Ivanov (na foto 2 em destaque): ex-campeão europeu que bailava com a bola os pés
Infelizmente esse blog nos últimos dias só vêm trazendo publicações tristes. Primeiro foi com a partida do nosso mestre da crônica Luiz Mendes, depois foi a vez do “Garoto de ouro” húngaro Flórián Albert, e somente nesta semana se foram Ézio e o russo Valentin Ivanov. O futebol, apesar de ano após ano revelar sempre grandes promessas, vai ficando um pouco mais pobre à medida que o tempo vai passando. E no post de hoje vamos então comentar um pouco sobre a trajetória deste último citado, talvez o menos conhecido do público em geral. Mas adianto que tratou-se de um grande ídolo do futebol russo, um dos heróis das últimas conquistas soviéticas nos
Na história do futebol russo e soviético com certeza ouvimos falar do lendário goleiro Lev Yashin (o mais conhecido e o maior jogador da história daquele país), o Aranha Negra, de Rinat Dassaev, outro grande arqueiro, do ex-atacante e hoje treinador Oleg Blokhin, do ponteiro Igor Dobrovolski e mais alguns outros. Entretanto, o atacante e artilheiro Valentin Kozmich Ivanov pode até não ser tão lembrado pelas gerações atuais, mas facilmente entra no rol dos jogadores e treinadores que marcaram época.
Ivanov nasceu em 19 de novembro de 1934 em Moscou, capita russa, e nos seus 14 anos de carreira (entre 1952 e 1966) vestiu a camisa de um único clube, o Torpedo Moscou. Com apenas 18 anos foi admitido no time principal moscovita e lá demonstrou todo seu faro de gol. Mas Ivanov não era apenas um artilheiro prolífico, possuía também uma grande habilidade com a bola nos pés, já que em muitas ocasiões atuava – e bem – como um verdadeiro ponta. Tanto que ganhou o apelido de “Bailarina”. Ao lado de outro ícone dos alvinegros de Moscou, o ponta de lança Eduard Streltsov (que inclusive hoje dá nome ao estádio do Torpedo), formou uma dupla que encantou o público e incluiu os Preto e Brancos entre as maiores forças do futebol soviético nos anos 50 e 60.
Nos primeiros anos como jogador da equipe principal do Torpedo Ivanov demorou um pouco para engrenar como artilheiro marcando apenas 16 gols em três temporadas, contudo sendo importante para a construção do conjunto que iria chegar às suas primeiras glórias. Já na primeira temporada era campeão da Copa da URSS, apesar das poucas vezes em que balançou as redes. Mas a partir de 1956 o atacante finalmente deslanchou e foi peça preponderante nas conquistas dos títulos nacionais de 1960 e 1965 e nos vice-campeonatos de 1957, 1961 e 1964. No total foram 287 jogos e 124 gols marcados, que o tornaram o maior artilheiro da história do clube.
Mas nem só em nível de clube o “Bailarina” iria se destacar. Seu futebol vistoso também foi muito útil à então seleção da União Soviética. Estreou em 1955 no time soviético e um ano depois já colocava no peito a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Melbourne. Após dois anos foi convocado para a sua primeira Copa do Mundo, onde marcou duas vezes, e finalmente em 1960 o seu auge como um dos principais jogadores no êxito da URSS na Eurocopa. Ao lado de mais 5 jogadores foi o goleador máximo do torneio com 2 gols – marcados diante da Iugoslávia na vitória por 3 a 0. Em 1962, curiosamente, a artilharia se repetiria juntamente com outros cinco atletas (entre eles outro que nos deixou recentemente, o húngaro Flórián Albert, e que foi retratado neste blog), mas desta vez pela Copa do Mundo no Chile com 4 gols anotados.
Valentin Ivanov abandonou a seleção em 1965 com 26 gols em 60 jogos – a terceira maior marca da história da equipe - e se aposentou dos gramados um ano depois aos 32 anos. Em 1967 voltou ao Torpedo Moscou para assumir o comando técnico. E o sucesso dentro das quatro linhas com o seu clube de coração se repetiu no banco de reservas em diversas passagens levando-o ao título soviético em 1976 e à conquista da Copa da URSS em três ocasiões. Treinou ainda o Raja Casablanca de Marrocos, o FC Asmaral Moscou (atualmente FC Presnya Moscou) e o outro Torpedo da capital russa, o FC Torpedo-Metallurg (atual FC Torpedo-ZIL Moscou), no fim da carreira de treinador em 2003.
Enquanto não treinava fazia parte do corpo administrativo do Torpedo que o revelou até descobrir estar acometido pelo Mal de Alzheimer, doença que lutou até sua morte no último dia 08 de novembro na capital russa, prestes a completar 77 anos. Valentin Ivanov era casado com a ex-ginasta e igualmente medalhista nas Olimpíadas de 1956 Lidiya Kalinina e era pai do também ex-jogador e ex-árbitro Valentin Ivanov, que ficou mais conhecido por ter apitado o jogo entre Portugal e Holanda pelas oitavas de final da Copa de 2006, em que quatro jogadores foram expulsos (dois de cada seleção) e houve ainda distribuição de 16 cartões amarelos, configurando-se num recorde na história dos mundiais.
Como disse no início dessa publicação o futebol a cada ano ganha novos talentos, novos ídolos e uma nova história se conta a cada revelação surgida dentro dos campos. Entretanto, se o futebol é o que é hoje em dia muito se deve a esses “artistas” do passado, que com seu talento e sua dedicação ao esporte contribuíram sobremaneira para o engrandecimento do espetáculo nos palcos de grama mundo a fora. E Valentin “Bailarina” Ivanov será para sempre uma grande atração para as futuras gerações.
Abaixo, dados e estatísticas do jogador que bailava nos gramados soviéticos.
* Nome: Valentin Kozmich Ivanov (em russo: Валентин Козьмич Иванов)
* Nascimento: 19 de novembro de 1934 em Moscou/URSS
* Posição: atacante/ponta
* Clube como jogador (1): Torpedo Moscou (1952 a 1966)
* Títulos como jogador (6): Copa da URSS (1952 e 1960), Medalha de ouro - Jogos Olímpicos (1956), Campeonato Soviético (1960 e 1965) e Eurocopa (1960)
* Seleção soviética: 59 jogos e 26 gols entre 1955 e 1965
* Clubes como treinador (4): Torpedo Moscou (1967 a 1970, 1973 a 1978, 1980 a 1981, 1994 a 1996 e 1998), Raja Casablanca/MAR (1992 a 1993), FC Asmaral Moscou (1994) e FC Torpedo-Metallurg Moscou (2003)
* Títulos como treinador (4): Copa da URSS (1968, 1972 e 1986) e Campeonato Soviético (1976)
* Conquistas pessoais: Artilheiro da Eurocopa (1960) e Artilheiro da Copa do Mundo (1962)
Fotos 1 e 2: Autores desconhecidos
Foto 3: Leonhard Foeger/Reuters
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