terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O ADEUS DO "FENÔMENO"

 
 
 
  Ronaldo: um "Fenômeno" do início ao fim da carreira



Chegou a fim a carreira de mais um astro do esporte nesta semana. E nós, brasileiros, conhecemos bem a sua trajetória. Nesta segunda-feira, dia 14, anunciou sua aposentadoria um dos maiores centroavantes da história do futebol - Ronaldo.

Numa opinião pessoal, posso afirmar que o ex-camisa 9 da Seleção Brasileira foi o maior da posição que eu presenciei jogando, ao lado de Romário e Van Basten.

Com a confirmação do fim de sua carreira, que durou 18 anos, o futebol perde mais um de seus ídolos, o herói de toda uma geração e um ícone de superação no esporte. Vamos conhecer um pouco de sua exitosa trajetória.

Em 22 de setembro de 1976, em Bento Ribeiro, periferia do Rio de Janeiro, nasceu Ronaldo Luís Nazário de Lima. Desde garoto era apaixonado por futebol e tinha como seu grande ídolo Zico. Costumava matar aulas para jogar com os amigos nos campos de terra batida do local. Chegou a treinar algumas vezes no infantil do Flamengo, clube do seu coração, mas por não ter condições financeiras de arcar com o transporte de sua casa até a Gávea optou por fazer seus treinamentos no São Cristóvão, cuja sede era mais próxima de Bento Ribeiro e o clube se prontificou a lhe dar uma ajuda de custo para seu deslocamento.

O ex-atacante Jairzinho viu futuro no então franzino jogador de 16 anos no São Cristóvão e resolveu investir nele, pagando 10 mil dólares pelo seu passe. Logo depois ofereceu-o ao Cruzeiro, que foi convencido após suas boas atuações mesmo com a péssima campanha da Seleção Brasileira sub-17 que havia disputado o sul-americano da categoria. Ronaldo foi o artilheiro da competição com 8 gols marcados. Seria o começo de sua gloriosa passagem pelos campos.

Ronaldinho, como ficou sendo chamado à época, fez sua estréia como profissional em 1993. Seu primeiro gol pela "Raposa" mineira foi em um amistoso contra o Belenenses de Portugal em Lisboa. Sua participação no jogo foi tão efetiva que saiu de campo aplaudido pela torcida local. Na volta da Europa o Cruzeiro recebeu algumas sondagens pelo jovem atleta, como da Internazionale de Milão, cuja oferta de 500 mil dólares foi prontamente rechaçada pela diretoria cruzeirense.

Em seu primeiro Campeonato Brasileiro, ainda em 1993, demonstrou que se tratava mesmo de um fora de série e que a diretoria do Cruzeiro não havia se arriscado em vão ao contratar aquele magro e dentuço jogador do São Cristóvão. Em 14 jogos pela competição marcou 12 gols - contra o Bahia deixou sua marca 5 vezes na mesma partida e em um deles tomou a bola do badalado goleiro uruguaio Rodolfo Rodríguez e estufou as redes. Foi o terceiro goleador do torneio.

Continuando em 1993, Ronaldo foi o artilheiro da Supercopa da Libertadores com 8 gols. À esta altura a diretoria mineira já estipulava o passe do atacante em 10 milhões de dólares.

Na temporada seguinte continuou encantando o Brasil. Foi o artilheiro do Campeonato Mineiro com 22 gols e logo chamou mais uma vez a atenção de clubes europeus. O PSV Eindhoven da Holanda apresentou uma proposta de 6 milhões de dólares e levou o promissor garoto de quase 18 anos, que deixou a impressionante marca de 44 gols em 46 partidas pelo Cruzeiro e dois títulos conquistados.

Tais atuações renderam a Ronaldinho uma surpreendente convocação para a Seleção Brasileira que disputaria a Copa do Mundo no mesmo ano nos Estados Unidos. Do banco viu a equipe comandada por Carlos Alberto Parreira erguer o troféu de campeã mundial.

