quarta-feira, 29 de outubro de 2008

O ARTILHEIRO DA EUROPA

Filippo Inzaghi: o maior artilheiro europeu





Ah, essa tal tecnologia tão avançada nos dias atuais, com tantos aparatos caríssimos, pequenos, leves e com designs ultra-modernos... Daí ficamos reféns de um reles conector de USB e quase sem acesso a internet por um bom tempo. Fazer o que, né?! Bom, vamos tratar de atualizar nosso blog com mais um dado interessante que entrou para os feitos históricos do futebol.

Na quinta-feira da semana passada, o jogo entre o holandês Heereveen e o italiano Milan pela Copa da UEFA fez com que o atacante milanês Filippo Inzaghi se tornasse o maior artilheiro da história das competições européias de clubes organizadas pela UEFA. Ele deixou o seu na vitória por 3 a 1 fora de casa e chegou à marca de 64 gols em nível continental - um a mais que o espanhol Raúl, do Real Madrid.

Um detalhe bastante interessante nessa disputa é que tanto Inzaghi quanto Raúl continuam em atividade e podem esquentar ainda mais a briga pelo "título" até o fim da atual temporada. Na minha opinião o caminho está mais fácil para os lados do italiano, pois o capitão merengue joga a Liga dos Campeões, cujo nível de dificuldade é muito superior ao da Copa da UEFA, na qual está inserido o Milan.

Filippo Inzaghi nasceu em 9 de agosto de 1973 na cidade de Piacenza, na região italiana da Emilia-Romagna. Desde jovem, como se é de esperar de todo jogador profissional, sua principal atividade extra-escolar era o futebol. Tanto que ingressou nas categorias de base do principal clube de sua cidade, o Piacenza Calcio, e estreou na equipe profissional prestes a completar 18 anos de vida em 1991. Seu irmão mais novo, Simone Inzaghi, também seguiu a carreira de atacante e atualmente veste a camisa da Lazio.

Entretanto Pippo não teve muitas oportunidades pelos Papaveri (apelido do Piacenza) e foi emprestado na temporada 1992/93 ao Leffe, então na Série C1. No novo clube começou a impressionar com sua facilidade em marcar gols e saber ser oportunista - foram 13 gols em 21 partidas, números esses que despertaram interesse do Verona para onde o jogador seguiu no ano seguinte. Nos Gialloblu Inzaghi deu seqüência à sua fama de goleador e balançou as redes 13 vezes em 36 jogos.

Porém em 4 anos de carreira profissional Inzaghi ainda não tinha mostrado seus dotes de artilheiro na Série A italiana. Tal fato só ocorreu na temporada 1995/96, quando foi contratado pelo Parma. Contudo sua passagem pelos Crociati não foi das melhores, visto os escassos 2 gols em todo o campeonato. Como de costume veio outro ano e outra agremiação para Pippo defender - desta vez o destino era a Atalanta de Bergamo, e lá o atacante se reencontrou com sua melhor forma e se sagrou Capocannoniere (artilheiro do Campeonato Italiano da primeira divisão) pela primeira vez com 24 gols.

Tal feito rendeu-lhe, para variar, mais uma transferência. Mas desta vez valeu a pena, pois foi para a poderosa Juventus. A Inzaghi agora faltava-lhe um título na Série A depois de ter sido seu maior goleador. E ele veio na temporada 1997/98 com a Vecchia Signora, quando formou um grande trio ofensivo com o compatriota Alessando Del Piero e o francês Zinedine Zidane - vale lembrar que esse foi seu único troféu fora de San Siro em toda sua carreira. Sua passagem pelo alvinegro de Turim só não foi com glória completa devido à perda do título da Liga dos Campeões no mesmo ano do Scudetto para o Real Madrid (curiosamente o time em que atuava e está até hoje o seu "rival artilheiro" Raúl). Foi também com a Juve que o centroavante conseguiu outra marca histórica em nível continental: é o único jogador a fazer dois hat-tricks (três gols em uma mesma partida) na Liga dos Campeões. O primeiro foi na temporada do vice-campeonato na vitória diante do ucraniano Dinamo de Kiev por 4 a 1, nas quartas-de-final do torneio; o segundo, na edição 2000/01, pela fase de grupos, em um empate por 4 a 4 com os alemães do Hamburgo.

Filippo Inzaghi pela primeira vez passava mais de uma temporada em um único clube, já que defendeu os Bianconeri por 4 anos. Mas depois de 120 jogos e 57 gols marcados com a Juventus, e de perder sua vaga no time titular para o jovem francês David Trézéguet, o jogador arrumou suas malas rumo a Milão para assinar com o Milan do técnico turco Fatih Terim em 2001.

