Gyula Grosics: remanescente dos "Magníficos magiares" de 54
Hoje, dia 24 de janeiro, tive a imensa felicidade de ouvir ao vivo uma entrevista com uma lenda viva do nosso futebol pelo rádio. Sintonizado na rádio Jovem Pan de São Paulo pela internet acompanhava o programa "No mundo da bola", apresentado pelo jornalista Flávio Prado, quando foi anunciada uma entrevista ultra especial com o ex-goleiro húngaro Gyula Grosics, um dos ícones da brilhante seleção húngara da Copa de 1954. Estava em contato com meu grande amigo André José Adler (foto 2 de barba branca com Grosics), ex-narrador da ESPN Internacional e o "papa" do futebol americano no Brasil, quando ele comentou comigo sobre essa conversa com o ex-atleta. André, que vive atualmente em Budapeste na Hungria, foi o intérprete desse bate-papo com Grosics. E para mim, um grande entusiasta da história do futebol, seria uma alegria ímpar conhecer um pouco mais sobre os grandes feitos desse magnífico jogador.
Gyula Grosics foi um jogador que mudou completamente o estilo de atuar dos goleiros. Ao lado de outro mito das traves, o russo Lev Yashin, foi um dos pioneiros nas saídas do gol para buscar as bolas alçadas à sua área. Rogério Ceni, René Higuita, Chilavert, entre tantos outros têm em comum um pouco do estilo meio "líbero" impetrado pelo grande arqueiro húngaro dos anos 50 e 60 - apesar de nenhum deles ter a grandeza de sua história como jogador. Hoje, quase 55 anos depois, ele é o único remanescente do Aranycsapat (Time de ouro em húngaro) juntamente com Jenő Buzánszky.
Na entrevista Grosics citou os grandes momentos vividos em sua brilhante carreira futebolística, como a conquista da medalha olímpica de 1952, as apresentações inesquecíveis dos húngaros comandado por Puskas no Mundial de 1954 e, inclusive, uma excursão feita com o seu então clube, o Budapest Honvéd, em 1957 pelo Brasil quando enfrentou Flamengo, Botafogo, Combinado Carioca e o São Paulo - fato já comentado em um post recente. Além disso declarou ter sido procurado pela diretoria rubro-negra à época chegando a assinar um pré-contrato para atuar no Rio de Janeiro. Entretanto problemas pessoais o impediu de conceder essa honra ao futebol do nosso país.
Também foi questionado a respeito do grande responsável pela revolução proporcionada pela seleção da Hungria dos anos 50, que trouxe a inovação do esquema 4-2-4 para o futebol (até então quase que o mundo inteiro seguia o padrão britânico de jogo) e do aquecimento antes de cada partida. Dessa forma os jogadores entravam muito mais dispostos no início do confronto e impreterivelmente marcavam gols com menos de 10 minutos de bola rolando, como se pode perceber nas partidas da Copa do Mundo de 1954. O ex-atacante Puskas e o ex-treinador Sebes, segundo Grosics, foram os pilares das grandes apresentações magiares naqueles tempos, mas muito bem assessorados por Gyula Mandi, então auxiliar técnico do selecionado, que chegou a treinar o América/RJ e a seleção de Israel alguns anos depois. Poucos sabem, mas a seleção da Hungria teve forte influência na geração vencedora do Brasil de 1958 e 1962, tendo em vista, como já citado, o revolucionário esquema tático magiar utilizado em 54 aliado à fabulosa técnica de jogadores como Pelé, Garrincha, Didi, entre outros.
Flávio Prado até fez uma pergunta óbvia ao vice-campeão mundial, quando pediu que citasse qual o nome, excetuando-se Puskas, que ele poderia comparar com o ex-atacante. Porém vale lembrar que nem todo mundo sabe apreciar o futebol em todos os seus aspectos: habilidade, objetividade, coletividade e profissionalismo, pois ainda tem que consiga chegar à sandice de comparar Maradona com o nosso tricampeão Pelé (opinião pessoal). Enfim, cada um com seu gosto - bom ou duvidoso. Bem, como era de se esperar Grosics disse que Pelé era, ao lado do "Major Galopante", o maior nome que o futebol já produziu em todos os tempos. Inclusive tive um amigo suíço aqui em Natal, o saudoso senhor Marx William, que presenciou a Copa do Mundo em sua terra nativa e me disse categoricamente certa vez que Férenc Puskas foi o maior jogador da história do futebol Europeu e que foi apenas superado pelo brasileiro por não possuir uma perna direita tão fabulosa como a sua esquerda. Não duvidei, pois os números não mentem e estão também aqui publicados. Ainda na entrevista o ex-goleiro também citou Eusébio, ex-atacante português que fez época na década de 60, mas num patamar um pouco inferior aos dois.
