sábado, 23 de agosto de 2008

A NOVA CELESTE OLÍMPICA?


Seleção argentina e o ouro em Pequim: a nova "Celeste Olímpica"?





A Argentina conseguiu um feito histórico na madrugada (horário de Brasília) de ontem para hoje: tornou-se a 4ª seleção a se sagrar bicampeã olímpica de futebol masculino da história dos Jogos. Antes da conquista dos nossos "hermanos" apenas 3 seleções de bastante tradição no nosso cenário futebolístico haviam conseguido tal feito: Grã-Bretanha, Uruguai e Hungria.

Hoje não vou me ater a comentar sobre a conquista dourada dos argentinos em 2008, pois este não é o objetivo do blog. Vou comentar uma coincidência bastante interessante que envolve duas das mais fortes equipes do continente sul-americano no futebol, além de dados das conquistas anteriores à da Argentina em Pequim.

A seleção da Grã-Bretanha (que reúne atletas de todos os países do Reino Unido) foi a primeira a conseguir a medalha de ouro na modalidade duas vezes seguidas - nos Jogos Olímpicos de Londres, em 1908, e de Estocolmo, na Suécia, em 1912. Naquela ocasião poucas equipes se inscreviam para participar do torneio, como no caso da Olimpíada de 1908, quando apenas 6 equipes lutaram pelo ouro: Grã-Bretanha, a esdrúxula divisão da França em equipes "A" e "B", Dinamarca, Suécia e Holanda.

Os Jogos de Londres já foram comentados no post anterior, quando o atacante dinamarquês Sophus Nielsen entrou para a história da competição ao marcar 10 gols em uma única partida. Antes, em 1900 e 1904, o futebol olímpico era disputado por equipes amadoras, não por seleções nacionais. A FIFA não reconhece o título dos países das agremiações, mas o COI computou as medalhas às nações de origem de cada um (Grã-Bretanha e Canadá, respectivamente). Voltando a 1908, a equipe britânica venceu a dinamarquesa por 2 a 0 na final e levou a medalha de ouro para casa.

Em 1912, na Suécia, bretões e dinamarqueses realizavam uma revanche de 4 anos atrás. Novamente os inventores do futebol levaram a melhor por 4 a 2. Assim, os britânicos se tornavam a primeira seleção a faturar o bi-campeonato olímpico de futebol da história.

O feito viria a ser repetido nas Olimpíadas de 1924, em Paris, com o Uruguai. A equipe comandanda pelo trio Scarone, Petrone e Romano mostrava sua força numa época em que a Copa do Mundo não existia ainda, daí o campeonato de futebol dos Jogos Olímpicos ser considerado, à época, como um campeonto mundial. Os uruguaios não tomaram conhecimento de iugoslavos, norte-americanos, franceses e holandeses nas fases classificatórias. Na final o Uruguai venceu a Suíça por 3 a 0 e levou sua primeira medalha dourada.

Quatro anos mais tarde, em Amsterdã, o Uruguai continuava dominando o mundo do futebol. No torneio olímpico passou por cima de Holanda, Alemanha e Itália nas eliminatórias. Na disputa do ouro enfrentaria sua grande rival Argentina e precisaria de um jogo extra para subir ao lugar mais alto do pódio - a primeira partida terminou 1 a 1 e no confronto de desempate, três dias depois, melhor para os uruguaios, que venceram por 2 a 1.

Com a conquista do bi-campeonato olímpico - o segundo da história do torneio - o Uruguai ficou conhecido como "Celeste Olímpica", visto que possuía o futebol mais vistoso e forte das Olimpíadas (e do mundo) à época, fato este que ficou comprovado com a vitória na Copa do Mundo de 1930, e seu uniforme era azul que lembrava a cor do céu.

A lendária Hungria começaria a aparecer com seu fabuloso futebol nos Jogos Olímpicos de 1952, em Helsinque, na Finlândia. Gênios do quilate de Czibor, Kocsis e Puskas não conseguiram ser campeões mundiais de futebol, mas chegaram à honra máxima do esporte com a conquista da medalha de ouro naquele ano. Porém, o bi consecutivo húngaro só viria com as vitórias em 1964, em Tóquio, e em 1968, na Cidade do México. Vale lembrar que de 1952 a 1980, de acordo com regulamento da FIFA e do COI, apenas jogadores amadores tinham permissão de participar das Olimpíadas, o que muito beneficiou as equipes do leste europeu conforme já comentado neste blog.

