trata-se do 2º maior goleador da história do Boca Juniors na era profissional do futebol naquele país (a partir de 1931) com 194 gols marcados - o maior é Martin Palermo, que superou a marca do ex-jogador em 2009. Mais ainda: Varallo é o único jogador ainda vivo que disputou a Copa do Mundo de 1930, no Uruguai.

Francisco Antonio Varallo nasceu em La Plata no dia 5 de fevereiro de 1910 e desde criança sempre foi aficcionado pela bola. Chegou ainda adolescente às categorias de base do amador 12 de Octubre de sua cidade e logo seu faro de gol aflorou. O Estudiantes viu no jovem atleta uma possibilidade de sucesso nos campeonatos a serem disputados e o levou. Entretanto o maior rival dos Pincharratas, o Gimnasia y Esgrima, literalmente atravessou o caminho e promoveu o primeiro contrato profissional com o atacante. Em seu primeiro contato com os novos colegas de clube um cartão de visitas mais do que suficiente para demonstrar todo o seu poderio ofensivo: marcou todos os 9 gols da vitória por 9 a 1 de sua equipe em um jogo treino entre os times reservas.

Foram apenas 2 anos com o Gimnasia de La Plata, mas o suficiente para que seu grande número de gols o levasse à seleção nacional. Com os Triperos faturou o Campeonato Argentino de 1929. Cañoncito, ou "canhãozinho" como era conhecido por sua "artilharia pesada", foi convocado para disputar a primeira Copa do Mundo em 1930 no Uruguai. Chegou à final do torneio contra os donos da casa e foram derrotados por 4 a 2 no estádio Centenário de Montevidéu. O artilheiro da competição foi seu colega de ataque Guillermo Stábile com 8 gols. Varallo marcou apenas um - o quarto da goleada diante do México por 6 a 3 pelo Grupo 1. Mesmo assim foi bastante útil no ataque albiceleste na campanha do vice-campeonato mundial e logo chamou a atenção do poderoso Boca Juniors da capital Buenos Aires, para onde rumou em 1931.

Este ano marcou o início da era profissional na Argentina, que até então era praticado de forma amadora. Pancho Varallo desandou a marcar gols e tornou-se o artilheiro nacional em 1933 com 34 gols. Formou um ataque mortífero ao lado de outros dois grandes centroavantes: Roberto Cherro e Delfín Cáceres, que juntos marcaram mais de 100 gols com a camisa xeneize. Cherro, aliás, é o maior goleador da história do Boca Juniors incluindo-se as eras amadora e profissional com 218 tentos. Com o time de La Boca foram 3 títulos nacionais.

Pela seleção argentina atuou de 1930 a 1937 em 16 ocasiões anotando 7 gols. Como já dito foi convocado para a Copa de 1930 e conquistou a Copa América de 1937. Em 1940 encerrou sua carreira de forma prematura, aos 30 anos, devido a uma séria contusão no joelho que o impediu de seguir atuando.

Em 1994 recebeu da FIFA a medalha da Ordem do Mérito, uma honraria concedida pela entidade maior do futebol aos atletas que deram grande contribuição ao esporte. Como curiosidade, na ocasião da nova marca de maior artilheiro da história do Boca Juniors na era profissional em 2009 atingida por Martín Palermo, brincou com a imprensa ao dizer que, aos 99 anos pensava seriamente em abandonar a aposentadoria para reaver a marca perdida.

Após sua aposentadoria não trabalhou mais no futebol e hoje vive em sua cidade natal gozando de todo o seu prestígio e de sua boa saúde como o artilheiro secular da Argentina.


Abaixo, dados e estatísticas do artilheiro centenário


* Nome: Francisco Antonio Varallo

* Nascimento: 5 de fevereiro de 1910 em La Plata/ARG

* Posição: atacante

* Apelido: Cañoncito (canhãozinho), Pancho

* Clubes (2): Gimnasia Y Esgrima (1928 a 1930) e Boca Juniors (1931 a 1940)

* Títulos (5): Campeonato Argentino (1929, 1931, 1934 e 1935) e Copa América (1937)

* Seleção Argentina: 16 jogos e 7 gols entre 1930 e 1937

* Conquistas pessoais (2): Artilheiro do Campeonato Argentino (1933) e Ordem do Mérito da FIFA (1994)




Foto 1: Autor desconhecido
Foto 2: Maimonides