E sobre a trágica final da Copa de 54 para os húngaros? Será que o arqueiro conseguia entender o que havia ocorrido depois de enfiarem 8 a 3 nos alemães na primeira fase do mesmo torneio e depois perder de virada na finalíssima por 3 a 2? Grosics disse que era uma pergunta difícil de responder até hoje, que ainda lhe faltam palavras para explicar mais de meio século depois, mas que um conjunto de diversos fatores foram decisivos para a perda do título. Contudo tem certeza que não foram os alemães que venceram a Copa e sim os húngaros que a perderam. Para quem não lembra ou não sabe, alguns fatos que contribuiram para a derrota da Hungria foram a contusão de seu grande astro Férenc Puskas, o Wankdorf Stadium em Berna bastante encharcado - que atrapalhava bastante a velocidade e o toque de bola da equipe do leste europeu - e, lógico, a rígida disciplina tática da equipe germânica. Porém quem acompanhou, como meu amigo Sr. William, percebeu a imensa diferença técnica entre ambas as equipes. Até questionou-me certo dia se o futebol burocrático, feio e de resultados não poderia ter surgido dessa partida. Faz sentido...
Por fim, Grosics comentou sobre a "Batalha de Berna", o jogo que ficou conhecido pela confusão envolvendo Brasil e Hungria naquela Copa, que ele mesmo fez questão de frisar que foi um mal entendido entre brasileiros e húngaros. Para quem quem não se recorda essa partida, que foi realizada em Berna no dia 27 de junho de 1954, terminou 4 a 2 para o time de Grosics e ficou conhecida com essa alcunha devido a uma confusão entre o zagueiro Pinheiro e Puskas logo após o apito final quando o então médico brasileiro Newton Paes pegou uma garrafa de vidro e a arremessou contra o húngaro. Entretanto errou o alvo e o objeto acertou a cabeça de Pinheiro, que virou-se e ouviu logo acusarem Puskas pelo fato. Daí teve início a uma briga entre os jogadores de ambos os lados.
Ao se despedir de todos nós brasileiro, o medalhista olímpico de 1952 saudou o futebol brasileiro e disse se sentir honrado por poder participar dessa entrevista. Porém ele não sabe que honrados somos todos nós, apreciadores do bom futebol, com sua imensa contribuição para o esporte ao longo dos tempos. Para mim, mero espectador, foi uma imensa honra ouvir as palavras desse grande ícone do mundo da bola.
No próximo post trarei os detalhes da carreira de Guyla Grosics. E os principais momentos da entrevista você ouve clicando aqui.
Foto 1: Magyar Labdarúgó Szövetség (Site da Federação Húngara de Futebol)
Foto 2: László Ligeti
Gyula Grosics foi um jogador que mudou completamente o estilo de atuar dos goleiros. Ao lado de outro mito das traves, o russo Lev Yashin, foi um dos pioneiros nas saídas do gol para buscar as bolas alçadas à sua área. Rogério Ceni, René Higuita, Chilavert, entre tantos outros têm em comum um pouco do estilo meio "líbero" impetrado pelo grande arqueiro húngaro dos anos 50 e 60 - apesar de nenhum deles ter a grandeza de sua história como jogador. Hoje, quase 55 anos depois, ele é o único remanescente do Aranycsapat (Time de ouro em húngaro) juntamente com Jenő Buzánszky.
Na entrevista Grosics citou os grandes momentos vividos em sua brilhante carreira futebolística, como a conquista da medalha olímpica de 1952, as apresentações inesquecíveis dos húngaros comandado por Puskas no Mundial de 1954 e, inclusive, uma excursão feita com o seu então clube, o Budapest Honvéd, em 1957 pelo Brasil quando enfrentou Flamengo, Botafogo, Combinado Carioca e o São Paulo - fato já comentado em um post recente. Além disso declarou ter sido procurado pela diretoria rubro-negra à época chegando a assinar um pré-contrato para atuar no Rio de Janeiro. Entretanto problemas pessoais o impediu de conceder essa honra ao futebol do nosso país.
Também foi questionado a respeito do grande responsável pela revolução proporcionada pela seleção da Hungria dos anos 50, que trouxe a inovação do esquema 4-2-4 para o futebol (até então quase que o mundo inteiro seguia o padrão britânico de jogo) e do aquecimento antes de cada partida. Dessa forma os jogadores entravam muito mais dispostos no início do confronto e impreterivelmente marcavam gols com menos de 10 minutos de bola rolando, como se pode perceber nas partidas da Copa do Mundo de 1954. O ex-atacante Puskas e o ex-treinador Sebes, segundo Grosics, foram os pilares das grandes apresentações magiares naqueles tempos, mas muito bem assessorados por Gyula Mandi, então auxiliar técnico do selecionado, que chegou a treinar o América/RJ e a seleção de Israel alguns anos depois. Poucos sabem, mas a seleção da Hungria teve forte influência na geração vencedora do Brasil de 1958 e 1962, tendo em vista, como já citado, o revolucionário esquema tático magiar utilizado em 54 aliado à fabulosa técnica de jogadores como Pelé, Garrincha, Didi, entre outros.
