terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O DRAMA DO FUTEBOL DO RIO DE JANEIRO


Futebol do Rio de Janeiro: ladeira a baixo





O futebol do Rio de Janeiro nunca passou por momentos tão turbulentos como nos dias de hoje. Como se já não bastassem os desmandos da turma de Caixa D'Água, ex-dirigente da federação carioca de futebol, e de Eurico Miranda, ex-presidente/"dono" do Vasco da Gama, ainda temos que ver times da tradição do já citado cruzmaltino sofrer as conseqüências do rebaixamento à Série B do Campeonato Brasileiro - diga-se de passagem, opinião minha, bastante merecido não só pela ridícula participação no torneio deste ano, mas pelos anos e anos sendo corroído pelo veneno expurgado por esse nefasto cartola que, até que enfim, foi destronado do cargo pelo bem do futebol brasileiro - e as mazelas administrativas que infestam os gabinetes diretivos das equipes.

Além dos desatinos diretivos de vários presidentes que passaram pela FERJ ao longo dos anos, pessoas como Edmundo Santos Silva (Flamengo), Eurico Miranda (Vasco), Álvaro Barcelos (Fluminense) e Carlos Montenegro (Botafogo) em nada contribuiram para o bom andamento do futebol por aquelas bandas. Conquistaram títulos?! Sim, e daí?! Momentos pontuais que, impreterivelmente, descambaram para crises que pareciam sem fim, como a que passa no momento o time de São Januário. Vejamos.

O Flamengo foi tricampeão carioca na gestão ESS e campeão das extintas Copa Mercosul e Copa dos Campeões do Brasil. O que isso gerou de "lucros e dividendos" para o time?! Nada! O rubro-negro penou nos Campeonatos Brasileiros do fim do século passado e início deste sendo quase sempre ameaçado pelo rebaixamento, pagou o pato com a farsa da parceria com a ISL com uma enormidade de dívidas trabalhistas nascidas de várias contratações estratoféricas, como foi o caso do zagueiro paraguaio Gamarra, além da descoberta de fraudes na gestão do próprio Edmundo Silva. Na atualidade o mais vencedor clube carioca da história trava dura batalha contra as pendências financeiras que o ameaçam até de perder o histórico patrocínio de quase 30 anos com a estatal petrolífera Petrobras em 2009.

No Fluminense o título brasileiro de 1984 não pareceu nada diante dos vexames históricos da década de 90, como foi o vergonhoso caso do "tri-rebaixamento" consecutivo (A para A com virada de mesa em 1996, A para B em 1997 e B para C em 1998) que nos leva à memória aquele patético ato do então presidente Álvaro Barcelos de estourar uma champagne em comemoração à permanência do time na elite do futebol brasileiro, mesmo que por vias que atentavam contra a moral do esporte. Sem falar que até vitrais da sede das Laranjeiras foram ameaçados de penhora na mesma década a fim de saldar dívidas com companhias de água e energia elétrica. Para piorar a volta à primeira divisão foi do modo mais podre possível em 2000: pela janela, sem disputar a Série B, graças a criação da Copa João Havelange. O ano de 2008 terminou para os tricolores de forma melancólica, com o vice-campeonato da Libertadores para o modestíssimo time equatoriano da LDU, e a quase queda para a Segundona de 2009.

Já o Botafogo parece viver eternamente em crise - psicológica e financeira. Depois de 1995, com o polêmico título brasileiro dos gols irregulares sobre o Santos, o time nunca mais se encontrou. Salvo os campeonatos cariocas, o tradicional alvinegro nunca figurou entre os favoritos à conquista de um título de expressão nacional. Foi vice-campeão da Copa do Brasil em 1999, quando perdeu a taça em pleno Maracanã diante do Juventude/RS, teve sérios problemas de ordem financeira e de pessoal durante a gestão Mauro Ney Palmeiro, no início desse século, quase foi rebaixado em 1999 no Campeonato Brasileiro (foi salvo por um regulamento estúpido de média de pontuações anteriores já tratado aqui neste blog e pela martelada do STJD em favor dos botafoguenses no caso Sandro Hiroshi, do São Paulo, que, pasmem, reverteu os pontos da vitória paulistana por 6 a 1 para os cariocas e afundou o Gama) e finalmente caiu em 2002 para a Segundona, retornando logo em seguida. Vai entrar 2009 quase sem prespectivas de conquistas, com os cofres vazios, com um time esfacelado e possíveis futuras dores de cabeça na Justiça do Trabalho pelos freqüentes atrasos nos salários dos atletas.

Por fim o Vasco, decantado como o time pioneiro na integração negros e brancos no futebol brasileiro, que está afundado na pior crise dos seus 110 anos de história vencedora. Anos e anos arrebatando antipatia por parte das torcidas rivais pura e simplesmente pelas ações do intragável Eurico Miranda, uma das piores (se não a pior) figura que aportou no mundo esportivo brasileiro em todos os tempos. Suas ações sempre suspeitas no comando da nau vascaína durante as duas últimas décadas tragaram todas as forças do clube. Do grande campeão brasileiro e sulamericano do fim da década de 90 e início de século 21 a um time relegado a coadjuvante em campeonatos, afundado em dívidas, sempre envolvido em polêmicas com jogadores - como Edmundo e Romário -, onde os sócios já falecidos votavam nas eleições para a presidência (havia votantes nascidos no século 19 em um pleito recente que reelegeu Eurico Miranda) e o maior ídolo da história da equipe - o atual presidente Roberto Dinamite - já foi até convidado a se retirar das dependências do estádio de São Januário, num ato abominável para com o símbolo maior do Vasco. Dia 07 de dezembro de 2008 foi o pior dia da história vascaína, que culminou com seu descenso à segunda divisão nacional.

Ainda poderia falar de também tradicionais clubes como o Bangu, que já foi vice-campeão brasileiro, e o América, sempre presente nas decisões estaduais até meados da década de 80 e com cadeira cativa nos Campeonatos Brasileiros. Entretanto ambos já não fazem mais parte do cenário nacional há anos e estão fadados ao segundo escalão regional na atualidade. De todos esses clubes apenas o Flamengo hoje ostenta a "honra" de ser o único grande clube carioca a não ter sido rebaixado na competição nacional. Juntos, rubro-negros, tricolores, botafoguenses e vascaínos somam 11 títulos nacionais (sempre considerei conquistas dentro do campo, não com canetadas e bizarrices de entidades esportivas, como em 1987), duas Libertadores e 1 título mundial com o Flamengo, em 1981, e devem, a partir de agora, se moblizarem para tentar reverter esse quadro. Nos últimos 8 anos, nada mais, nada menos que 6 trofeus brasileiros foram para as mãos de paulistas (Santos em 2002 e 2004, Corinthians em 2005 e São Paulo em 2006/07/08).

Tá na hora da cúpula dirigente do futebol do Rio de Janeiro abrir os olhos para um futuro que pode ser negro e tentar retomar o caminho das glórias dos tempos de Zico, Dinamite, Rivelino e Garrincha. Pois só assim se conquista a admiração e a paixão da massa brasileira aficcionada pelo esporte paixão nacional. Nem só de nome vive um clube de futebol.


Nota do editor: vale salientar que boa parte deste texto trata-se de opinião pessoal e que os fatos são baseados em notícias divulgadas ao longo dos anos nos diversos meios de comunicação do país.



Foto 1: Blog ArquibarFC
Foto 2: Corderovirtual

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