Nos Boeren, Ronaldo não demorou muito para mostrar a que veio. Foi artilheiro do Campeonato Holandês logo em sua estréia com 30 gols, 12 a mais que Patrick Kluivert, do Ajax. Porém mesmo com sua infinidade de gols, seu clube ficou apenas em 3º lugar na tabela. Em 1995 veio seu primeiro problema físico: uma inflamação no joelho esquerdo e uma calcificação no direito forçou o jogador a realizar sua primeira cirurgia. Em recente entrevista, Ronaldinho afirmou que no PSV conheceu seu melhor parceiro de ataque: o belga Luc Nilis, cuja declaração já foi assunto aqui no blog. Na Holanda, conquistou apenas a KNVB Cup - a Copa local - em 1996, mas seus 54 gols em 57 jogos já foram o suficiente para chamar a atenção de um gigante europeu, o Barcelona.

Por 20 milhões de dólares o "Barça" trouxe para o Camp Nou o atacante da Seleção Brasileira e logo o pesado investimento teve retorno. No mesmo ano foi eleito pela FIFA o melhor jogador do mundo - o primeiro de seus três prêmios. A esta altura já havia ganho a alcunha de Fenômeno. Mesmo tendo atuado com os Culés apenas na temporada 1996/97 Ronaldo foi o artilheiro da Liga Espanhola com 34 gols. Não levantou o título espanhol, mas ajudou o clube a fatura a Copa do Rei e a extinta Recopa Européia.

Em 1997 a Internazionale de Milão, que há anos cortejava o atleta, finalmente conseguiu convencê-lo a se mudar para a Itália e pagou cerca de 32 milhões de dólares. Na Inter usou a camisa 10, já que a 9, seu número característico, era usada pelo chileno Iván Zamorano. O Fenômeno mais uma vez pagou o investimento e em sua estréia na Serie A fez 25 gols, tornando-se vice-artilheiro da competição atrás apenas do alemão Oliver Bierhoff, que fez 27. Nesta mesma temporada foi fundamental na conquista da Copa da UEFA com os Nerazzurri. Editado: no ano seguinte passou a usar seu costumeiro número 9, enquanto Zamorano envergou a camisa 18 com um sinal de "+" entre os algarismos.

O ano de 1998 não foi muito bom para Ronaldo, tendo em vista que uma série de graves problemas clínicos começaram a lhe atormentar. Na final da Copa do Mundo de 1998 uma misteriosa convulsão praticamente lhe tirou de combate contra a França. O resultado foi a humilhação em Paris por 3 a 0 e uma participação apática do camisa 9 brasileiro em campo. Depois foram tendinites que atrapalharam seu rendimento, até que em 1999, numa partida contra o Lecce, seu joelho cedeu pela primeira vez. Até sua volta aos gramados foram 5 meses.

Em abril de 2000 Ronaldo voltou aos campos pela Copa da Itália contra a Lazio. Mal tocou na bola em campo e seu joelho direito não aguentou e lesionou-se gravemente outra vez. A nova recuperação foi bem mais lenta: 15 meses que pôs muitas dúvidas sobre a retomada de sua carreira em alto nível.

A carreira de Ronaldo foi marcada por muitas voltas por cima. Em 2001 o atacante voltou da segunda lesão contra o Braşov, da Romênia, pela Copa da UEFA. Um pouco fora de forma e pequenas contusões pelo período em que ficou inativo impediram que seu rendimento fosse melhor.

Ainda envolto nessas desconfianças, o Fenômeno recebeu um voto de confiança do técnico da Seleção Brasileira Felipão para a disputa da Copa de 2002. Não decepcionou mais uma vez, ao lado de Rivaldo foi um dos responsáveis pela conquista do 5º título mundial do Brasil e, de quebra, ainda quebrou o recorde de gols do alemão Gerd Müller em copas com 15 gols ao todo.

Ao final do Mundial, o Real Madrid seria a nova casa de Ronaldo. Os torcedores italianos da Inter o acusaram de ingratidão, mas o jogador alegou ter desavenças com o então treinador Héctor Cúper.