Flávio Prado até fez uma pergunta óbvia ao vice-campeão mundial, quando pediu que citasse qual o nome, excetuando-se Puskas, que ele poderia comparar com o ex-atacante. Porém vale lembrar que nem todo mundo sabe apreciar o futebol em todos os seus aspectos: habilidade, objetividade, coletividade e profissionalismo, pois ainda tem que consiga chegar à sandice de comparar Maradona com o nosso tricampeão Pelé (opinião pessoal). Enfim, cada um com seu gosto - bom ou duvidoso. Bem, como era de se esperar Grosics disse que Pelé era, ao lado do "Major Galopante", o maior nome que o futebol já produziu em todos os tempos. Inclusive tive um amigo suíço aqui em Natal, o saudoso senhor Marx William, que presenciou a Copa do Mundo em sua terra nativa e me disse categoricamente certa vez que Férenc Puskas foi o maior jogador da história do futebol Europeu e que foi apenas superado pelo brasileiro por não possuir uma perna direita tão fabulosa como a sua esquerda. Não duvidei, pois os números não mentem e estão também aqui publicados. Ainda na entrevista o ex-goleiro também citou Eusébio, ex-atacante português que fez época na década de 60, mas num patamar um pouco inferior aos dois.
E sobre a trágica final da Copa de 54 para os húngaros? Será que o arqueiro conseguia entender o que havia ocorrido depois de enfiarem 8 a 3 nos alemães na primeira fase do mesmo torneio e depois perder de virada na finalíssima por 3 a 2? Grosics disse que era uma pergunta difícil de responder até hoje, que ainda lhe faltam palavras para explicar mais de meio século depois, mas que um conjunto de diversos fatores foram decisivos para a perda do título. Contudo tem certeza que não foram os alemães que venceram a Copa e sim os húngaros que a perderam. Para quem não lembra ou não sabe, alguns fatos que contribuiram para a derrota da Hungria foram a contusão de seu grande astro Férenc Puskas, o Wankdorf Stadium em Berna bastante encharcado - que atrapalhava bastante a velocidade e o toque de bola da equipe do leste europeu - e, lógico, a rígida disciplina tática da equipe germânica. Porém quem acompanhou, como meu amigo Sr. William, percebeu a imensa diferença técnica entre ambas as equipes. Até questionou-me certo dia se o futebol burocrático, feio e de resultados não poderia ter surgido dessa partida. Faz sentido...
Por fim, Grosics comentou sobre a "Batalha de Berna", o jogo que ficou conhecido pela confusão envolvendo Brasil e Hungria naquela Copa, que ele mesmo fez questão de frisar que foi um mal entendido entre brasileiros e húngaros. Para quem quem não se recorda essa partida, que foi realizada em Berna no dia 27 de junho de 1954, terminou 4 a 2 para o time de Grosics e ficou conhecida com essa alcunha devido a uma confusão entre o zagueiro Pinheiro e Puskas logo após o apito final quando o então médico brasileiro Newton Paes pegou uma garrafa de vidro e a arremessou contra o húngaro. Entretanto errou o alvo e o objeto acertou a cabeça de Pinheiro, que virou-se e ouviu logo acusarem Puskas pelo fato. Daí teve início a uma briga entre os jogadores de ambos os lados.
Ao se despedir de todos nós brasileiro, o medalhista olímpico de 1952 saudou o futebol brasileiro e disse se sentir honrado por poder participar dessa entrevista. Porém ele não sabe que honrados somos todos nós, apreciadores do bom futebol, com sua imensa contribuição para o esporte ao longo dos tempos. Para mim, mero espectador, foi uma imensa honra ouvir as palavras desse grande ícone do mundo da bola.
No próximo post trarei os detalhes da carreira de Guyla Grosics. E os principais momentos da entrevista você ouve clicando aqui.
Foto 1: Magyar Labdarúgó Szövetség (Site da Federação Húngara de Futebol)
Foto 2: László Ligeti
Um comentário:
Gyula Grosics, o Pantera Negra, goleiraço do Hónved e da grande seleção da Hungria das décadas de 1940 e 50. Realmente foi um pecado a derrota para a Alemnha na Copa de 54. Em compensação ele deve lembrar muito bem dos 6 a 3 sobre os ingleses dentro de Wembley em 53.
Parabéns pelo blog!Gostei muito!
Tem um selo pra vc lá no meu futehistoria.blogspot.com
Abraços.
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