Entretanto, após sua chegada no time milanês, Inzaghi sofreu uma contusão no joelho durante a pré-temporada do time que o deixou afastado dos gramados durante metade do campeonato nacional. Depois disso formou uma grande dupla de ataque com o ucraniano Andryi Shevchenko, cujos gols ajudaram os Rossoneri a faturarem a edição de 2002/03 da Liga dos Campeões. Definitivamente Filippo Inzaghi se encontrou no Milan. Em 7 temporadas com a equipe foram 7 títulos nos 3 níveis do futebol (nacional, continental e mundial). Seus 2 pontos altos durante sua trajetória milanesa foram os 2 gols feitos diante do Liverpool, na final da Liga dos Campeões 2006/07, e os outros 2 marcados na final do Mundial de Clubes do mesmo ano sobre os argentinos do Boca Juniors.

Pela Seleção Italiana foram 57 partidas e 25 gols marcados. Fez sua estréia na "Azzurra" em 8 de junho de 1997 diante do Brasil e já participou de 3 Copas do Mundo (1998, 2002 e 2006), onde sagrou-se campeão na última edição, e da Eurocopa de 2000. Inzaghi é o sexto maior artilheiro da seleção nacional ao lado de outros grandes jogadores como Alessandro Altobelli e Adolfo Baloncieri.

Abaixo, dados e estatísticas do maior artilheiro (até o momento) da história das competições de clubes da Europa.


* Nome: Filippo "Pippo" Inzaghi

* Posição: atacante

* Nascimento: 09 de agosto de 1973 em Piacenza/ITA

* Clubes (7): Piacenza (1991/92 e 1994/95), Leffe (1992/93), Hellas Verona (1993/94), Parma (1995/96), Atalanta (1996/97), Juventus (1997/2001) e Milan (2001/...)

* Títulos (9): Campeonato Italiano (1997/98 e 2003/04), Copa da Itália (2002/03), Liga dos Campeões (2002/03 e 2006/07), Supercopa da UEFA (2003 e 2007), Copa do Mundo (2006) e Mundial de Clubes (2007)

* Honras individuais (2): Melhor jogador jovem do ano Série A (1996/97) e artilheiro do Campeonato Italiano (1996/97).

* Gols: 288 (até 26 de outubro de 2008)

* Partidas: 606 (até 26 de outubro de 2008)




Foto 1: World Soccer
Foto 2: Euro Sports

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O TIME DAS OVELHAS


Ilhas Faroe: o time da ilha das ovelhas





Muito legal a publicação do meu amigo jornalista Fernando Amaral, em seu blog Fernando Amaral FC, a respeito do futebol praticado nas pequeninas e exóticas Ilhas Faroe (em faroês: Føroyar = Ilha das ovelhas). Como bom apreciador do mundo do futebol, não só das teorias táticas e pitacos sobre os jogos da última rodada, não tive como não dar uma conferida. Vale a pena conhecer um pouco do esporte praticado por este simpático país.

Em um futuro breve complementarei as informações do Fernando aqui no nosso blog.




Escudo: arquivo pessoal
Foto: Site oficial da Faroe Islands Football Association

sábado, 11 de outubro de 2008

O SACO DE PANCADAS MUNDIAL


Seleção de San Marino: a última colocada do ranking da FIFA





Semana de Eliminatórias para a Copa do Mundo pelos 5 continentes. Como se fala na língua futebolística, principalmente quando se quer zoar com um colega que torce para um time rival, dizemos que tal equipe é o "time bônus". Ou seja, "jogue uma e ganhe três (pontos)". Pois bem, este é o retrato da seleção de San Marino, a pior seleção do ranking da FIFA.

Na verdade, os samarinenses não estão isolados na 200ª posição. Eles dividem a "honra" com equipes do quilate de Samoa Americana, Ilhas Cook, Guam e Anguilla - todos com nenhum ponto sequer. Entretanto podemos dizer que a seleção européia detém o rótulo de pior entre todas, pois é a que ocupa o lugar há mais tempo.

A República de San Marino é um dos menores países do mundo, com apenas 61 km² de extensão territorial e pouco mais de 30 mil habitantes. Localiza-se no sudoeste da Itália, entre as regiões de Emilia Romagna e Marche, e sua capital é Cidade de San Marino. Sua topografia é dominada pelos montes Apeninos e é um dos poucos países a não possuir nenhum resquício de água natural em seu solo. Seu regime político é o parlamentarismo, sua moeda é o Euro e sua economia se baseia quase que totalmente no turismo, mas com algum espaço para a agricultura, indústria, cerâmica e serviços bancários. É a república mais antiga do mundo, fundada no ano 301 após a independência do império romano por Marino (daí a homenagem no nome do país), um escultor de origem croata que era fugitivo da perseguição religiosa imposta pelo imperador Diocleciano. Sua atual Constituição também é a mais longeva do planeta: promulgada em 1600 e que vigora até os dias atuais.

