Serginho (1), Puerta (2) e Matsuda (3): mais vítimas do futebol "moderno"
Há alguns anos temos visto sendo noticiado diversos problemas sérios de saúde e até mesmo mortes de jogadores de futebol em pleno exercício da profissão. Em 2007 comentou-se aqui no blog sobre vários falecimentos ocorridos dentro dos gramados desde a década de 70, pontuando a respeito das causas do aumento de óbitos entre os atletas.
Ontem (02/08) o futebol “moderno” quase fez mais uma vítima fatal: o lateral esquerdo japonês Naoki Matsuda, de 34 anos, sofreu um colapso cardíaco enquanto treinava com sua equipe, o Matsumoto Yamaga, foi socorrido ainda em campo e levado ao hospital em estado muito grave. Até o fechamento desta publicação (03/08/2011 às 18h30) seu quadro clínico não havia se alterado e o ex-defensor da seleção japonesa continua internado em situação crítica respirando com a ajuda de aparelhos. EDITADO: Matsuda faleceu na madrugada desta quinta-feira (horário de Brasília), dia 04/08, em decorrência de uma parada cardíaca.
Naoki Matsuda é natural de Kiryū, cidade que fica nos arredores da capital Tóquio, e nascido a 14 de março de 1977. Com 15 anos ingressou nas bases do Maebashi Ikuei High School e logo o Yokohama Marinos, time profissional que disputa a J-League, viu no garoto um promissor lateral esquerdo. Em 1995 Matsuda estreava pelos Marinos, onde permaneceu até 2010. Na atual temporada transferiu-se para Matsumoto Yamaga, que atua pela terceira divisão japonesa.
Pela seleção nipônica o defensor foi convocado para as Olimpíadas de Atlanta em 1996 e para a Copa das Confederações de 2001 no Japão e para o Mundial de 2002, em que seu país co-sediou com a Coréia do Sul. Ao todo foram 40 jogos entre 2000 e 2005 com o selecionado principal e um único gol, marcado diante do Cazaquistão em um amistoso realizado em 2005 – o quarto da goleada de sua equipe por 5 a 0 em Yokohama.
Matsuda foi campeão japonês três vezes com o Yokohama Marinos, além de também ter ajudado o clube a levantar o troféu da Nabisco Cup (a Copa do Japão) em uma oportunidade. Já em nível internacional colecionou dois títulos da Copa da Ásia com a seleção japonesa.
Em quase 20 anos de futebol, Naoki Matsuda não tinha apresentado em seu histórico nenhum problema de ordem cardíaca ou qualquer outro que pudesse colocar em risco sua saúde durante sua prática esportiva.
Refazendo os comentários do post em questão, não é de hoje que a prática do futebol vem causando mortes em toda parte do planeta. Em mais de 90% dos casos são problemas cardíacos os causadores dos falecimentos. Ao longo do tempo o futebol foi se tornando um esporte mais físico que técnico, o que tem sido um fator preponderante para tantas cenas tristes como temos presenciado ao vivo, pela TV ou pelo noticiário.
No passado um jogador chegava a correr, em média, 4 quilômetros durante os 90 minutos, atualmente, esse número chega a quase 12. É visível que antes tudo se resolvia na habilidade de um Pelé, de um Garrincha, de um Puskas, de um George Best, entre tantos outros. Hoje o atleta praticamente resolve tudo na força e na resistência. Quem dá o maior encontrão ou o maior pique tem mais chances de vencer. De acordo com estudo da Sociedade Americana de Medicina do Esporte, morrem em média cerca de 30 competidores por ano nas mais diversas modalidades em todo o mundo. Porém, é bom salientar que o esporte não mata. O que mata é a doença, não o exercício. A prática deste, no máximo, serve como gatilho para um problema cardíaco, mesmo que pequeno, não tratado de forma correta. Uma pessoa pode viver tranqüilamente com uma arritmia cardíaca se tiver uma atividade compatível com a capacidade de seu coração. Por isso, é imprescindível que todo atleta, não só do futebol, faça um check-up anual com o médico.
É público e notório que quando se é diagnosticado um caso de problema cardíaco com antecedência a integridade física do jogador é mantida. Em muitos casos o atleta até segue sua vida esportiva com treinamentos específicos às suas capacidades. No Brasil por exemplo, nos últimos anos, alguns jogadores conseguiram superar os problemas que tiveram em campo. O ex-jogador Bebeto Campos, então no Paysandu, teve diagnosticado miocardiopatia (engrossamento de um músculo do coração) depois de uma bateria de exames nos jogadores e foi imediatamente afastado do grupo por precaução. O também aposentado atacante Washington, havia sido contratado pelo Atlético/PR junto à Ponte Preta/SP em 2003 e teve constatado um problema cardíaco durante os exames médicos. Necessitou passar por uma cirurgia e foi ameaçado de ter de abandonar o futebol. Com o tratamento correto, eficaz e preventivo, aliado a uma carga de exercícios concebível para sua condição física, o artilheiro voltou a jogar e se tornou o maior goleador da história do Campeonato Brasileiro quando, em 2004, marcou 34 gols e ajudou o clube paranaense a conquistar o título.
