quinta-feira, 25 de outubro de 2007

O PRIMEIRO CRAQUE BRASILEIRO


Arthur Friedenreich: o primeiro grande nome do futebol brasileiro



Já falamos do primeiro craque a ultrapassar barreiras, que foi o austríaco Matthias Sindelar, em uma postagem anterior. Contudo, vamos falar agora do primeiro fenômeno futebolístico surgido no Brasil.

Muitos podem até questionar o fato do “pai” do futebol brasileiro, Charles Miller, ter sido um belo jogador e de ter sido artilheiro do Campeonato Paulista no início do século passado. Só que outro contemporâneo de Miller alçou feitos inimagináveis até então para o esporte que ainda engatinhava em solo brasileiro. Seu nome: Arthur Friedenreich, filho de um comerciante alemão e de uma lavadeira carioca e nascido em 18 de julho de 1892, no bairro da Luz, em São Paulo.

Ainda criança começou a jogar futebol, que havia sido recentemente introduzido no país pelo já citado Charles Miller, em 1894, com garotos de sua rua com bolas de bexiga de boi. Ninguém imaginava que daqueles passos nos terreiros de terra batida surgiria o primeiro grande nome da história do futebol do Brasil.

Fried, como era conhecido, começou sua carreira ainda jovem, aos 17 anos, no Germânia, da capital Paulista. Como o esporte ainda era amador, o jogador podia mudar de clube a cada ano sem ônus algum. E de 1909 a 1917, Friedenreich, literalmente, não “parou quieto” em um clube sequer por mais de um ano. Seguiram-se ao Germânia, ano após ano, Ypiranga, novamente Germânia, Mackenzie, outra vez Ypiranga (fato que se repetiria em 1914 e 1917), Americano, Paulista (não confundir com o de Jundiaí), Atlas, Paulistano e Flamengo/RJ.

Depois do clube carioca, veio a definitiva consagração do atacante paulista, quando retornou ao Paulistano e por lá ficou por 12 anos, até 1929. Em sua larga temporada no time de São Paulo, Friedenreich sagrou-se 6 vezes campeão paulista e foi seu artilheiro em 5 ocasiões.

Fried inovou o conceito de se jogar futebol, introduzindo em seu repertório de jogadas fabulosas dribles curtos, fintas de corpo e o chute com efeito. Seu faro de gol era apuradíssimo e sua velocidade era algo descomunal para a época. Aliava a tudo isso sua imensa criatividade, técnica e capacidade de improvisar. Por conta de todas essas habilidades foi convocado para a Seleção Brasileira 26 vezes, onde marcou 12 vezes. Sua estréia com a camisa nacional se deu em 1914, ano também do surgimento da Seleção no cenário esportivo, num amistoso diante de um combinado paulista. O placar foi 7 a 0 para o Brasil com dois gols de Friedenreich.

Seu sucesso com o selecionado brasileiro não tardou. Em 1914 faturou a Copa Rocca, torneio que envolvia os vizinhos Brasil e Argentina. Mais tarde, conquistava também o bi-campeonato Sul-americano, em 1919 e 1922. No primeiro, foi o autor do gol do título contra os uruguaios na prorrogação. Por suas atuações no torneio ganhou o apelido de El Tigre. Atuou pelo escrete brasileiro até 1935 sem, entretanto, participar de uma Copa do Mundo. Uma atitude infeliz do então presidente da Liga Paulista, Elpídio de Paiva Azevedo, causou uma das maiores decepções de Friendenreich na carreira: ao saber que a comissão técnica da Seleção não teria nenhum paulista, o dirigente impediu a ida dos jogadores do estado para a Copa do Uruguai, em 1930. Assim, o jogador encerrou a carreira sem sentir o sabor de disputar um Mundial.