Tão diminuto quanto a nação é o futebol praticado por lá. É lógico imaginar que em um lugar com tão pouca gente se tenha imensa dificuldade em encontrar talentos. Apesar da Federação Samarinense de Futebol (FSGC) ter sido criada em 1931 a seleção nacional não atuava em competições oficiais, até porque nem um campeonato nacional entre clubes era organizado, à exceção da Copa Titano (uma espécie de Copa de San Marino com equipes amadoras) até 1985, quando passou-se a acontecer uma disputa anual entre os times locais. A seleção só foi formada finalmente em 1988 e fez sua primeira partida oficial diante da Suíça, em 14 de novembro de 1990 pelas Eliminatórias da Euro 92, quando foi derrotada por 4 a 0. Seu estádio é o diminuto Olimpico de San Marino, na capital do país, com capacidade para apenas 7 mil pessoas.

Desde então San Marino tem sido a verdadeira alegria das seleções que vão enfrentá-la. Todos os confrontos fora de casa em todas as competições oficiais os samarinenses não perderam por menos de 4 gols de diferença. Para se ter uma idéia do drama da Serenissima, como é chamada a seleção, a derrota por 13 a 0 diante da Alemanha pelo torneio qualificatório para a última Eurocopa foi a maior já sofrida por uma equipe nacional européia. Realmente tem que ser muito sereno para conseguir aguentar a gritante falta de qualidade no elenco alvi-anil.

A FIFA, através do projeto "Goal", investiu mais de US$ 1,5 milhão na construção de uma nova sede para a federação nacional e de um campo com grama sintética para as categorias de base. Como já citado, o fato do país e de sua população serem minúsculos torna o desejo de evolução do esporte ficar bastante comprometido. Além disso, um acordo firmado permitiu que equipes juvenis do país, na falta de uma competição nacional de base, pudessem disputar torneios em nações vizinhas para fins de desenvolvimento da garotada. Entretanto o que se tem visto é pouquíssimo ou quase nenhum salto de qualidade, infelizmente.

Um recorde negativo para a seleção de San Marino é o de 64 jogos (ou 14 anos) para conseguir sua primeira vitória: sobre a também paupérrima seleção de Liechtenstein por 1 a 0 em 28 de abril de 2004, com um gol do atacante Andy Selva. Este mesmo jogador (foto com a camisa 10), por sinal, é o maior goleador(?) da história da equipe com 8 gols marcados (até hoje, 11 de outubro de 2008) - aliás, o único a ter feito mais de um gol entre todos os que vestiram a sua camisa. O feito histórico para os torcedores samarinenses é digno até hoje de comemorações similares a uma dessas micaretas Brasil a fora. Porém a partida foi um mero amistoso e o primeiro triunfo válido por uma competição oficial ainda é um sonho a ser realizado.

O calvário de San Marino é tanto que até mesmo os empates em casa são festejados pela torcida local. Desde 1990 a seleção participa das Eliminatórias para a Eurocopa e para a Copa do Mundo. De lá para cá foram impressionantes 2 empates e 28 derrotas - o saldo surpreende mais ainda: 154 gols negativos (dados até hoje, 11 de outubro de 2008). Tão ruim a sua reputação internacional que um empate fora de casa em 2002 (o primeiro de sua história) diante da Letônia, em Riga, custou o emprego do treinador adversário Gary Johnson ainda nos vestiários pós-partida. Pior ainda foi para a seleção da Irlanda, que pela magra vitória por "apenas" 2 a 1 em fevereiro de 2007 seus jogadores e comissão técnica foram duramente criticados pela torcida, imprensa e Federação locais.

Mas nem tudo é sombrio para a seleção: em 1993, pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo dos EUA, Davide Gualtieri foi o autor do gol mais rápido da história da competição - aos 8 segundos de partida. Entretanto, como era de se esperar, os ingleses não tiveram dificuldades em virar o jogo e terminar trucidando os samarinenses por 7 a 1. Ainda em 93, após um empate com os turcos, a colocação no ranking da FIFA chegou surpreendentemente a ser a 118ª.