Por 39 milhões de euros os espanhóis pagaram a multa rescisória e assinaram com o atacante, que viria a levar seu terceiro troféu de melhor do mundo naquele ano. Estreou com os Merengues na vitória por 4 a 2 diante do Alavés marcando 2 gols. Apesar de toda sua trajetória e de sua genialidade, não era poupado pelos torcedores madridistas durante os jogos. Mas as críticas só perduraram até a partida contra o Manchester United, em Old Trafford, pela Liga dos Campeões da UEFA em que marcou os 3 gols da derrota por 4 a 3, que mesmo assim classificou seu time à próxima fase. Na temporada 2002/03, após 10 anos de carreira, levantou seu primeiro campeonato nacional. No ano seguinte ficou como artilheiro máximo da competição com 23 gols.

A década de 2000 ficou marcada pela era dos galácticos no Real Madrid, já que no time, além do próprio Ronaldo, estavam jogadores do quilate de Figo, Zidane, Beckham, Roberto Carlos e Raúl. Os anos seguiram-se e a forma de Ronaldo começava a dar sinais de decadência. Tanto que junto com seu físico o clube espanhol também caia de produção com fracassos tanto domésticos quanto internacionais. Até mesmo com o brasileiro Vanderlei Luxemburgo no comando técnico em 2005 Ronaldo pouco se entendeu. Pela seleção, seu porte físico avantajado não permitiu que pudesse contribuir mais decisiviamente. Mas assim mesmo entrou para a história ao marcar o 15º gol em Copas do Mundo e se tornar o maior artilheiro em todos os tempos. Porém a França mais uma vez atrapalhou o caminho brasileiro na competição e o Fenômeno daria adeus à camisa amarela após 97 jogos e 62 gols anotados.

A temporada 2006/07 foi sua última na Espanha e a Itália voltaria a ser seu destino. Mais precisamente o Milan, que pagou apenas 7,5 milhões de euros por seu futebol. Chegou ao clube milanista na expectativa de um novo ressurgimento, marca que ficou registrada ao longo de sua carreira. Recebeu a camisa 99, já que a 9 já tinha um dono: o italiano Filippo Inzaghi.

Neste mesmo ano o departamento médico do clube italiano diagnosticou em Ronaldo hipotireoidismo, razão para sua facilidade em engordar. Viu das arquibancadas seus colegas de time levarem o título da Liga dos Campeões da UEFA, já que havia atuado pelo Real Madrid na mesma competição e por isso estava impedido de atuar.

Atuando com os compatriotas Kaká e Alexandre Pato dividiu-se entre partidas ruins, razoáveis e boas. Em 2008, porém, depois de 20 jogos e 9 gols feitos, numa partida diante do Livorno mais um pesadelo em sua carreira: o joelho mais uma vez cedeu e não voltou mais a atuar pela equipe de Milão.

Após o término de seu contrato voltou a treinar no Flamengo, o time que sempre afirmou torcer, e recuperar sua forma física. Também nunca escondeu o desejo de um dia atuar pelo rubro-negro carioca. Entretanto nenhum projeto para a contratação do jogador foi apresentado pela direção rubro-negra. Surgiram alguns boatos sobre um possível interesse
do Manchester City da Inglaterra e do Paris Saint-Germain da França, mas quem acabou fechando com Ronaldo foi o Corinthians em dezembro de 2008, fato este que desagradou profundamente a torcida flamenguista.

De contrato assinado com o clube paulistano, Ronaldo começou a treinar para recuperar ritmo de jogo e sua reestréia em solo brasileiro era ansiosamente aguardada. O seu retorno oficial se deu em 4 de março de 2009 contra o Itumbiara de Goiás pela Copa do Brasil. O atacante, que iniciou no banco de reservas, jogou por 27 minutos do segundo tempo.

Na partida seguinte, diante do rival Palmeiras, novamente Ronaldo começou no banco de reservas. Mas como rei não perde sua majestade entrou durante a etapa final e, aos 47 minutos, fez o gol do empate corintiano de cabeça, fundamento que não era a sua especialidade. A notícia repercutiu em todo o mundo.