Mas nem só a prevenção, em alguns casos, consegue salvar uma vida. Apesar de nada constar de errado em seus exames, o ex-meia Diogo do Cruzeiro/MG sofreu um infarto também neste ano enquanto treinava na Toca da Raposa. Um desfibrilador estava à beira do campo e salvou a vida do atleta, que teve que encerrar sua carreira precocemente. Ou seja, a estrutura médica também conta muito nesses casos.
Na história recente do futebol há registro de 56 mortes no futebol, cuja causa principal foi a intensa atividade esportiva. Talvez com todos os cuidados necessários e as condições necessárias para se realizar um pronto atendimento muitas vidas poderiam ter sido mantidas.
Abaixo, os casos mais conhecidos entre 1973 e 2007.
1973: Pedro Berruezo (Sevilla/ESP) - teve um infarto enquanto jogava.
1977: Renato Curi (Perugia/ITA) - mal súbito enquanto jogava. O estádio do clube hoje leva seu nome como homenagem.
1980: Omar Sahnoun (Bordeaux/FRA) - não participou da Copa de 1978 por problemas cardíacos. Preferiu seguir jogando e teve um infarto durante treinamento.
1982: Carlos Alberto Barbosa (Sport/PE) - parada cardíaca durante jogo do Campeonato Pernambucano.
1983: Victor Trossero (River Plate/ARG) – atacante argentino de 30 anos que foi acometido de um aneurisma cerebral no vestiário após o jogo de seu time contra o Rosário Central.
1985: Beto (Moto Clube/MA) - parada cardíaca enquanto jogava.
1989: Samuel Okwaraji (Ulm/ALE) - infarto enquanto defendia a seleção da Nigéria nas Eliminatórias da Copa de 1990.
1992: Vicente Vásquez (Chacarita Garuhapé/ARG) - sofreu um infarto após defender pênalti com o peito.
1993: Michael Klein (Bayer Uerdingen/ALE) - Três anos após defender a Romênia na Copa do Mundo, sofreu mal súbito durante um treinamento de seu clube.
1995: Augusto (Boom/BEL) - jogador brasileiro que teve a aorta rompida após choque com adversário.
1997: Shamo Quaye (Ümea/SUE) - ganês medalha de bronza nas Olimpíadas de 1992, sofreu um infarto em treinamento .
1998: Robbie James (Llanelli/GAL) - tinha 40 anos de idade, era jogador-técnico e foi acometido de um mal súbito em treinamento de sua equipe.
1999: Stefan Vrabioru (Astra Ploiesti/ROM) - Autópsia revelou que o jogador utilizava esteróides anabolizantes, que contribuiu para o infarto que sofrera.
2000: Eri Irianto (Persebaya/INA) - o indonésio tinha respiração ofegante enquanto atuava em uma partida pelo seu clube. Faleceu horas depois no hospital após uma parada cardiorrespiratória.
2001: Vladimir Dimitrijevic (Estrela Vermelha/SER) - sofreu uma parada cardíaca
2003: Marc-Vivién Foé (Manchester City/ING) e Max (Botafogo/SP) – o primeiro teve um mal súbito em campo enquanto defendia Camarões durante a Copa das Confederações, enquanto o segundo sofreu um ataque cardíaco durante um treino coletivo de sua equipe.
2004: Serginho (São Caetano/SP), Miklos Fehér (Benfica/POR) e Cristiano Júnior (Dempo/IND) - paradas cardíacas enquanto defendiam seus clubes pelos respectivos campeonatos nacionais (o último após um choque com o goleiro adversário).
2005: Alexsandro (Ferroviária/SP) - infarto após exames médicos de rotina.
2006: Hélder (América/RN), Rogério Oliveira (Skendija Tetovo/MAC) e Alex Sandro (Matonense/SP) - os dois primeiros foram encontrados mortos em suas residências, já o último sofreu um infarto enquanto jogava uma pelada com amigos. Sua tia faleceu quando recebeu a notícia.
2007: Cléber (Bahia/BA) e António Puerta (Sevilla/ESP) - o primeiro sofreu AVC após jogo de sua equipe diante do ABC/RN, enquanto o segundo passou mal também em campo e faleceu 3 dias depois por problemas cardíacos no hospital.
* Adaptado do post de 22/12/2007
Foto 1: UOL Esportes
Foto 2: Daily Telegraph
Foto 3: ESPN Soccernet
Nenhum comentário:
Postar um comentário