Nos dias atuais, El Tigre é considerado um dos maiores centroavantes que o Brasil já teve. No ano de 1925 voltou da Europa sendo considerado pela crônica esportiva como um dos "melhores jogadores do mundo", quando o Paulistano, seu clube no período, venceu 9 dos 10 jogos disputados no continente em uma excursão. Um de seus grandes feitos ocorreu em 16 de setembro de 1928, quando marcou sete gols numa única partida contra o União da Lapa, batendo o recorde da época. O resultado final foi de 9 a 0 para o Paulistano – sem falar que o atacante ainda desperdiçou um pênalti.

Após o tempo áureo no Paulistano, o já veterano Friedenreich ainda atuou pelo Internacional/SP (que não é o de Limeira), pelo Atlético Santista, Santos, São Paulo da Floresta (este sim precursor do atual São Paulo Futebol Clube), Dois de Julho/BA, mais uma vez São Paulo da Floresta, retornou ao Santos e encerrou a carreira no Flamengo/RJ, em 21 de julho de 1935, aos 43 anos de idade. Ainda pretendia seguir atuando, apesar da idade avançada para o esporte. Porém, Friedenreich não aceitava a profissionalização do futebol no país e decidiu por fim à sua gloriosa carreira.

Outra característica marcante da personalidade de Fried era seu caráter questionador. Em 1932, quando ainda era atleta, engajou-se na Revolução Constitucionalista doando troféus, medalhas e prêmios em benefício da causa.

Depois de abandonar os gramados, viveu quase esquecido na pobreza por muitos anos até morrer em 06 de setembro de 1969, em uma casa cedida pelo São Paulo Futebol Clube.

Durante muito tempo atribuiu-se ao ex-centroavante a condição de maior goleador de toda a história do futebol. Segundo Mário de Andrada, ex-colega de clube de Fried, o jogador havia participado de 1329 partidas e chegado à impressionante marca de 1239 gols em sua carreira. A FIFA chegou a oficializar os números em seus arquivos, inclusive com repercussão mundial em enciclopédias e livros. Porém, o jornalista Alexandre da Costa conferiu os registros de todos os jogos de Friedenreich em dois jornais de grande circulação, "Correio Paulistano" e "O Estado de S. Paulo", e chegou a dois números surpreendentes: 554 gols em 561 partidas, o que não deixa de ser brilhante devido à alta média – 0,98 gols por jogo –, superior até mesmo à de Pelé (0,96 gols por partida).

Sejam quais forem as marcas e as estatísticas, Arthur Friedenreich ficará para sempre marcado como o primeiro grande craque do futebol brasileiro. E isso nenhum dado terá poderes para mudar na história.

Abaixo, dados e todas as conquistas de El Tigre:


* Clubes (13): Germânia (1909), Ypiranga (1910), Germânia (1911), Mackenzie (1912), Ypiranga (1913), Americano (1913), Paulista (1913/14), Atlas (1914), Ypiranga (1914/15), Payssandu (1915/16), Paulistano (1916), Ypiranga (1917), Flamengo/RJ (1917), Paulistano (1917/29), Internacional/SP (1929), Atlético Santista (1929), Santos (1930), São Paulo da Floresta (1930/33), Dois de Julho/BA (1933), São Paulo da Floresta (1934/35), Santos (1935) e Flamengo/RJ (1935).

* Títulos:

> Campeão Paulista (7) - 1918, 1919, 1921, 1926, 1927, 1929 (todos no Paulistano) e 1931 (São Paulo da Floresta).

> Copa Rocca – 1914 (Seleção Brasileira).

> Campeonato Sul-americano (atual Copa América): 1919 e 1922 (Seleção Brasileira).

* Artilharia: Campeonato Paulista – 1912, 1914, 1917, 1918, 1919, 1921, 1927, 1929.

*Gols: 561 (segundo o jornalista Alexandre da Costa), sendo 12 deles pela Seleção Brasileira.


Foto: SPFC.net

Um comentário:

Anônimo disse...

muito boa essa matéria...


Antonio silva

http://anacaorubronegra.blogspot.com/
SRN