No Japão os húngaros levaram o ouro após vitórias sobre Marrocos, Iugoslávia, Romênia, Egito e Tchecoslováquia - este último na disputa pela medalha dourada. Já no evento mexicano de 1968, os magiares enfrentaram Gana, El Salvador, Israel, Guatemala, Japão e Bulgária - destaque para a goleada de 4 a 1 na final contra os búlgaros - para se tornar a terceira nação bicampeã olímpica de futebol.

Por fim, os argentinos, que 40 anos depois conseguiram entrar no seleto clube de seleções bicampeãs de forma seguida do torneio de futebol de uma Olimpíada. Em Atenas, há 4 anos atrás, grandes jogadores do nível de Tévez, Mascherano, Kily Gonzáles, D'Alessandro, entre outros chegaram ao ouro de forma brilhante com vitórias sobre Sérvia e Montenegro (6 a 0), Tunísia, Austrália (estes na primeira fase), Costa Rica, Itália e a grande final com os rivais sulamericanos do Paraguai - 1 a 0. Em Pequim, nossos "hermanos" repetiram a dose e levaram a medalha de ouro para Buenos Aires com êxitos sobre Costa do Marfim, Austrália, Sérvia (fase de grupos), Holanda, Brasil (destaque para o 3 a 0 diante dos grandes rivais) e, finalmente, Nigéria pela disputa dourada - vitória também pelo placar mínimo.

No total, húngaros e britânicos (nesta ordem) ainda possuem a hegemonia no torneio olímpico de futebol. Ambos possuem 3 conquistas, mas com o desempate em favor da Hungria pela prata e pelo bronze que conquistou em outras edições dos Jogos em detrimento de nenhuma delas por parte da Grã-Bretanha.

Tal qual os vizinhos uruguaios, a Argentina agora tem tudo para ser a nova "Celeste Olímpica", visto que os tempos áureos dos donos da alcunha original estão muito longe no passado. Será? A cor do uniforme e o futebol são os mesmos.

Abaixo, dados e estatísticas dos bicampeões olímpicos de futebol:


* Olimpíada de 1908 - Londres/ING

- Ouro: Grã-Bretanha; Prata: Dinamarca; Bronze: Holanda
- Artilheiro: Sophus Nielsen/DIN, 11 gols
- Partida final (gols): Grã-Bretanha 2 X 0 Dinamarca (Chapman e Woodward)

* Olimpíada de 1912 - Estocolmo/SUE

- Ouro: Grã-Bretanha; Prata: Dinamarca; Bronze: Holanda
- Artilheiro: Gottfried Fuchs/ALE, 10 gols
- Partida final (gols): Grã-Bretanha 4 X 2 Dinamarca (Hoare/ING 2 vezes, Walden/ING, Berry/ING e Olsen/DIN 2 vezes)

* Olimpíada de 1924 - Paris/FRA

- Ouro: Uruguai; Prata: Suíça; Bronze: Suécia
- Artilheiro: Pedro Petrone/URU, 8 gols
- Partida final (gols): Uruguai 3 X 0 Suíça (Petrone, Cea e Romano)

* Olimpíada de 1928 - Amsterdã/HOL

- Ouro: Uruguai; Prata: Argentina; Bronze: Itália
- Artilheiro: Domingo Tarasaconi/ARG, 9 gols
- Partida final (gols): Uruguai 2 X 1 Argentina (Figueroa/URU, Scarone/URU e Monti/ARG)

* Olimpíada de 1964 - Tóquio/JAP

- Ouro: Hungria; Prata: Tchecoslováquia; Bronze: Alemanha Ocidental
- Artilheiro: Férenc Bene/HUN, 12 gols
- Partida final (gols): Hungria 2 X 1 Tchecoslováquia (Weiss/HUN, Bene/HUN e Brumovský/TCH)

* Olimpíada de 1968 - Cidade do México/MEX

- Ouro: Hungria; Prata: Bulgária; Bronze: Japão
- Artilheiro: Kunishige Kamamoto/JAP, 7 gols
- Partida Final (gols): Hungria 4 X 1 Bulgária (Menczel/HUN, Dunai/HUN 2 vezes, Juhász/HUN e Dimitrov/BUL)

* Olimpíada de 2004 - Atenas/GRE

- Ouro: Argentina; Prata: Paraguai; Bronze: Itália
- Artilheiro: Carlos Tévez/ARG, 7 gols
- Partida Final (gols): Argentina 1 X 0 Paraguai (Tévez)

* Olimpíada de 2008 - Pequim/CHI

- Ouro: Argentina; Prata: Nigéria; Bronze: Brasil
- Artilheiro: Giuseppe Rossi/ITA, 4 gols
- Partida Final (gols): Argentina 1 X 0 Nigéria (Di Maria)




Foto 1: Imedi.ge
Foto 2: Terra Esportes

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