Mesmo muito acima do seu peso ideal foi crucial para a conquista do Campeonato Paulista e da Copa do Brasil de 2009, novamente pagando o  investimento alto feito por seus serviços. No Campeonato Brasileiro foram mais 12 gols, totalizando 23 em toda a temporada. Além disso sua importância também se deu fora dos gramados, já que os patrocínios do Corinthians chegaram a valer R$ 30 milhões, o maior valor já pago a um time de futebol brasileiro.

Em 2010 Ronaldo, já perdendo a batalha contra seu corpo, anunciou sua aposentadoria para o final de 2011. No ano do centenário do Corinthians não ajudou como poderia e o time paulista passou em branco em todas as competições na qual participou, principalmente a Copa Libertadores, objeto de grande desejo da massa corintiana.

Sucumbindo às frequentes lesões e após a traumática desclassificação da Libertadores para o Deportes Tolima neste ano ainda na fase classificatória, o R9 não resistiu e antecipou o encerramento de sua brilhante carreira para esta segunda-feira, dia 14. O adeus do Fenômeno, não poderia ser diferente, repercutiu em todo o planeta.

O mundo ficou órfão de mais um grande artista da bola que fez muitas torcidas, sobretudo a brasileira, maravilhadas com sua genialidade e seu faro de gol. Diversas personalidades mundo a fora destacaram a carreira de Ronaldo, ex-companheiros de equipe e até mesmo lendas do passado louvaram a trajetória do maior artilheiro da história das copas.

Abaixo, dados e estatísticas do Fenômeno.


* Nome: Ronaldo Luís Nazário de Lima

* Nascimento: 22 de setembro de 1976 no Rio de Janeiro/RJ

* Posição: atacante

* Clubes (6): Cruzeiro (1993 a 1994), PSV Eindhoven/HOL (1994 a 1996), Barcelona/ESP (1996 a 1997), Internazionale/ITA (1997 a 2002), Real Madrid/ESP (2002 a 2007), Milan/ITA (2007 a 2008) e Corinthians (2009 a 2011) 

* Seleção Brasileira: 97 jogos e 62 gols entre 1994 e 2006

* Títulos (18): Copa do Brasil (1993 e 2009), Campeonato Mineiro (1994), Copa do Mundo (1994 e 2002), Copa da Holanda (1996), Supercopa da Espanha (1996 e 2003), Copa do Rei (1997), Recopa Européia (1997), Copa América (1997 e 1999), Copa das Confederações (1997), Copa da UEFA (1998), Mundial Interclubes (2002), Campeonato Espanhol (2002/03 e 2006/07) e Campeonato Paulista (2009)

* Conquistas individuais:
Artilheiro da Supercopa Libertadores (1993), Artilheiro do Campeonato Mineiro (1994), Artilheiro do Campeonato Holandês (1994/95), Artilheiro do Campeonato Espanhol (1996/97 e 2003/04), Melhor jogador do mundo (1996, 1997 e 2002), Chuteira de Ouro na Europa (1997), Medalha de bronze nos Jogos Olímpicos (1998), Melhor jogador da Copa do Mundo (1998), Artilheiro da Copa América (1999), Artilheiro da Copa do Mundo (2002), Maior artilheiro da história das Copas (2002), Melhor jogador do Mundial Interclubes (2002) e Melhor jogador do Campeonato Paulista (2009) 




Foto 1: Abril 
Fotos 2 e 4: Reuters 
Foto 3: Divulgação

2 comentários:

Anônimo disse...

Carlos,
Uma dúvida e uma observação:

1- A negociação do Ronaldo na ida para o Barça foi, na época, a maior transação entre clubes de futebol?

2- Ronaldo usou a 10 na Inter somente na temporada que chegou. Na seguinte vestiu a 9, enquanto Zamorano usou a 18 com um pequeno sinal de mais (+) entre os algarismos...

Saudações...

Rodrigo.

Carlos Henrique disse...

Caro Rodrigo,

Obrigado pela informação que eu omiti em meu "post" sobre o Zamorano. Quanto à transferência do Ronaldo para o Barcelona foi sim, à época, a maior do planeta.

Grande abraço e obrigado pela atenção!

Carlos Henrique