O campeonato nacional de clubes é organizado pela Federação desde 1985. Possuía duas divisões até 1996 quando sofreu uma remodelação em sua disputa. Desde então passou a ser disputado por 15 clubes divididos em 2 grupos - o Girone A com 8 clubes e o B com 7. Dos grupos saem os 3 melhores classificados que jogam entre si em um torneio "mata-mata" até sair o campeão nacional, que se classifica para a primeira fase de qualificação da Liga dos Campeões da Europa. A Copa Titano leva seu vencedor à disputa da primeira fase da Copa da UEFA. Seus principais clubes são o SS Murata (do veterano zagueiro brasileiro Aldair e atual tricampeão nacional), o Tre Fiori, o Domagnano, o Faetano e o Folgore/Falciano. O Tre Fiori e o Domagnano são os maiores vencedores com 4 títulos cada. Recentemente a FSGC elegeu Massimo Bonini, ex-volante que disputou uma final de Copa Européia com a Juventus, clube que defendeu entre 1981 e 1988, como o maior jogador de futebol da história do país. Quando da formação da seleção de sua terra natal, Bonini já estava em fim de carreira e pouco pode ajudar na melhoria da qualidade do time - foram apenas 19 convocações e nenhum gol marcado entre 1990 e 1995.

Parco desempenho muito também se deve ao campeonato nacional ser disputado por equipes amadoras. Entre os jogadores convocados para defender a seleção de San Marino no último jogo apenas o atacante Andy Selva, que atua pelo Sassuolo da Série B italiana, e o goleiro Aldo Simoncini, jogador do San Marino Calcio (clube samarinense que disputa o Campeonato Italiano) da Série C2 também da Itália, possuem contratos profissionais.

Pelo andar da carruagem nada será muito diferente na atual disputa das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2010, na África do Sul. San Marino está no Grupo 3 do torneio ao lado de República Tcheca, Polônia, Eslováquia, Eslovênia e Irlanda do Norte e já estreou perdendo para os poloneses em casa por 2 a 0 e repetiu a dose na rodada de hoje contra a Eslováquia também em seus domínios - 3 a 1. Pelo fraquíssimo nível da equipe até mesmo a primeira vitória em uma competição oficial, o grande objetivo traçado pelo treinador Giampaolo Mazza, deverá ser algo bastante improvável.

Abaixo, dados e estatísticas do maior saco de pancadas do futebol atual:


FEDERAZIONE SAMMARINESE GIUOCO CALCIO

* Fundação: 1931

* Presidente: regida pelo governo nacional

* Apelido: La Serenissima

* Treinador: Giampaolo Mazza

* Primeira partida oficial: Suíça 4 X 0 San Marino, em Serravale (San Marino) - 14 de novembro de 1990

* Maior vitória: San Marino 1 X 0 Liechtenstein, em Serravale (San Marino) - 28 de abril de 2004

* Maior derrota: San Marino 0 X 13 Alemanha, em Serravale (San Marino) - 06 de setembro de 2006

* Jogadores que mais atuaram: Mirco Gennari e Frederico Gasperoni (48 vezes)

* Maior artilheiro: Andy Selva (7 gols em 41 jogos)

* Maior jogador: Massimo Bonini




Escudo: arquivo pessoal
Foto: Daylife

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

CONHEÇA O ESTÁDIO



Puskás Ferenc-Stadion: o estádio do povo húngaro



Depois de falarmos um pouco na publicação passada sobre o Budapest Honvéd, da Hungria, time que revolucionou o futebol na década de 50 e que revelou ao mundo verdadeiras lendas do futebol como Ferenc Puskas, Zoltán Czibor, Sándor Kocsis, entre outros, vamos comentar agora sobre o maior palco futebolístico do país cujo clube fez tudo isso acontecer e que eu tive o imenso prazer de conhecê-lo no início do ano.

Quando o Honvéd começou a se mostrar para o futebol, nas décadas de 40 e 50, o Népstadion ainda estava sendo construído em Budapeste. O estádio começou a ser erguido em 1948 e a obra foi finalizada em 1953. O sonho de ter uma grande arena esportiva magiar vem desde as primeiras décadas do século passado, quando se esperava a realização dos Jogos Olímpicos de 1920 na capital húngara. Entretanto a Primeira Guerra Mundial frustrou o sonho de todos e adiou o projeto.

Em 1924 o governo húngaro deu o primeiro passo para a realização das obras ao aprovar uma lei que permitia a construção de um novo estádio. No início dos anos 30 os projetistas já procuravam um local para o lançamento da pedra fundamental. Os principais locais candidatos a receberem o futuro Népstadion seriam o Parque Városliget, nas ilhas Margit, Népsziget, no bairro de Lágymányos, ou em Pasarét. Em 1945 os governantes locais aprovaram as contas para o início das obras e somente 3 anos mais tarde os projetistas Károly David, Jenő Juhász e Ferenc Kiss fizeram os primeiros esboços da futura arena: um estádio para 70 mil pessoas situado entre as avenidas Kerepesi, Dózsa György e Thököly. Contudo a intenção dos arquitetos era aumentar a capacidade para 104 mil espectadores.

Finalmente em 13 de julho de 1948 o primeiro alicerce era introduzido para a construção do novo estádio no lugar do antigo hipódromo da cidade. Após 5 anos, 45 mil metros cúbicos de concreto, 2,5 toneladas de concreto armado e trabalho árduo de engenheiros, arquitetos, trabalhadores braçais e soldados do exército (pois a Hungria era regida pelo regime comunista), o estádio popular era inaugurado. Para a festa de inauguração, em 20 de agosto de 1953, foram apresentados desfiles de honra, parada de gala com bandeiras, e apresentação de 2100 desportistas pela pista de atletismo nos moldes da abertura das Olimpíadas. Durante a inauguração um pequeno entrave tirou o brilho total do evento: o então primeiro-ministro húngaro, Mátyás Rákosi, recusou-se a dividir a tribuna de honra com Avery Brundage, à época presidente do Comitê Olímpico Internacional, alegando não querer compartilhar o espaço principal do estádio com um representante de país imperialista (no caso os EUA). Diante da situação Brundage teve que assistir a cerimônia na tribuna de imprensa. Por se tratar de um estádio de um governo comunista, foi dado o nome de Népstadion (Estádio Popular em húngaro) como é de costume se referir ao patrimônio público como sendo “popular” em todos os países com esse tipo de regime.

A primeira competição no Népstadion não foi o futebol, mas uma disputa entre Hungria e Noruega no atletismo. A bola só rolou depois com a partida entre os legendários do Budapest Honvéd e o russo Spartak de Moscou, que foi vencida pelos donos da casa por 3 a 2 para delírio dos espectadores que lotavam suas arquibancadas. Após este jogo aconteceu uma exibição de ginástica e a apresentação de conjuntos de danças com cerca de 400 participantes. Para finalizar o dia festivo a seleção de futebol da Hungria A (com Puskas, Czibor, Budai, Kocsis, etc) enfrentou a Hungria B (com outros nomes menos conhecidos) e venceu por 7 a 3.

O local foi palco de acontecimentos históricos em vários esportes. No futebol, que é o nosso assunto, foi lá que em 1954, poucos meses antes da Copa do Mundo da Suíça, a mítica seleção magiar de Puskas e companhia deu um verdadeiro “vareio” de bola na Inglaterra com um 7 a 1 sem a menor piedade dos inventores do futebol.

No ano de 1959 o Estádio do Povo recebeu iluminação elétrica para a realização de eventos esportivos noturnos, além da ampliação da capacidade de 70 mil para 83 mil pessoas em pé e sentadas. Muitos anos e eventos esportivos e culturais se passaram e o já velho gigante multi-uso húngaro de concreto precisava de algumas reformas. Em 1990 passou por uma completa reestruturação, com reforço nas bases da edificação, principalmente nas tribunas de imprensa e de honra, onde foi construída uma cobertura. Além disso, por medida de segurança, a capacidade do Népstadion já fora reduzida para cerca de 69 mil lugares sentados há alguns anos.

Por lá já passaram inúmeras lendas do nosso futebol, como já dito. E sua maior estrela, Ferenc Puskas, foi justamente homenageado ainda em vida, no ano de 2001, com o velho Estádio do Povo sendo rebatizado de Estádio Ferenc Puskás (originalmente Puskás Ferenc-Stadion). O estádio continuou sendo do povo, pois Ferenc Puskas, o maior nome que a Hungria teve no esporte em toda sua história esportiva, é patrimônio popular do bom futebol mundial.

Abaixo, dados do “Estádio do Povo” húngaro.


ESTÁDIO PUSKÁS FERENC (em húngaro: PUSKÁS FERENC-STADION)

* Inauguração: 1953, como Népstadion

* Projetistas: Károly David, Jenő Juhász e Ferenc Kiss

* Capacidade: 68.976 pessoas sentadas

* Proprietário: Governo húngaro (uso exclusivo no futebol pela seleção da Hungria)

* Dimensões do campo: 105 X 70m

* Primeira partida: Budapest Honvéd 3 X 2 Spartak de Moscou, em 21 de agosto de 1953





Fotos: arquivo pessoal